domingo, maio 16, 2004

Ainda bem que correste. Não lhes ligues, pensam que as regras são para cumprir. Ainda estou para saber quem é que inventou essa pseudo-regra de não se correr nos jardins. Nem correr, nem andar, nem pular. Para quê aquela relva verdinha se ninguém a pode usar? Corre, sim, corre com todas as energias que tiveres sobre este jardim porque, quanto mais correres, mais se alarga o teu sorriso e o teu coração. Estraga tudo o que é perfeito porque para é morrer, e, se algo é perfeito, tem de parar. Pula em cima das contruções de areia, não deixes que as ondas te roubem o prazer de deitar abaixo algo que te deu tanto gosto em fazer. Não fiques sentado nas salas de espera, não deixes fugir esses momentos. Nunca deixes de perguntar, nunca deixes de sorrir, de rir, de brincar. Não te tornes num de nós, rapazinho, foge de nós. Somos demasiado perfeitos. Portamo-nos demasiado bem. Mentimos demasiado bem, roubamos demasiado bem, matamos demasiado bem. Mas nunca brincamos. Já viste algum de nós sorrir? Não para ti, porque para ti parece que toda a gente tem sorrisos rosa, mas para o mundo, para o ar, para a vida. Já viste algum sorriso na rua? Não, ensinaram-nos a não rir sem razão, e nunca temos razão. Ainda bem que correste por cima da relva do jardim que queria ser perfeito, porque essa tua alegria de infância já me deu um motivo para sorrir. E eu que já me tinha esquecido do que isso era... =)

sexta-feira, maio 14, 2004

Eu espero por ti lá fora. Fico à tua porta, abraçado ao meu casaco para o frio não me interromper no meu compasso de espera. Quando apareci aqui em tua casa vim prevenido, vim agasalhado, já esperando que me mandasses esperar lá fora. Eu espero, sim, claro que espero. Não me sentiria feliz de outra maneira. Lá fora, prenderei os meus olhos na tua porta, supondo que se vai abrir de seguida, vou esperar. O vento frio deste Inverno que ignoro poderá tentar-me distrair mas o meu olhar não se vai desviar, eu vou esperar-te. As minhas pernas podem tremer, a neve pode cobrir as minhas canelas (nem vou reparar que neva) que, curioso, estão nuas (porque me esqueci das meias?!), a neve poderá queimar-me a pele, pode arrancar-ma, que eu continuarei lá fora à tua espera. Vou esperar que decidas vir ter comigo, que retires o teu quente cobertor que repousa em teu colo, que pouses o chocolate quente que te adocica a boca, que queiras sair desse cantinho quentinho e agradável, imperdível, que te levantes, que movas os teus delicados pezinhos até à porta da rua, que a abras, que deixes que o vento te entre pela casa adentro e que, descalça e em trajes de noite, decidas sair da tua casinha e que caminhes até mim, pisando a neve que certamente te queimará também a pele; enfim, vou esperar por ti lá fora até que decidas que é melhor vires para o frio dos meus braços magros do que ficares no teu sofá confortavelmente instalada e aquecida pelo calor de tua casa. Eu espero sim. Hei-de morrer gelado, mas acredita que vou esperar por ti lá fora.

quinta-feira, maio 06, 2004

Urgência Pessoal:
Desapareceu-me uma pessoa. Evaporou-se dos meus contactos. Quem conseguir encontrá-lo é favor contactar-me. O filósofo... fugiu. E se ouvirem falar alguma vez da banda The Scope contactem-me também! E se tu, que sabes quem és, leres isto, diz-me qualquer coisa para eu não ficar a pensar que és apenas um vírus beligno informático...
Com os maiores agradecimentos pela atenção:
Laura Brown

quarta-feira, maio 05, 2004

Morreu Hoje A Primeira Mulher

"Morreu hoje a primeira mulher...
Deslizaram corpos com sabor a mar
Fez-se silêncio para ouvir o som de um grito que nunca chegou...
Abrem-se janelas que te cortam com o frio o calor do corpo...
Apertas o corpo e abraças-te em ti mesmo,
Com medo de te dissipares...
Sentes o papel em que escreves e lambes as folhas. Porque
Nenhuma palavra te pode transportar ou viver por ti.
Rodopias nua de racionalidade e respiras
O que te resta. Talvez nunca tenha visto ser tão sensual
À face...de uma Terra.
O frio acentuava-te as formas
E denunciava a beleza que te restava. O vento,
Delator da verdade, soprou- te nos cabelos
E fez-te dele...Até que paraste de rodopiar,
Mesmo sabendo que continuavas imóvel...
És em mim agora, toda a estrada, vazia.
É em mim, que agora toca o frio,
Toca o interior, oco demais para conter mais que uma teia,
Interior aquele em que inspiro tudo o que me prende
A um exterior; às ruas que caminhavas descalça,
Que te enlaçavam e enlaçam, agora presa dentro de mim,
Numa teia de finos e molhados cabelos, em que te vestes...
Podes vir, vem agora e desliza dentro de mim,
Rodopia para eu te fazer parar. Dança...
Talvez além de assistir, eu dance contigo
E te compre o corpo...morto.
...Morreu hoje a primeira mulher."
(Patrícia Paixão)

É bonito, não é? É de uma grande poetisa que felizmente tenho a honra de conhecer e de saber o valor que a sua escrita tem. É pena que não o mostre a muita gente (curioso como as duas melhores poetisas que eu conheço pessoalmente são as mais modestas e mais reservadas em relação à sua escrita - ou será a tudo o resto?- ). Certamente concordarão comigo quando digo que é uma mais valia para este blog ter a honra de publicar este poema com autorização da poetisa. Gostei muito dele, mais do que qualquer outro, ela é capaz de perceber porquê. Leiam novamente...

terça-feira, maio 04, 2004

Pois é... Basta perder o autocarro, basta um tropelão, um vento que roube o papel que seguravamos, basta um sorriso malicioso, uma piada infeliz, um exercício complicado, uma areia no olho... Basta um "apenas" para queremos acreditar que foi "tudo". Basta um insignificante momento de atraso ou aborrecimento para nos levar a querer fugir de tudo,a escondermo-nos num buraco, numa toca secreta em que mais ninguém se atreva a ir. Escondidos e abraçados a nós mesmos, sem saber que o tempo passa, sem sequer o tempo se preocupar mais em nos visitar. Chorando, num gemido babado, todos aqueles momentos que não importam a ninguém e que nos queimam por isso mesmo, por não importar a mais ninguém. E lá estaremos, escondidos, rasgando a nossa pele com esses promenores, com tudo o que nos envergonha sem termos razão para tal. E nunca mais queremos de lá sair. Nunca mais abriremos os olhos. Eles continuarão a chorar, as lágrimas de suor, dos arrepios que nos incomodaram todo este tempo. Afastados de todos. Sozinhos. E, ao mesmo tempo, com a pior companhia que poderiamos alguma vez ter: nós próprios.

O silêncio é demasiado perturbador para não ser partilhado...

domingo, maio 02, 2004

Venho pedir desculpas por não ter escrito ultimamente. O meu computador anda muito doentinho e não põe os acentos como deve, por isso achei melhor não actualizar o blog por uns tempos, a ver se o computador lá se curava. Continua doente, é capaz de demorar ainda uns tempos até ficar bom. Agradecia portanto a paciência de todos os que aqui veêm porque eu voltarei, com acentos, em breve (espero...). Ah, e para aqueles mais perspicazes, neste momento estou noutro computador só para deixar esta mensagem, daí os acentos até estarem correctos...
Até breve