SEM #12
Os cuidados intensivos pediátricos surpreendem. Temos os milagres dos prematuros que insistem em viver, apesar de não terem entrado com o pé direito neste mundo. Impressionam-nos com a sua força e coragem. E depois há os outros casos, os que não deviam acontecer.
O menino nasceu bem. Criança de termo, saudável, o brilho orgulhoso nos olhos dos pais. Correra tudo bem. Ao terceiro dia, enquanto bebia o seu leite, enganou-se no caminho e aspirou o liquido para os pulmões. Enquanto o tratamento tardava em chegar, o oxigénio custava a entrar e o sangue não o conseguia transportar em quantidade suficiente até ao cerebro, orgão tão frágil às diferenças de concentrações dos seus combustíveis. A recuperação demorou tempo demais. A escassez em oxigénio sacrificou demasiadas funções cerebrais.
O bebé tem três meses. Entubado, não se mexe, ao contrário dos pequenos prematuros que exigem a sua vida. Está paralisado. Respira, abre os olhos, vive, mas não se mexe. Não há muito mais a fazer, o cérebro não se recupera assim, é demasiado frágil. A enfermeira cuida dele, veste-o, um braço morto de cada vez, e arruma-o no meio dos lençois. Por fim, coloca um peluche por baixo do braço do menino. Como se ele o tivesse ido buscar e lhe desse alento. O braço pende sobre o boneco e a imagem é natural.
O peito pesa. Não é suposto isto acontecer. O bebé tem de abraçar o peluche.
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