domingo, agosto 24, 2003

Sou uma adolescente. E, como tal, estou a crescer, a aprender a viver. Assim como os meus colegas e amigos. Assim como os desconhecidos da minha idade. E todos nós temos uma ligeira certeza que o mundo nos anda a enganar. Parece que nos mostraram o mundo cor-de-rosa, um mundo perfeito em que basta querer para ter (coisas boas claro...). O Bem vencerá sempre e o Mal será castigado. É assim que nos educam, nesta base, para que possamos ser justos e bons, para que possamos ser honestos e felizes. E agora, que chegamos à adolescência, dão-nos a oportunidade de ver as coisas com os nossos olhos. É quando a mente também se desenvolve mais, quando nos procuramos encontrar. E quando olhamos de frente para o mundo, vemos que se calhar não é assim tão brilhante, que já não há principes e princesas, cavaleiros e super-herois. Vemos que não vivemos num conto de fadas. E, por vezes, esse choque com a realidade pode ser demasiado brutal.
E então, parece que nada é realmente importante. Tudo de bom era uma mentira e tudo o que poderia valer a pena parece estar escondido. Tudo está contra nós, tudo já parece organizado, estruturado, calendarizado. Não podemos variar nada, temos que nos submeter ao automatismo da vida. Tornarmo-nos "robots". E essa falta de originalidade, falta de alternativas pode tornar-se assustadora para um criança em crescimento que descobre que a sua preciosa imaginação não é necessária. Não merece a pena aqui estarmos, pensamos, porque o mundo não nos dá espaço para a nossa identidade, logo, não precisa de nós, precisa de alguém que deseje ser manipulado e controlado por um estado maior. É essa a nossa ideia de mundo. É essa a ideia que nos é transmitida na nossa idade. Não valemos muito, não podemos mudar o que está mal. Então, o que estamos nós aqui a fazer???
Isto levaria ao suicídio... Não há razões para ficar...
Mas eu gostaria de dar uma vez mais uma palavrinha aos jovens da minha idade que pensam também assim... Que idade temos?? ... Pois é, não é assim tanto. É, provavelmente, um quinto da vida de alguém saudável. E sabemos nós o que é o mundo? Não estou a dizer que não temos razão mas... há muito muito mais para além do que acabámos de descobrir. Se voltássemos atrás, só um bocadinho, sonhar outra vez com o nosso cor-de-rosa, talvez até se encontre algumas parecenças. E a vida traz algumas respostas, alguma liberdade, alguma identidade. Se soubermos procurar. Há tanto para descobrir...
Assusta a passagem de criança para adulto. É por isso que se chama adolescência. Porque a passagem de mentalidades não é fácil. É como estar no escuro e, de repente, passar para a luz. Os nossos olhos ardem, não conseguem ver mas podem saber que aquilo está a prejudicar os nossos olhos. Mas, com o tempo, a luz já não nos fere tanto e aos poucos vamos vendo melhor o que nos rodeia. E, chega uma altura em que a luz já nos parecerá melhor que o escuro onde estavamos. Apesar de, por vezes, continuar a ferir os olhos.
Eu só tenho 15 anos... Não é nada. Quem me dá o direito de dar estas lições de vida se só tenho 15 anos?! Ninguém. Têm razão, não percebo muito disto. Mas também, quem é que percebe. Eu só queria que os jovens da minha idade, e mesmo mais velhos, mais novos, os que pensem nisto tudo, que não desistam do nosso mundo, por mais podre que pareça. Porque podemos sempre encontrar um bocadinho que se aproveite. E esse lugar está à nossa espera, não podemos deixar de acreditar nele. Fiz-me entender?!......

terça-feira, agosto 19, 2003

Gosto muito de Filosofia. Nota-se... Gosto de pensar em questões que jamais poderei saber a resposta e que, muitas vezes, também preferia não saber. Gosto desses pensamentos que vão para lá do óbvio. Perguntas sobre o infinito, a razão, o sentido da vida, a morte. Mas, às vezes invejo quem não pensa nisso.
Tenho alturas que preferia viver como todos vivem, com as preocupações do costume. Pensar apenas no meu estudo para que o meu futuro possa ser de sucesso e sem problemas maiores. Vou apenas estar com os meus amigos sem pensar no fim, sem pensar na morte e sem sequer acreditar que vou morrer um dia e que tudo acabará. Vou viver sem preocupações idiotas.
Pois bem, tentarei. Mas as perguntas, os pensamentos perseguem-me. E, de certeza, não é só a mim. Tenho medo das respostas, não sei porquê. Há quem diga que depois de morto sabemos as respostas a todas as perguntas. Não será informação a mais?!
A sabedoria é considerada um privilégio. É bom saber. É bom aprender. Mas há algo de perigoso na sabedoria. Fica gravada na nossa memória, não podemos simplesmente apagá-la. Somos um computador incompleto, falta-nos a tecla "Delete". Vou fazer uma referência ao Matrix (peço desculpa a quem não viu ... ). O Neo tem a hipótese de escolher se quer saber a verdade ou permanecer na sua vida pacata. Ele não faz ideia o que é efectivamente o Matrix. E arrisca pela verdade. Depois de a conhecer, não quer acreditar, não a quer enfrentar. A sua vida sem esse conhecimento era muito melhor. Mas ele escolheu saber. E, por muito medo que tenha de viver neste novo mundo, já não poderá voltar atrás. Poderia ligar-se ao Matrix e viver lá, mas saberia agora que tudo aquilo não passava de uma ilusão. É por isso compreensível o acto de Cypher ao negociar com os agentes o seu esquecimento da verdade. Ele não aguentou a verdade e preferiu voltar a viver no Matrix e nunca mais ouvir falar disso.
Vou dar outro exemplo no mundo do cinema. O filme "Memento". Um homem com uma doença rara. Não tem memória, esquece-se de tudo passado uns minutos de isso acontecer. Cada vez que ele acorda não se lembra de nada. Por isso, escreve em fotografias ou em tatuagens o que ele tem de saber. Tem um objectivo: matar o assassino da sua mulher. Tem isso tatuado no seu peito, é por isso que ele sabe. Mas no fim, percebemos que ele mente a si próprio para ter uma razão de vida, um objectivo. Podem dar-lhe informações vitais e que ele anseia saber mas que, se ele não anotar, nunca mais se irá lembrar e viverá sempre à procura dessa informação. E vai vivendo com um objectivo que, se calhar até já foi concretizado. Não tem memória. Apaga as informações indesejaveis. Não se lembra de nada. Tem cinco minutos de memória. Seria tão bom poder apagar algumas recordações...
Mas no nosso mundo isso não é possível. Não podemos apagar memórias. Nem conhecimento. É por isso que ele é perigoso. Podemos ter sede de conhecimento mas, a partir do momento que nos dão as respostas às nossas perguntas, por mais indesejadas(agora que já se sabe a verdade) que sejam, não poderão ser esquecidas. Não podemos voltar atrás.
E isso assusta-me. É compreensível, não será? Existem questões de vida que nos serão respondidas pelo tempo. E, se calhar, eu não vou querer saber. Não quero essas questões, não me quero preocupar com elas! Não quero as respostas! Quando morrer,não quero saber tudo... É uma grande responsabilidade, e uma grande dor de cabeça.
É uma das razões para eu às vezes preferir não existir. Mas eu existirei sempre... E as respostas perseguem-me. E, mesmo que eu me faça desaparecer, essas respostas serão dadas nesse ultimo instante. Porquê? É um castigo ... Pela curiosidade humana. Ah, maldita razão, quero o meu instinto e apenas o meu instinto de volta!!...
Sou tão complicada...

sexta-feira, agosto 15, 2003

Hoje só venho aqui para me rir. É por causa da América que ficou às escuras. Acho piada pronto... Um super potência, às escuras. Falhou tudo. Que chatice! Foi só uma coisinha de nada e, puf, foi-se tudo. O caos nas ruas de Nova Iorque (para não falar nas outras cidades...). E é assim que, mais uma vez, os EUA mostram a sua fragilidade.
Será só fachada? Provavelmente... Nada de geradores alternativos. Apenas acusações mutuas entre Canada e America. E o que mais me impressionou foram os americanos. Positivamente, para variar. Vi-os na rua, a cantar, dançar, fazer música, a celebrar este dia diferente. A celebrarem a escuridão! Nada de pânico. Felizes a dormirem na rua. A passearem em frente dos carros bloqueados. Positivo porque não se mostraram envergonhados com o que se passava. A tentar dar explicações para uma super hiper mega potência deixar de funcionar assim de repente. Estavam a divertir-se. Ainda bem =).
E pronto, era só isto que queria dizer desta vez. Rir-me do trambolhão. É como no cinema. Grandes imagens de fundo mas não passam de cenários montados...

terça-feira, agosto 12, 2003

Hoje estou um bocado péssimista... Também não é muito difícil...
Gostava de salvar os que estão perdidos, os desencontrados, os desesperançados, despedaçados. Ás vezes tenho a ideia que consigo. Com algumas palavras talvez posso ajudar e ser um archote na sua passagem. Ilusões...
Pois seja, acreditarei que as conseguirei salvar. Então, o que é que eu posso dizer. Que a vida vale a pena?! É uma hipótese... Mas convém justificar. Ora bem, não há-de ser assim tão difícil! Tanta coisa bonita! A natureza só por si valerá a pena. O céu, o verde, os seres vivos, o milagre da vida. Alguém viverá só para ver o nascer do sol?
E os objectivos de vida? O que podemos alcançar dela? Uma família. Amor. E sempre temos os nossos amigos com quem rir. Um emprego gratificante no qual fazemos o que gostamos. Sempre podemos lutar por isso, não?! Lutar por uma vida amena e segura.
E haverá mais que poderei dizer. Não há? E aí salvarei os que me ouvirem...
Não sei porquê mas parece que me iludo. A vida não é mais que um instante. Uma poeira no deserto do Universo (é aqui que entra o pessimismo). Ultimamente tenho pensado numa razão, num lema, num objectivo concreto e que prenderia qualquer um à vida. Mas ... não encontrei. Tudo isto que aqui disse, sim, vale a pena (acho eu... sempre me disseram que sim). Mas bastará? Por vezes, pensar que não somos nada, que não podemos mudar (quase) nada poderá abater-nos. Eu posso pensar na vida de uma pessoa em dois segundos. Nasce, anda na escola, passa pela infância e adolescência e cresce, vai para a Universidade, tira um curso, arranja um emprego, encontra a mulher/homem da sua vida, casa, tem filhos, descasa, volta a casar, envelhece, reforma-se, fica doente e no momento de dor da sua doença falece. E pronto, nunca mais ninguém se lembrará do Fulano. Talvez os filhos e os netos. Mas eu conheço pessoas (da minha família e tudo) que não se lembram sequer do nome dos avós. E pronto, desapareceu um ser. E a vida valeu a pena? Morreu feliz e concretizado?
...
Agora de repente até percebi o meu problema... Que idiota, estou a pensar em tempos muito longos. Estou a sair do meu corpo e a ver o filme de fora, como um Deus que não sente o tempo. Que triste... tenho que pensar em termos humanos. Em horas, semanas, meses, anos. E então aí, nesse tempo humano, talvez uma vida tenha significado, talvez mude alguma coisa, talvez seja importante para alguém ou para alguma coisa. Se calhar, nestes meses a minha função aqui é escrever isto e fingir que consigo salvar os que rastejam. E talvez, ao pensar aqui que não o consigo, até os esteja a salvar. ERa bom não era? Assim a minha vida já teria alguma importância. Até porque eu nasci com um propósito. Nasci porque os meus pais quiseram. Mesmo que não esteja aqui por mais nada, estou aqui para representar ,talvez, o seu amor. Não é?
E continuaria aqui a divagar ( agora até me estava a apetecer =) ). Mas por hoje chega. Que os pensamentos sucedem-se muito depressa para os conseguirmos explicar convenientemente...