quarta-feira, dezembro 24, 2003

Depois de uma conversa sobre a hipocrisia do Natal, das prendas compradas por obrigaçao, - poderia continuar por aqui porque a conversa teve muito tema e muitas ideias, essencialmente da outra parte - cheguei a uma bonita ideia.
Critica-se as prendas compradas sem qualquer valor sentimental, so pela obrigaçao de "prestar contas" a alguem da nossa familia ou do nosso circulo. Pois entao, porque nao dar prendas com verdadeiro valor sentimental, em que o individuo que recebe essa prenda, perceba imediatamente a importancia que tem na vida do outro. Assim, proponho aqui que se ofereçam... poemas! Porque?
1º ponto - Nao e material, nao poderiamos criticar o materialismo das pessoas e o seu desejo de possuir coisas.
2º ponto - E muito menos criticar o consumismo porque a unica coisa que se consome e' um pedaço de tempo e entrega.
3º ponto - E' original. Os poemas nao se fabricam em serie, nao ha dois poemas iguais, cada um com um sentimento e mensagem diferente
4º ponto - E´ pessoal. Quem recebe sente a pessoa que o ofereceu nesse seu poema. Sempre que o ler, lembrar-se-a dessa pessoa e da mensagem que o poema quis transmitir.
5º ponto - E´ versatil. Quer dizer, qualquer um pode escrever um poema, ha varias maneiras diferentes de os escrever, poemas que rimam ou nao, poemas longos ou de apenas uma palavra.
Deve haver mais pontos, mas deixo para a imaginaçao de cada um. Deixei portanto o meu contributo para este Natal, uma sugestao que de certeza vai agradar a quem o ler. Ah, e nao vale daquelas desculpas "nao tenho jeito para escrever", "nao consigo transmitir bem o que sinto" porque um poema pode ser uma palavra apenas, uma ideia, uma memoria, um momento, uma imagem. Va la, e´ so preciso um pequeno esforço.
Um poema pode ser das melhores prendas que se podem receber, nao e´?... (pvt..)
Deixo-vos agora, no vosso espirito natalicio, gastando os ultimos euros e desejo-vos portanto um bom Natal, cheio de prendas com sentimento e valor emocional e que percebam verdadeiramente o Natal, o que ele representa e o que ele nos pode dar.
Espero tambem que nao deixem de acreditar no Natal, no que ele pode dar e representar. O Natal pode ser todos os dias, mas podemos celebra-lo com quem gostamos num dia comum.

Um optimo Natal para todos, com muitos doces, presentes e sorrisos e um surpreendente Ano Novo 2004 cheio de boas experiencias para que possam crescer um bocadinho mais.

sábado, dezembro 20, 2003

Deixei para trás o barulho, as gargalhadas, os jogos... Deixei para trás aquela festa onde está tanta gente junta mas sozinha. E eu não quero continuar sozinha a fingir que sorrio. Saí e deixei para trás os cínicos.
Sinto a maresia presa dentro de mim. De olhos fechados, sinto o mundo à minha volta, indiferente. Mas é tão agradável, puder viver este momento.
Oiço os teus silenciosos passos desenhando-se na minha direcção. Seguiste-me. Então, também te sentiste só naquela multidão de festa? Ou simplesmente me olhavas à espera de me veres? Deixa, não me respondas. O importante é que neste momento caminhas na minha direcção e eu não preciso de olhar para trás para saber que és tu e que não me magoarás.
A praia está vazia... O sol está a pôr-se, já ninguém quer apreciar o mar a estas horas... Frio, dizem. Fools... Quando a praia é mais bela é ao fim do dia... O sol tinge as nuvens de um vermelho doce, uns laranjas, uns amarelos e, no topo das nuvens, um branco intenso e belo... Tenho tanta pena que já tão pouca gente levante o queixo e admire o céu. Ele chove sorrisos, se ao menos alguém olhar para ele...
Estás perto, já sinto o teu calor. Páras atrás de mim. E como eu, admiras o horizonte. As tuas mãos, vagarosamente, pousam nos meus ombros e escorregam pelos braços. A brisa da tua respiração dança com alguns dos meus cabelos. Encostas os teus labios à minha cabeça e beijas-me aí. O teu sorriso transmite-se e sorrio eu também.
Lentamente, sentamo-nos na areia que afaga os nossos pés já descalsos. Encosto-me a ti, ao teu corpo que me protege. Aconchegas o teu queixo ao meu ombro, ligas os teus lábios ao meu ouvido caso me queiras sussurar algo (não precisas, percebo o teu silêncio, mas sabe sempre bem umas palavras a acariciar-nos a orelha pequena...). Os nossos braços estão unidos, ombro com ombro, cotovelo com cotovelo, antebraço com antebraço, pulso com pulso, mão com mão, dedos com dedos. Abraçados. Somos um só. Olhando o horizonte, apreciando o espectáculo que tanto é o mais belo como o mais barato, basta viveres para o poderes ver. O pôr-do-sol sauda-nos. Benvindos à noite. A Noite. A Nossa Noite.

(to be continued)

domingo, novembro 16, 2003

Não quero tornar este blog um diário, não quero que seja uma descrição do que faço ou do que vejo fazer. Procuro escrever aqui o que sinto, opiniões, ideias, algo para pensar. Liberto-me. Não faço referencias à minha vida pessoal. Mas hoje vou ter de abrir uma excepção. Não posso deixar de demonstrar o meu agradecimento à amizade daqueles que me rodeiam porque, a semana passada, no meu aniversário, conseguiram surpreender-me de tal modo que mudei por dentro, sinto-me agora feliz e grata por estar aqui hoje, com todos eles. Vou deixar, então, uma carta dirigida a todos eles, em especial àqueles que se reuniram e quiseram mostrar a sua amizade em conjunto. Foi muito bonito. Obrigada!

Caros amigos,

Não posso deixar passar mais sem vos agradecer por tudo o que me proporcionaram. Não sei como vos retribuir os momentos que me deram de alegria senão com a minha amizade reforçada e talvez estas palavras que aqui vos deixo. Um muito obrigada a cada um de vós pela surpresa que me deram. Não é apenas o que me ofereceram que me faz sorrir (adorei claro), mas o meu maior sorriso é o de saber que se reuniram para celebrar em conjunto o meu aniversário, mais um. Uma ligação entre os meus amigos, mesmo de grupos diferentes, é isso que me alegra, ser um elo de ligação também entre todas estas pessoas que adoro. Cada um de vós, individualmente, partilhou comigo momentos que nos ligaram ainda mais. Imagino-vos, ao assinar aquele grande postal, a recordarem esses momentos. Sei que significo diferentes coisas para cada um de vocês e alegra-me bastante saber que se recordam de mim tal como eu vos recordo, individualmente. E após um agradecimento geral, parto para o individual.
JM: Tens sido um grande e especial amigo. Sempre presente, sempre com uma palavra amiga, e mesmo sem palavras, só o olhar já ajuda. Obrigada por estares sempre a postos para mudarmos o mundo.
AQ: Quando pensei que estavamos longe, chamaste-me e mostraste-me que há amizades que não arrefecem, que podem tornar-se mais fortes e significativas. Obrigada por me chamares para aqui.
SR: O teu sorriso proibe-nos de lembrar borrões. És uma optima companhia, uma optima conversa, uma optima voz. Obrigada por viveres comigo os meus desvaneios e sonhos.
PP: És os meus olhos do mundo. Acordas-me tanto e permites-me ser quem sou, atiras-me para dentro de mim. Obrigada por me mostrares tudo o que tens mostrado, quer interior quer exteriormente.
SA: Admiro-te muito, sempre o fiz, e adoro ouvir-te, saborear as tuas palavras e o teu pensamento. Tens muito valor. Obrigada por me permitires vê-lo e apreciá-lo, por descobrir mais de mim em ti.
CB: Provavelmente és a pessoa que conheço há mais tempo deste grupo. Ainda bem, porque só significa que continuamos juntas a passear por aí. Obrigada pela tua presença, pelo teu sorriso.
AM: Foste uma tão boa surpresa. Em tão pouco tempo já me mostraste tanto e é bom saber que reparas quando ninguém está a olhar. Obrigada pela tua alegria muito transmissível.
AL: És uma optima pessoa, optima companhia e sei que tens muito dentro de ti para dar e mostrar. Obrigada pela amizade e por tudo o que transmites.
CC: É optimo reconhecer-te, depois de um tempo mais longe, tens sido uma optima amiga, uma optima pessoa com quem estar e se divertir. Obrigada pelos momentos que partilhaste comigo.
FB: Tem sido muito bom conhecer-te. Estaremos mais próximas com o tempo mas onde estamos agora, já é muito gratrificante o ter-te conhecido. Obrigada pelos intervalos em que juntamos o grupo.
AC: Tens sido uma optima companhia, um bom amigo com quem falar e rir. Já estivemos juntos em momentos fantásticos e ainda bem que estiveste presente. Obrigada por isso.
AR: É uma alegria estar contigo, a tua boa-disposição, a tua alegria, a tua energia são fascinantes. Obrigada pelos momentos partilhados e pelas animadas conversas.
LL: Tens sido outra grande surpresa. Uma boa amiga e companhia. Já passei muitos bons momentos contigo e esperemos que ainda passe mais. Obrigada pela nova amizade.
JR: Tem sido bom encontrar-te novamente na mesma turma. Acredito que vamos passar bons tempos juntos. Obrigada por estares.

Há muito mais gente que me alegrou neste dia mas terei de me reduzir a estes agradecimentos. Não deixo de me sentir muito agradecida e feliz por todos os outros amigos que estiveram comigo nesse dia e que ainda estão. Termino, então, agradecendo novamente a todos os que me conhecem por tudo o que me proporcionaram e proporcionam. Obrigada!

sexta-feira, novembro 14, 2003

Carpe Diem Quam Minimum Credula Postero

(Goza este dia e conta o mínimo com o dia de amanhã)

Horácio , ODES , I, II, 8

terça-feira, novembro 04, 2003

Dogville - Part II

Afinal o que nos distingue, nós, seres humanos, Humanidade, dos restantes animais? A nossa racionalidade? E isso é o quê? Não é que não saiba mas preferia que me especificassem melhor. O nosso pensamento, é isso? A lógica que seguimos sobre os conhecimentos que adquirimos? A forma como nos afastamos (por vezes...) do instinto e como conseguimos organizar o saber? Muito bem, talvez isso nos distinga dos restante animais, já que estes não sabem criar vacinas ou automóveis para uma qualidade de vida superior. Mas também há mais coisas que nos distinguem dos animais, não há? Devido à nossa capacidade mental superior somos capazes de distinguir os nossos actos, e os dos outros essencialmente, como bons ou maus. Os humanos têm a possibilidade de serem bondosos, piedosos, generosos, civilizados. É isso que nos ensinam, o Bem. Temos a possibilidade, e dever, talvez, de nos entreajudarmos e de sermos bons humanos. Temos ética, algo que provavelmente os animais selvagens não têm. Ninguém os condena por matarem outros seres, por terem vários parceiros sexuais, por se comerem uns aos outros, por lutarem entre si pelo poder ou pela fêmea, por roubarem a comida dos outros. Somos então superiores a todos os outros os outros seres vivos. Julgamo-nos superiores. Concordaria se simplesmente fossemos sempre superiores. Mas, por vezes, vemos certos actos tão animalescos, tão insensíceis, tão egoístas que nos fazem duvidar da capacidade de auto controlo que caracteriza o Humano. Por detrás de qualquer convicção, doutrina, valor, parece estar sempre o lado animal e selvagem do Homem. O grotesco, o insensível, o impiedoso, o carente, o perverso. Será que alguém poderá ser sempre bom especime do nosso ser, mantendo-se racional e bom mesmo quando algo maléficamente poderoso o chama?
Foram estas questões que se me depuseram ao ver o filme Dogville. Não posso ficar indiferente a um filme como este. Cheio de simbolismo e ideias que nos vão fazendo comichão na mente. E ainda hoje, passadas quase duas semanas de ter visto o filme, ainda me perturbam.
Será que todos nós procuramos poder para podermos dispôr tudo a nosso prazer? Quando Grace chega à vila e se dispõe a ajudar e trabalhar uma hora por dia para cada casa, ninguém parece ter trabalho para ela, ninguém precisa de nada. Provavelmente, os habitantes desta pequena povoação eram felizes, pelo menos, conformados: viviam bem e pacatamente naquele espaço só deles, sem preocupações de maior,sem muito trabalho, apenas rotina que repetiam sem preocupação para se sustentarem. E não estavam preparados para aquela "prenda". Eram humildes e provavelmente sentiriam-se envergonhados se aceitassem a ajuda da boa-vontade de Grace; estariam a rebaixar-se, a dizer que precisavam de ajuda. Por isso, Grace, graças ao apoio de Tom, começou a trabalhar em coisas "desnecessárias" para aqueles habitantes. Começou a realizar coisas que eram importantes que fossem realizadas mas que ninguém diria que sim, ninguém poderia dar parte de fraco. Grace aceitou esta "definição" do seu trabalho, assim como o narrador que, com uma certa ironia e tom de brincadeira, nos descreve os trabalhos "sem importância" que Grace agora realizaria. Trabalhos que serviriam apenas para ela, coitada, poder ter algo para fazer. E, com o tempo, as mão perfeitas e puras de Grace vão-se habituando ao trabalho, com gosto, e depressa as suas mãos não se distinguiriam das dos outros habitantes. Por uns tempos o seu trabalho é apreciado, quer da parte de quem o realiza, quer da parte de quem o bondosamente oferece. A parte feliz da história.
Mas, com o passar do tempo, os habitantes começam a aperceber-se do poder que lhes foi dado sobre Grace. Ela precisa do consentimento de todos para poder permanecer na aldeia e fará qualquer coisa para não ser entregue a quem a procura. É então que cada habitante, à sua maneira, vai-se dando conta das suas necessidades e desejos e aproveita-se da fraqueza de Grace para a obrigar a satisfazê-los. A bondade da aldeia degrada-se, apodrece sem que Dogville se dê conta. Quando a polícia começa a colocar cartazes de Grace pela aldeia, os habitantes exigem uma maior demonstração de agradecimento de Grace, aumentam-lhe os turnos de trabalho e começam a criticar os seus erros pontuais. Os trabalhos "desnecessários" parecem agora tornar-se indespensáveis e Grace começa a deixar de ser tratada como uma amiga, como o era, ou tentava ser, mas apenas como uma criada que se tem de limitar a fazer o que os seus amos lhe dizem. Grace corre para cada trabalho e quando passa pelo pequeno carreiro entre as três arvores cuidadas, é repreendida: aquele carreiro só pode ser usado pelos habitantes daquela terra e ela era apenas uma visitante, não estava ali há muito tempo. Grace não reclama, como o leitor ou o espectador poderão fazer, por tal acto tão exagerado por algo insignificante como a passagem por um pequeno carreiro. Tem de se limitar as contentar-se pelo facto de continuar naquela aldeia de gente simples.

(continua...)

domingo, outubro 19, 2003

Dogville - Part I

Não posso deixar de comentar o filme que tive a oportunidade de ver no cinema no passado dia 17: Dogville. Farei uma pequena introdução ao filme e depois farei a minha própria interpretação e comentário ao filme e às suas ideias.
Dogville é o novo filme de Lars Von Trier, o realizador de "Dancer in the Dark", filme bastante conhecido pela interpretação de Bjork. Neste novo filme, é Nicole Kidman, nomeada para o Oscar de Melhor Actriz (em "Moulin Rouge"), que interpreta a personagem mais apelativa do filme, Grace. Estas informações bastaram-me para desejar ver o filme, quer pelo realizador, quer pela actriz. Mas há muito mais neste filme que simples nomes de prestígio...
Não existem cenários. O filme é realizado num pavilhão de 200 m² onde as ruas e as divisões das casas de Dogville estão desenhadas no chão. A noite e o dia são diferenciados pelo fundo branco ou preto do pavilhão. Lars Von Trier diz que decidiu não haver cenários para o espectador se concentrar nas personagens, nas pessoas em vez de se perder e de se desconcentrar com promenores das casas ou do restante cenário possível. Inspirou-se nas peças de teatro que costumavam dar na televisão, ainda antes do cinema, no inicio da época televisiva, ainda a preto e branco. Porém, não quis filmar a preto e branco porque afirma de afasta o filme do espectador. Sem usar tripé, sendo o próprio Lars Von Trier o operador de câmara, as imagens não estão fixas, não há quase efeitos especiais (para quê colocar efeitos especiais, se já qualquer criança pode por dragões nos seus filmes feitos em casa com apenas um computador, retorque Tier). Toda esta simplicidade leva-nos ainda mais para dentro do filme e daquela aldeia de Dogville. Mas afinal, o que é Dogville?
Na época da Depressão, uma aldeia, Dogville, perto das Montanhas Rochosas nos EUA, vive pacatamente a sua vida com gente simples, humilde e bondosa. Tom Edison, filho do médico da aldeia, é um escritor e filósofo. Gosta de realizar assembleias com os 15 habitantes daquela aldeia, para os cultivar e interessar pelo seu país e os valores humanos. Na vespera de mais uma assembleia, procura uma "prenda", algo para o ajudar no que tem para dizer. É então que ouve disparos e Grace surge na aldeia, fugindo dos disparos. Tom dispõe-se a ajudá-la e, na Assembleia em que discute a bondade dos seres humanos, propõe à sua aldeia que demonstrem os seus valores ajudando Grace. Os aldeões aceitam dar uma oportunidade a Grace de ficar refugiada na sua aldeia e, durante duas semanas, Grace procura ajudar cada aldeão para mostrar o seu agradecimento à boa-vontade da aldeia. Grace integra-se na aldeia, e durante uns tempos é feliz junto dos seus novos vizinhos. Mas há medida que a polícia começa a aumentar as buscas de Grace, a bondade dos aldeões vai mudando...

Tenho muito para falar sobre este filme e sobre o que ele me transmitiu. Muito mesmo. Por isso, vou acabar por aqui, desta vez, e continuar mais tarde. Até breve!

sexta-feira, outubro 17, 2003

Tocou. Depressa a turma arruma às escondidas do professor todo o material e, mal há licença para sair, corre tudo para a porta. De passo apressado, roubando uns minutos ao tempo, os alunos escorrem para o pátio. Vou lá no meio, arrastada mas ansiosa também por sair da sala e daqueles corredores. Ah, já só falta mais um bocadinho para sair deste aperto e de estar lá fora, ao sol, livre. Chego, por fim, cá fora, ao pátio, onde já se distinguem grupos de amigos/colegas. Finalmente, estaciono junto à parede, num local discreto, rodeada dos meus amigos. Cheguei, estou acomodada. Agora é só esperar que o intervalo passe...
Olho em volta, num momento em que os que me rodeiam conversam sem notar a minha presença. Vejo os alunos, estudantes, amigos, em grupos, conversando com um sorriso na cara. Mas... sinto-os tão superficiais. Não percebo. Também tenho os meus amigos e sei bem o valor que lhes dou. Mas todos aqueles grupos, todos aqueles sorrisos parecem ser tão efémeros, tão desinteressantes, tão falsos. Não os conheço. Não sei do que estão a falar. Mas mesmo assim sinto a futilidade em cada rosto dos jovens que vejo à minha volta. Estou a ser injusta para com eles, para quem não conheço? Provavelmente estou, mas é o que eu sinto. Aqueles sorrisos que se dão pela frente, aquelas facadas que se dão por trás. Se calhar, até os meus sorrisos parecem superfluos quando os solto. Se calhar sou igual à ideia de tenho de todos os outros que me rodeiam e que não conheço. É daquelas alegrias que não duram muito. Amizades que acabam e que se transformam. Sorrisos que passam a ranger de dentes, a murmurios...
E, mal esta visão de falsidade me entra pelos olhos, não me apetece estar mais naquele local. Conheço os meus amigos, os meus colegas e não vejo sorrisos cínicos ou efémeros nas suas faces. Mas mesmo assim... neste momento não quero estar a sorrir com eles. Apetece-me apenas estar sozinha no meio da minha multidão. Não me quero isolar, poderiam descobrir-me e perguntar o que se passava para estar sozinha. E eu não saberia responder. Assim, se me refugiar no meio das conversas que cruzam à minha volta, talvez não reparem em mim e eu possa implodir para dentro de mim, deixar o tempo passar.
Cada vez gosto menos dos intervalos. Um quarto de hora sem fazer nada. Ali, em pé, no pátio, muitas vezes encostada à parede. Falando de tudo e de nada. Refrescar as ideias para ir novamente hora e meia para dentro de uma sala ouvir até à exaustão um professor que apenas pretende cumprir a sua função. Não acho graça aos intervalos. Fico pronta para outra aula mal chego cá fora, ao pátio, e estaciono junto à coluna. Mal me encosto, as minhas pilhas gastas da aula anterior ficam novamente prontas para mais uma dose de atenção. Mas o quarto de hora de intervalo ainda agora começou. Espero então, junto do meu grupo, que o ponteiro rode um bocadinho e logo me dirijo para a sala.
Estou naqueles dias em que não estou bem em lado nenhum. Nem em casa, nem na escola, nem na rua, nem em mim. É daqueles dias que mais valem passar sem que nós os vejamos. Neste dias não me apetece viver. Apetece-me ser uma sombra que não precisa de cumprimentar ninguém ... Apetece-me pairar por ali como se o tempo não existisse...
E não digo mais nada... porque vou deixar que o tempo passe sem que eu o queira parar..........

terça-feira, setembro 23, 2003

A Lareira

É noite de Inverno. É sempre Inverno por aqui. E costuma também ser sempre noite. Mas esta noite está diferente. Está tanto frio lá fora. E cá dentro. Estou no meu casarão, naquela mansão abandonada e descuidada no meio de uma floresta escura e imprevisível. Estou sozinha. É a minha casa, sou eu. Sozinha neste casarão enorme, frio, escuro. Das janelas abertas vem uma luz azulada, a mistura entre o negro da noite e o reflexo branco da lua. A casa está de um tom azul escuro. É noite e eu estou apenas com a minha camisa de dormir vestida. Sinto-me tão frágil, tão inevitável. Descalça, percorro os inumeros corredores iluminados apenas pela lua, enquanto a minha camisa de dormir esvoaça junto aos meus joelhos com a brisa que vem das janelas. Não tenho rumo, estou sozinha, não tenho motivos. Mas detenho-me no salão. Enorme, com aqueles sofás tão confortáveis que olham a lareira. Que estranho, costuma estar apagada. Não costuma haver fogo, nem calor dentro daquela mansão. Entro na sala. Quem terá provocado aquele lume? Será que é mesmo isso. Aproximo-me, muito a medo. Mas, aos poucos, esse medo vai desaparecendo. Está quente, está a aquecer as minhas canelas, frias há tanto tempo. Do azul escuro e apagado daquele salão, o laranja vivo chama-me até ele. Tão belo, aquele fogo! Sento-me em frente à lareira, não nos sofás já gastos, sento-me no chão como uma criança que acaba de descobrir o fogo. Sorrio. Quero ficar aqui, a olhar este fogo, na lareira deste casarão vazio, o resto da noite, o resto da minha vida. Aquece-me o corpo, está a crepitar só para mim. Conforta-me. Aquele som soa-me como uma canção de embalar, sussura-me ao ouvido que está tudo bem, agora não estou sozinha, aquele fogo faz-me companhia. Os lobos que habitam a floresta que espreita pelas minha janelas, juntam-se num canto único à canção do fogo. Esses uivos, que tanto me assustaram a vida toda, sempre com medo deles, que me saltassem pelas janelas sempre abertas e que me devorassem, sem eu poder fazer nada, esses uivos agora até me pareciam inocentes. Que noite tão bela! Abraço-me. Mas já algo me está a abraçar. Uma manta, que me está a aquecer ainda mais. Mas não é uma manta qualquer, pois as mantas só aquecem. Esta manta protege-me, abraça-me e contempla comigo o espectáculo que o lume nos proporciona. Estamos tão quentes. Não estou sozinha, tenho o meu fogo, na minha lareira agora laranja, tenho a minha manta que me protege do frio e não me deixa morrer aqui sozinha. Que noite tão bela! Pelo som, até parece que neva lá fora. Mas não quero sequer olhar, os meus olhos estão paralizados pela beleza da luz do fogo. Sou livre de desviar o olhar, de me levantar e sair dali, de me refugiar no meu quarto, de ver a neve a cair, de contemplar a noite escura lá fora. Mas não o faço, porque estragaria este nosso momento. Sozinha, neste casarão, sentada no chão em frente à lareira, envolta por uma manta castanha, agasalhada pelo calor do fogo, ouvindo a canção que a madeira me canta ao ouvido e que os lobos lá fora acompanham com os seus uivos. Frágil, insignificante, sozinha. Apesar disso, sinto-me protegida, sinto-me como a dona da noite, alguém preparou esta beleza toda para mim e eu nem sei quem é. Será que foi a manta que me prende os braços e que escorre pelo meu pescoço? É sempre bom sonhar. Estou feliz agora, estou a sorrir para o fogo que contemplo. Ele sorri-me de volta, estou em paz com o que me rodeia. Sei que está frio mas não o sinto, estou tão aconchegada aqui. Baloiço lentamente ao som da música da noite. É tudo tão belo, tão perfeito!
Procuro à força afastar a razão deste momento. A noite vai acabar, a lenha vai ser toda consumida e não haverá mais fogo, o frio voltará e a manta será inútil. E eu, aqui sozinha com medo do escuro, vou ser acordada pelo entrar retumbante do resto de mim, que mora usando todo o esplendor e toda o poder que aquela casa poderia possuir, que me destruirá esta felicidade momentanea. Depois de bater com a porta ao abri-la, com passos pesados e temerosos, aproximar-se-á de mim, com olhar fechado, e com o balde que se encontra ao lado da lareira (não tinha reparado nele, seráque já ali estava quando entrei?) apagará com um só movimento o fogo que me aquecia e que me confortava. Olhará para mim, com raiva, arrancar-me-á a manta, mostra-me os seus buracos, a sua insignificância e pobreza e manda-me de volta para o meu quarto escuro e frio, onde, em cima da minha cama dura chorarei para aquecer a minha almofada. Repreender-me-á por ter sonhado, por ser feliz com aquele momento. Eu tenho tudo! Vivo numa casa enorme, sou a única dona dela, posso fazer o que quiser com ela. E não me contento com isso?! Como será possível! Já o estou a ouvir... Qual a beleza de me sentar no chão quando tenho os melhores sofás a um metro de distância?! Qual é a beleza da música da noite (como a consegues ouvir?!) quando tens todos os vinis de todas as músicas belas inventadas pelo Homem?! Como te podes sentir acompanhada se não tens mais ninguém em casa?! Só este personagem é que, de vez em quando, me visita, para se certificar que se mantém tudo igual. É tão fria. Eu só tenho a minha camisa de dormir, leve e frágil. Só posso baixar a cabeça e seguir as ordens. Não tenho força, sou fraca, é um facto. Nunca mais o fogo voltará, nunca mais a manta me abraçará outra vez e os lobos jamais me cantarão novamente com carinho a música da noite. Volto ao ponto de partida.
Não estou a pensar nisto neste momento. Continuo em frente à lareira, sentada no chão, abraçada pela manta castanha, aquecida pelo fogo que (me) consome a lenha, embalada pelo crepitar da madeira e pelos uivos inocentes dos lobos cinzentos da noite. Estou feliz e vou sonhar que a noite não vai acabar nunca, e que vou sentir-me tão confortável como agora para o resto da minha vida. Não interessa que tenha tudo o que precise fora deste salão, atrás de mim. Esta mansão nunca me deu felicidade. Não como esta que estou a sentir ao sorrir para o fogo. É grande, tem tudo o que possa imaginar. Só não tem amor, não tem calor, não tem carinho. Vou sonhar que esta madeira nunca acabará de arder e que me aquecerá e dará o que eu preciso para o resto da vida.E a manta deixará de ser manta para se fundir comigo, será então a minha pele. Não me vou mover, apenas me baloiço ao som da música da noite que não acabará. Essa música que me sussura ao ouvido “Está tudo bem... Vamos fazer-te feliz... Só tu importas agora... Sorri...” E a brisa será convidada a entrar, e brincará com os meus cabelos, beijará a minha face, os meus olhos, os meus lábios, o meu colo. Estou, finalmente, a sentir-me viva. E, se acreditar muito, talvez isto nunca acabe e o resto de mim nunca baterá com a porta ao entrar no salão... E, quem sabe, silenciosamente, também se unirá a mim e finalmente nos compreenderemos e nos uniremos numa só...

domingo, setembro 21, 2003

- Na realidade, estamos todos sozinhos. Alguns apercebem-se disso mais cedo, outros mais tarde, mas todos, em alguma altura da vida, se sentem sozinhos e se dão conta que isso não poderá mudar muito. Todos juntos na multidão, mas sozinhos. E porquê? Porque ninguém pensa como nós. Ninguém sabe precisamente o que sentimos, ninguém consegue entender as nossas frases, os nossos textos, as nossas expressões da maneira como queriamos, da maneira como estamos a pensar para as dizer, escrever ou fazer. Vivemos à base de relações com outras pessoas, relações de amizade, companheirismo, amor. Mas essas pessoas vão-se afastando, o tempo não pára, as pessoas mudam, viajam, envelhecem, esquecem, fazem escolhas e no fim morrem. Durante todos estes processos, muitas das relações que tinhamos vão perdendo o contacto e fazem-nos sofrer, fazem-nos sentir de novo sozinhos.
- Que pensamentos tão pessimistas! Claro que vamos acabar com certas relações e amizades que temos neste momento mas da mesma maneira com que vamos criar mais relações, novas ligações ao mundo e nunca estaremos sozinhos! Há sempre alguém, mesmo que não o queremos ver, que está por trás de nós e que estará lá se pedirmos ajuda. Há sempre alguém que nos ama, que se importa connosco, que quer estar presente. Mesmo que, por momentos, não o conseguimos ver...
- Isso é verdade, mas não deixamos de estar sozinhos. A nossa mente está sozinha. Todos sabemos que cada um pensa de sua maneira, não há duas pessoas com personalidades identicas, talvez parecidas, mas nunca iguais. Os nossos pensamentos estão sozinhos. As pessoas que estão de fora interpretam-os à sua maneira e nunca perceberão exactamente o que queremos dizer. Estamos sozinhos com os nossos pensamentos. E, quem não percebe ou aceita isso, desiste de pensar e diz tudo aquilo que os outros estão à espera de ouvir. Mas, por outro lado, os que tomam consciência disso mas acreditam nos seus pensamentos e no seu valor, hão-de estar sempre sozinhos na luta pela afirmação das suas opiniões e ideais.
- Somos únicos entre os diferentes exemplares da nossa espécie. Mas estamos todos interligados. Podem não compreender da maneira que tu queres a tua opinião mas hão-de lá estar por ti. Mesmo se não te entenderem na perfeição, não deixam de te amar e de te querer abraçar. Aos poucos vão percebendo melhor o que tu és interiormente e a tua solidão não será tão grande. E há certas expressões, certos actos que são universais.
- Como é que se abraça uma alma? Não é com os braços. Esses, o mais fundo que vão é à superfície da tua pele. Consegues fundir duas pessoas por um só momento? Consegues fazer com que essas pessoas consigam tocar na alma uma da outra? A tua alma, o teu pensamento, está tudo prisioneiro na tua massa cinzenta do teu cerebro e as sensações físicas que te conseguem transmitir, dificilmente chegam à tua alma. Sentes por fora, queres sentir por dentro. E só para fazer ainda mais intriga, não poderás ter a certeza das intensões daquela pessoa ao abraçar-te.
- A tua conversa leva-me a crer que nuca ninguém te abraçou. Tu é que disseste, todos temos consciência que os nossos pensamentos são unicos e ninguém poderá compreendê-los perfeitamente e talvez, nem nós próprios. E quem te abraça sabe disso, e também sabe que o que a poderá ligar mais a ti é por um abraço, pelo toque, porque uma coisa têm em comum: um corpo. E se essa pessoa também aceitar os seus pensamentos e o seu valor, usará o seu corpo em função desses pensamentos, usá-lo-á para te abraçar a alma, pois é isso que pretende, apesar de só atingir a superfície da tua pele. Se não quiseres usar o teu corpo para mais nada, ao menos usa-o para transmitir os teus sentimentos pois é a unica coisa material que possuis e que podes manipular à tua vontade. Ele está lá para te servir.
- Por favor, não vamos começar de novo a discutir a função do corpo! Ele está lá para me servir?! Ele está cá para me pedir, me implorar, me arrastar e me limitar.
- O teu corpo condiciona-te muito, é verdade, mas se acreditas que a mente está sobre o corpo, poderás viver em paz com ele, dando-lhe o que ele necessita para se manter vivo em troca de alguns favores que ele te poderá dar para te libertar um pouco dos teus pensamentos. Mas tu nunca vais perceber o que eu quis dizer com isto porque os nossos pensamentos estão separados e sozinhos nos neurónios do nosso cerebro. Mas levas um abraço, pode ser que eles se aproximem e que, por momentos, se fundam e se compreendam...

(São estas as conversas que tenho comigo própria. Estou muito confusa, não? É a minha alma pessismista contra a minha alma optimista. Ainda não alcansei o entremedio. Talvez não exista, o mundo é todo constituido por opostos. E terei de viver com eles os dois, o pessimista e o optimista, e com todos os pensamentos opostos que tenho. Assim pode ser que agrade a todos... E termino por agora)

quarta-feira, setembro 17, 2003

Li no livro "As terças com Morrie" uma ideia curiosa que passo a descrever.
Morrie adoece gravemente e sabe que vai morrer em breve. Lembra-se então de um funeral a que foi de um amigo e das palavras tão bonitas que ouviu sobre o falecido. E teve pena desse seu amigo já não poder ouvir tudo aquilo que foi dito em sua homenagem. Por isso, antes de morrer, combinou com os seus amigos um funeral. Juntaram-se e os seus amigos falaram sobre ele, mostraram a sua amizade, leram-lhe poemas dedicados a Morrie. Choraram todos juntos.
Recebo muitos e-mails, daqueles forwards, com mensagens como esta, ligeiramente diferentes. Podemos morrer a qualquer altura, será que não queremos morrer sabendo que os que amamos saibam desse nosso amor? E nós não gostariamos de nos poder despedir de alguém, dizendo-lhe o quanto é importante para nós? Acho que, de vez em quando, deviamos fazer destas sessões. Não lhe chamariamos de funeral, claro, isso assusta muito. Mas é tão agradável poder dizer às pessoas o quanto são importantes nas nossas vidas. E ouvir de volta esses comentários, e apercebermo-nos que, se nos fossemos embora, havia muita gente que daria pela nossa falta. Mas provavelmente, se eu telefonasse a alguns amigos a combinar este "funeral", esta "festa", poderiam achar muito lamechas ou então, poderiam recear a minha sanidade mental... Pode ser que um dia me compreendam...

terça-feira, setembro 16, 2003

Estive a pensar no que escrevi à bocado. E achei que as ideias que ficaram poderiam ser mal interpretadas.
Muitos dos meus colegas que poderiam ler o texto, provavelmente se identificariam com as características que eu referi como sendo as consideradas "normais" nos adolescentes. E poderiam pensar que eu menosprezo-as.
Eu só queria deixar claro que apesar de não me sentir dona de grande parte dessas características, não deixo de me dar com pessoas assim e de gostar muito delas. Primeiro, porque me aliviam um bocado dos meus pensamentos pesados. E por outro, porque não deixam de ser boas pessoas de quem gosto e gente com quem posso contar para o que precisar.
Por isso, não queria deixar de dar valor aos adolescentes de hoje. Eu é que sou diferente, se têm criticas, elas que caiam sobre mim...
Qual a definição de adolescente? Ontem irritei-me com a definição actual. Fui a uma livraria e peguei em alguns livros novos sobre adolescência, diários de adolescentes, da minha idade, mais velhos até (neste caso até eram raparigas). E então, li na contracapa, que o que preocupava estas jovens eram os namorados, as saídas, o seu corpo, a sexualidade. Por favor!! Será que temos de pensar nisso para sermos considerados adolescentes?!
Pelo que eu sei, a adolescência é uma fase difícil. Todos sabemos disso. Mas não nos façam de parvos. Eu tenho os meus problemas mas são completamente diferentes dos representados nesses livros. Não me sinto sozinha porque não tenho namorado, ou porque não há ninguém goste de mim (daquela maneira especial, já se está a ver). Sinto-me sozinha porque tenho ideias e objectivos diferentes de todos e remo um bocado contra a maré. Não estou preocupada com as modificações normais do meu corpo, nem com o facto de ser bonita ou feia (pensando bem, acho que sou a unica rapariga que conheço que nunca se maquilhou...). Estou preocupada com o meu crescimento mental que quer ultrapassar o pequeno espaço corporal que ocupo, quer ser mais do que esta massa. Será que tenho de experimentar drogas, alcool, más companhias, será que tenho que ir a discotecas, a bares, embebedar-me, curtir com um gajo numa noite, fugir de casa, vestir-me de um modo só para contrariar os pais para poder ser considerada adolescente "normal"? Então não o sou. Nem o quero ser. Todas essas questões me parecem agora tão superficiais. Especialmente aquelas paixões.
Eu já não percebo como é que alguém se apaixona, namora uma semana e depois o casalinho cança-se e acabam. Daí a duas semanas cada um já tem outro par. Grandes paixões, não é verdade?... E depois, as conversas que oiço entre os grupos em que estou. As meninas falam dos garanhões que passam, dos seus namoricos, de intrigas, dizem mal umas das outras, criticam a roupa que aquela usa. Os rapazes, não sei se ainda tanto, falam de jogos da PS2 ou do PC, falam de música, mandam piadas porcas, jogam futebol, discutem futebol, discutem gajas, os próximos alvos, vão-se atirando à primeira que se aproxima. E nem sei o que fazem nos balneários mas pelo que tenho ouvido não deve ser própriamente leitura de poesia.
Talvez com isto concorde com aqueles que dizem que a nossa juventude está perdida. Mas também sei que há excepções. Conheço algumas. Mas sei também que são excluídas de alguns grupos de não fizerem isto ou aquilo. Só espero que se mantenham fortes porque merecem muito mais atenção do que as intrigas que se ouvem por aí...

terça-feira, setembro 09, 2003

Ensaio sobre o Choro – A história de uma lágrima
Tudo começa no estômago. Aquela vontade de chorar, aquele desejo de soltar umas lágrimas, essa vontade vem do estômago. Um rebuliço lá dentro, como se as próprias paredes do estômago se encontrassem e se emaranhassem. Um calorzito nesse local chama-nos a atenção.
Rapidamente, essa sensação sobe para o coração. Agora não é um emaranhado de tecidos, é só um calor mais forte. Parece que o coração se está a esforçar imenso e que está a libertar imensa energia. É isso que parece. É também aí que nos damos conta das razões do nosso desejo de chorar. É a energia que nos diz o porquê. Quando nos sentimos sozinhos, ou tristes, ou desiludidos, ou mesmo felizes (também se chora de alegria), tudo isso é aí transmitido.
Se a nossa vontade chega à garganta, não há muito mais que possamos fazer para o evitar. Sente-se um nó na garganta, mas um nó com aquelas cordas grossissimas que nos arranham a garganta. A corda é tão grande que nos ocupa toda a garganta. É aí que a nossa voz se modifica. É por causa da corda que se une às cordas vocais e as faz vacilar. A nossa voz treme e quem nos ouve percebe que vem aí chuva... Ainda estamos com o nó a meio da garganta, mas, à medida que falamos ou que revolvemos na nossa mente o nosso propósito, o nó vai subindo até se emaranhar com a língua, quase que se pode ver o nó de boca aberta. Mas o nó não vai subir mais. Agora é a vez dos olhos.
Antes de mais, têm de ficar vermelhos. Não dura muito tempo, essa pintura. Logo depois, a nossa visão fica distorcida pela água que nos envolveu os olhos. Mais brilhantes que nunca, os olhos vermelhos, envoltos em água que não escasseia de entrar por eles adentro, começam a aglomerar gotículas de água nos cantos. Depressa teremos uma grande gota de água a que chamamos de lágrima. É uma acomulação de um líquido com cloreto de sódio ao canto do olho. Agora só temos duas hipóteses. A primeira, se ainda tivermos com esperança de não chorar, é aguentar essa lágrima ao canto do olho, esperar que o resto da água sece e mais cedo ou mais tarde a lágrima recuará. É difícil. Mais vale seguir a segunda hipótese. Deixar a lágrima escorrer.
Quando a água for em demasia e a lágrima for pesada, escoará pela nossa cara rosada. Se estiver no canto mais próximo do nariz, segue o carreirinho já sinalizado na nossa cara. Encosta-se ao nariz, segue ali aconchegada até às narinas. Se a nossa respiração já estiver ofegante, pode ser que entre por elas adentro mas não é um caso preocupante, não damos conta porque o nosso nariz também já foi atingido e já estaremos agarrados ao lencinho para limpar a agua que agora também escorre do nariz. Por isso, a lágrima passará desprecebida. Mas imaginando que não temos a respiração ofegante, a lágrima seguirá a caminho do canto da boca onde também poderá refugiar-se e entrar. Se isso não acontecer, seguirá caminho até ao queixo onde cairá por fim no nosso colo.
Se a lágrima se encontrar no canto mais perto do ouvido, também seguirá um caminho já escolhido. As nossas bochechas estarão contraídas para que as lágrimas saiam dos olhos. Assim, a lágrima percorrerá a nossa bochecha, limitando-a. Escorrerá encostada à bochecha, chegará ao queixo e novamente será liberta para o nosso colo (se estivermos sentados...).
Por vezes uma lágrima formar-se-á no centro do olho. E escorrerá pelo meio da nossa cara. Entrará no domínio da bochecha e segue um caminho novo, criado naquele momento. Um afluente que é o mais evidente quando nos veêm chorar. Como é mais raro, também tem um significado mais profundo, não é qualquer um que chora e que consegue que uma lágrima escorra pelo meio da sua bochecha. Por isso, vale a pena valorizar. Se não fosse a tristeza que nos manda chorar, eu até poderia dizer que encontrava alguma beleza neste rio que acaba de nascer. Chegará, como calculamos, ao nosso queixo e cairá. Por vezes, algumas lágrimas ficam penduradas no nosso queixo mas se nos mexermos muito elas acabarão por cair.
Há quem não aguente a sensação da lágrima a percorrer-nos externamente. Por isso, mal ela se acomoda no canto do olho, lançam a sua gorda mão sobre o olho e procuram retirá-la e esquecê-la. Como uma esponja. Mas as lágrimas são diferentes de uma gota de água normal. São muito maiores por dentro do que por fora. Por isso, ao contrário de uma gota de chuva, que rapidamente secamos com a nossa mão, a lágrima não secará. A lágrima será arrastada ao longo da face e molhará a cara toda. A mão,desta vez, não é uma esponja, é um pincel. Passamos a mão mais duas, três vezes sobre a cara mas a lágrima parece estar presa à pele e dificilmente a secaremos. Por isso não aconselho este metodo para quem quiser esconder a sua ferida emocional.
Quais os efeitos secundários do choro? Se tudo correr bem, será um alivio. A sensação que se foi instalar na garganta desaparecerá passado um bocado e só daí a uns tempos é que poderá voltar. Por vezes essa sensação não desaparece. Para isso eu aconselho uns bons berros. Com a idade temos a tendência para ter um choro mais silencioso e isso não é muito bom. Queremos que ninguém nos veja ou perceba que estamos a chorar, é muito infantil. Não o é! Podemos ficar muito ridículos a chorar mas é um momento naturalíssimo na nossa vida e não o devemos evitar. Por isso, se o nó nos quiser fazer gritar BUUÁÁÁ!!! então que se grite porque senão aquela sensação de desejo de choro não passará. Eu sei que depende muito da situação mas sempre que possível, não deixem a garganta contraída com medo de ser ouvida.
Durante o choro podemos ficar com a respiração ofegante, como já foi referido. Se estivermos a gritar, ou a libertarmos o ar que temos na garganta num som abafado(como muitos fazem para substituir o grito, em vão...) temos de inspirar para darmos mais folêgo a esta libertação. Muitas vezes deixamos de controlar essa respiração e inspiramos vezes seguidas até o peito estar completamente cheio. Ninguém consegue esta proeza (de respirar aos solavancos) se não estiver a chorar. Como também já referi, o nosso nariz também é apanhado. Como está no meio dos olhos, a água que está à espera de ser libertada poderá recorrer a uma via alternativa e seguir pelas fossas nasais. Não sei porquê mas estas águas que poderiam ter vindo a ser lágrimas, quando escorrem pelo nariz, chama-se ranho ou pingo. É um nome muito feio, ranho, mas enfim, eu estou apenas a escrever um ensaio sobre o choro. Todos conhecemos a expressão “chorar baba e renho” e por isso é que estou a falar nisto. Também é verdade que, quando o choro é muito grande, podemos começar a babar-nos. Mas é completamente normal, somos seres humanos e é assim que mostramos a nossa tristeza, por isso nada de ficar envergonhado com a baba ou o renho.
Por vezes também trememos as mãos que muitas vezes colocamos sobre a nossa cara para escondermos as nossas lágrimas, as nossas expressões faciais e a nossa ofegancia. Por falar em expressões faciais... Normalmente cerramos os olhos com alguma força, as sobrancelhas podem encostar-se aos olhos ou podem desenhar um “S” caído na nossa testa, as nossa bochechas sobem, a nossa boca abre-se ligeiramente e os cantos da boca viram-se para baixo. Os musculos faciais contraem-se para ajudar as lágrimas a sair.
Claro que existem choros mais pacificos, onde uma unica lágrima aliviará, naquele momento, a necessidade. Existem diferentes tipos de choros, uns normalmente silenciosos (não provocados ou abafados), outros histéricos, uns hesitantes, outros despercebidos.
Quais as razões desta necessidade de chorar? Normalmente, é tristeza. A morte de alguém, uma despedida, uma desilusão em relação a pessoas ou a si mesmo, uma descrença perante a vida e o futuro, ou coisas (aparentemente) mais superfíciais, uma derrota num jogo de futebol, uma nota mais fraca que a esperada, os nossos pais não nos querem comprar aquela goluseima,etc. Existe também a raiva, o odio que nos fazem chorar. Quando estamos muito zangados com alguém podemos libertar todas essas energias negativas com um choro, este mais silêncioso onde as lágrimas escorrem friamente pela face enquanto a nossa cara mantém uma expressão de raiva. Podemos chorar por causa de nervos ou de medo, por causa de uma dor física, uma queda, uma ferida, um osso partido, uma dor de cabeça. Só um parêntesis: gostava ainda de perceber porque choramos quando nos doi a cabeça. Cansamo-nos dessa dor mas, ao chorarmos, essa dor vai aumentar... Podemos chorar por admiração, por encantamento, pela beleza de algum cenário, paisagem, filme, música, teatro, etc. Podemos chorar de espanto, de alguma novidade que jamais pensamos ser possível (um choro com um sorriso). Também podemos chorar de rir apesar de a única parecença com os choros anteriores ser as lágrimas porque nem sequer existe aquela sensação na garganta, limita-se tudo aos olhos onde, muitas vezes, só quando temos a cara já molhada é que nos apercebemos que estamos a chorar de rir. Mas agora, pergunto, será que podemos chorar sem razão?! Será possível chorarmos apenas porque aquela sensação na garganta apareceu? Eu penso que sim apesar de não perceber bem porquê. Neste tipo de choro não existe a sensação estomacal ou no coração (se não há razão, o coração não nos poderá dizer nada...).
Para concluir, gostava de dizer umas palavras sobre o significado do choro. É uma das reações do corpo que nos une à mente. À excepção do choro sem razão e do choro por dor física, todas as lágrimas têm uma razão psicologica e, para isso, tem que haver pensamentos sobre o assunto. As lágrimas são bonitas porque contêm muita emoção e muitos pensamentos. São redondas, gordas, cheias de alma. E falam. Quando alguém vê outra pessoa a chorar poderá ficar também com vontade de chorar, apenas por ver aquelas lágrimas. Ficará também triste, essencialmente quando conhece o dono das lágrimas que observa.
O choro serve para lavar a alma. Muitas pessoas não percebem isso e evitam chorar. Percebo que não se queira chorar em público, quem nos vê não poderá perceber o porquê daquelas lágrimas mas eu aconselho todos a chorarem. E lanço uma praga a quem disse que “os homens não choram” porque os homens não são de ferro e podem ter momentos de fraqueza quando quiserem. A almofada é sempre uma boa companhia para as lágrimas... Unam-se tristes deste mundo, num choro colectivo onde as nossas lágrimas se unirão todas num rio que apagará a nossa dor de vez...

domingo, agosto 24, 2003

Sou uma adolescente. E, como tal, estou a crescer, a aprender a viver. Assim como os meus colegas e amigos. Assim como os desconhecidos da minha idade. E todos nós temos uma ligeira certeza que o mundo nos anda a enganar. Parece que nos mostraram o mundo cor-de-rosa, um mundo perfeito em que basta querer para ter (coisas boas claro...). O Bem vencerá sempre e o Mal será castigado. É assim que nos educam, nesta base, para que possamos ser justos e bons, para que possamos ser honestos e felizes. E agora, que chegamos à adolescência, dão-nos a oportunidade de ver as coisas com os nossos olhos. É quando a mente também se desenvolve mais, quando nos procuramos encontrar. E quando olhamos de frente para o mundo, vemos que se calhar não é assim tão brilhante, que já não há principes e princesas, cavaleiros e super-herois. Vemos que não vivemos num conto de fadas. E, por vezes, esse choque com a realidade pode ser demasiado brutal.
E então, parece que nada é realmente importante. Tudo de bom era uma mentira e tudo o que poderia valer a pena parece estar escondido. Tudo está contra nós, tudo já parece organizado, estruturado, calendarizado. Não podemos variar nada, temos que nos submeter ao automatismo da vida. Tornarmo-nos "robots". E essa falta de originalidade, falta de alternativas pode tornar-se assustadora para um criança em crescimento que descobre que a sua preciosa imaginação não é necessária. Não merece a pena aqui estarmos, pensamos, porque o mundo não nos dá espaço para a nossa identidade, logo, não precisa de nós, precisa de alguém que deseje ser manipulado e controlado por um estado maior. É essa a nossa ideia de mundo. É essa a ideia que nos é transmitida na nossa idade. Não valemos muito, não podemos mudar o que está mal. Então, o que estamos nós aqui a fazer???
Isto levaria ao suicídio... Não há razões para ficar...
Mas eu gostaria de dar uma vez mais uma palavrinha aos jovens da minha idade que pensam também assim... Que idade temos?? ... Pois é, não é assim tanto. É, provavelmente, um quinto da vida de alguém saudável. E sabemos nós o que é o mundo? Não estou a dizer que não temos razão mas... há muito muito mais para além do que acabámos de descobrir. Se voltássemos atrás, só um bocadinho, sonhar outra vez com o nosso cor-de-rosa, talvez até se encontre algumas parecenças. E a vida traz algumas respostas, alguma liberdade, alguma identidade. Se soubermos procurar. Há tanto para descobrir...
Assusta a passagem de criança para adulto. É por isso que se chama adolescência. Porque a passagem de mentalidades não é fácil. É como estar no escuro e, de repente, passar para a luz. Os nossos olhos ardem, não conseguem ver mas podem saber que aquilo está a prejudicar os nossos olhos. Mas, com o tempo, a luz já não nos fere tanto e aos poucos vamos vendo melhor o que nos rodeia. E, chega uma altura em que a luz já nos parecerá melhor que o escuro onde estavamos. Apesar de, por vezes, continuar a ferir os olhos.
Eu só tenho 15 anos... Não é nada. Quem me dá o direito de dar estas lições de vida se só tenho 15 anos?! Ninguém. Têm razão, não percebo muito disto. Mas também, quem é que percebe. Eu só queria que os jovens da minha idade, e mesmo mais velhos, mais novos, os que pensem nisto tudo, que não desistam do nosso mundo, por mais podre que pareça. Porque podemos sempre encontrar um bocadinho que se aproveite. E esse lugar está à nossa espera, não podemos deixar de acreditar nele. Fiz-me entender?!......

terça-feira, agosto 19, 2003

Gosto muito de Filosofia. Nota-se... Gosto de pensar em questões que jamais poderei saber a resposta e que, muitas vezes, também preferia não saber. Gosto desses pensamentos que vão para lá do óbvio. Perguntas sobre o infinito, a razão, o sentido da vida, a morte. Mas, às vezes invejo quem não pensa nisso.
Tenho alturas que preferia viver como todos vivem, com as preocupações do costume. Pensar apenas no meu estudo para que o meu futuro possa ser de sucesso e sem problemas maiores. Vou apenas estar com os meus amigos sem pensar no fim, sem pensar na morte e sem sequer acreditar que vou morrer um dia e que tudo acabará. Vou viver sem preocupações idiotas.
Pois bem, tentarei. Mas as perguntas, os pensamentos perseguem-me. E, de certeza, não é só a mim. Tenho medo das respostas, não sei porquê. Há quem diga que depois de morto sabemos as respostas a todas as perguntas. Não será informação a mais?!
A sabedoria é considerada um privilégio. É bom saber. É bom aprender. Mas há algo de perigoso na sabedoria. Fica gravada na nossa memória, não podemos simplesmente apagá-la. Somos um computador incompleto, falta-nos a tecla "Delete". Vou fazer uma referência ao Matrix (peço desculpa a quem não viu ... ). O Neo tem a hipótese de escolher se quer saber a verdade ou permanecer na sua vida pacata. Ele não faz ideia o que é efectivamente o Matrix. E arrisca pela verdade. Depois de a conhecer, não quer acreditar, não a quer enfrentar. A sua vida sem esse conhecimento era muito melhor. Mas ele escolheu saber. E, por muito medo que tenha de viver neste novo mundo, já não poderá voltar atrás. Poderia ligar-se ao Matrix e viver lá, mas saberia agora que tudo aquilo não passava de uma ilusão. É por isso compreensível o acto de Cypher ao negociar com os agentes o seu esquecimento da verdade. Ele não aguentou a verdade e preferiu voltar a viver no Matrix e nunca mais ouvir falar disso.
Vou dar outro exemplo no mundo do cinema. O filme "Memento". Um homem com uma doença rara. Não tem memória, esquece-se de tudo passado uns minutos de isso acontecer. Cada vez que ele acorda não se lembra de nada. Por isso, escreve em fotografias ou em tatuagens o que ele tem de saber. Tem um objectivo: matar o assassino da sua mulher. Tem isso tatuado no seu peito, é por isso que ele sabe. Mas no fim, percebemos que ele mente a si próprio para ter uma razão de vida, um objectivo. Podem dar-lhe informações vitais e que ele anseia saber mas que, se ele não anotar, nunca mais se irá lembrar e viverá sempre à procura dessa informação. E vai vivendo com um objectivo que, se calhar até já foi concretizado. Não tem memória. Apaga as informações indesejaveis. Não se lembra de nada. Tem cinco minutos de memória. Seria tão bom poder apagar algumas recordações...
Mas no nosso mundo isso não é possível. Não podemos apagar memórias. Nem conhecimento. É por isso que ele é perigoso. Podemos ter sede de conhecimento mas, a partir do momento que nos dão as respostas às nossas perguntas, por mais indesejadas(agora que já se sabe a verdade) que sejam, não poderão ser esquecidas. Não podemos voltar atrás.
E isso assusta-me. É compreensível, não será? Existem questões de vida que nos serão respondidas pelo tempo. E, se calhar, eu não vou querer saber. Não quero essas questões, não me quero preocupar com elas! Não quero as respostas! Quando morrer,não quero saber tudo... É uma grande responsabilidade, e uma grande dor de cabeça.
É uma das razões para eu às vezes preferir não existir. Mas eu existirei sempre... E as respostas perseguem-me. E, mesmo que eu me faça desaparecer, essas respostas serão dadas nesse ultimo instante. Porquê? É um castigo ... Pela curiosidade humana. Ah, maldita razão, quero o meu instinto e apenas o meu instinto de volta!!...
Sou tão complicada...

sexta-feira, agosto 15, 2003

Hoje só venho aqui para me rir. É por causa da América que ficou às escuras. Acho piada pronto... Um super potência, às escuras. Falhou tudo. Que chatice! Foi só uma coisinha de nada e, puf, foi-se tudo. O caos nas ruas de Nova Iorque (para não falar nas outras cidades...). E é assim que, mais uma vez, os EUA mostram a sua fragilidade.
Será só fachada? Provavelmente... Nada de geradores alternativos. Apenas acusações mutuas entre Canada e America. E o que mais me impressionou foram os americanos. Positivamente, para variar. Vi-os na rua, a cantar, dançar, fazer música, a celebrar este dia diferente. A celebrarem a escuridão! Nada de pânico. Felizes a dormirem na rua. A passearem em frente dos carros bloqueados. Positivo porque não se mostraram envergonhados com o que se passava. A tentar dar explicações para uma super hiper mega potência deixar de funcionar assim de repente. Estavam a divertir-se. Ainda bem =).
E pronto, era só isto que queria dizer desta vez. Rir-me do trambolhão. É como no cinema. Grandes imagens de fundo mas não passam de cenários montados...

terça-feira, agosto 12, 2003

Hoje estou um bocado péssimista... Também não é muito difícil...
Gostava de salvar os que estão perdidos, os desencontrados, os desesperançados, despedaçados. Ás vezes tenho a ideia que consigo. Com algumas palavras talvez posso ajudar e ser um archote na sua passagem. Ilusões...
Pois seja, acreditarei que as conseguirei salvar. Então, o que é que eu posso dizer. Que a vida vale a pena?! É uma hipótese... Mas convém justificar. Ora bem, não há-de ser assim tão difícil! Tanta coisa bonita! A natureza só por si valerá a pena. O céu, o verde, os seres vivos, o milagre da vida. Alguém viverá só para ver o nascer do sol?
E os objectivos de vida? O que podemos alcançar dela? Uma família. Amor. E sempre temos os nossos amigos com quem rir. Um emprego gratificante no qual fazemos o que gostamos. Sempre podemos lutar por isso, não?! Lutar por uma vida amena e segura.
E haverá mais que poderei dizer. Não há? E aí salvarei os que me ouvirem...
Não sei porquê mas parece que me iludo. A vida não é mais que um instante. Uma poeira no deserto do Universo (é aqui que entra o pessimismo). Ultimamente tenho pensado numa razão, num lema, num objectivo concreto e que prenderia qualquer um à vida. Mas ... não encontrei. Tudo isto que aqui disse, sim, vale a pena (acho eu... sempre me disseram que sim). Mas bastará? Por vezes, pensar que não somos nada, que não podemos mudar (quase) nada poderá abater-nos. Eu posso pensar na vida de uma pessoa em dois segundos. Nasce, anda na escola, passa pela infância e adolescência e cresce, vai para a Universidade, tira um curso, arranja um emprego, encontra a mulher/homem da sua vida, casa, tem filhos, descasa, volta a casar, envelhece, reforma-se, fica doente e no momento de dor da sua doença falece. E pronto, nunca mais ninguém se lembrará do Fulano. Talvez os filhos e os netos. Mas eu conheço pessoas (da minha família e tudo) que não se lembram sequer do nome dos avós. E pronto, desapareceu um ser. E a vida valeu a pena? Morreu feliz e concretizado?
...
Agora de repente até percebi o meu problema... Que idiota, estou a pensar em tempos muito longos. Estou a sair do meu corpo e a ver o filme de fora, como um Deus que não sente o tempo. Que triste... tenho que pensar em termos humanos. Em horas, semanas, meses, anos. E então aí, nesse tempo humano, talvez uma vida tenha significado, talvez mude alguma coisa, talvez seja importante para alguém ou para alguma coisa. Se calhar, nestes meses a minha função aqui é escrever isto e fingir que consigo salvar os que rastejam. E talvez, ao pensar aqui que não o consigo, até os esteja a salvar. ERa bom não era? Assim a minha vida já teria alguma importância. Até porque eu nasci com um propósito. Nasci porque os meus pais quiseram. Mesmo que não esteja aqui por mais nada, estou aqui para representar ,talvez, o seu amor. Não é?
E continuaria aqui a divagar ( agora até me estava a apetecer =) ). Mas por hoje chega. Que os pensamentos sucedem-se muito depressa para os conseguirmos explicar convenientemente...

terça-feira, julho 29, 2003

Uma das condições humanas que mais odeio é o corpo. Tantas vezes me sinto presa a esta massa que me arrasta, da qual não me consigo libertar. Quero explodir, rebentar, libertar-me mas a minha alma não pode fugir. Quando as emoções são demasiado fortes, o meu corpo corroi-me. Por vezes, fico demasiadamente grande para este objecto tão pequeno e insignificante.
E talvez esse sentimento de prisioneiro do nosso próprio corpo ainda é o menos perturbador. Quando as doenças nos contaminam sentimos ainda mais o peso brutal de um corpo que nos consome, que nos arrasta. À medida que a doença nos consome e nos corroi, apercebemos então da fragilidade da vida e da nossa dependencia do corpo. Não poder fazer nada sem um corpo... A nossa alma, por mais grandiosa que seja, não passará além do espaço que ocupamos com o nosso pequeníssimo corpo. Uns mais baixos, outros mais altos, uns fortes, uns doentes, uns exagerados, uns deficientes.
Talvez por tudo isto eu sonho com a libertação da alma do nosso corpo após a morte. Gostava tanto de poder pairar por aí. E mesmo que isso não aconteça, é sempre bom termos algo bom em que acreditar.

sexta-feira, julho 25, 2003

Porque será que nos consideramos seres superiores aos outros seres vivos(e não vivos!) que habitam o nosso planeta? Somos assim tão importantes? Tenho muitas duvidas disso... Somos nós que, aos poucos, vamos destruindo o planeta com o nosso desejo de nos expandirmos e de nos apoderarmos de tudo. O desenvolvimento, a tecnologia... tudo muito bonito. Eu sei, muitas vantagens, muitos progressos. Mas também muita destruição. Quantas pessoas já pararam para pensar quanto tempo é que o nosso planeta ainda aguenta?
Tenho muito tema para debater sobre o assunto. Podia falar da camada do ozono que se está a destruir. Podia falar da destruição de florestas importantíssimas para a respiração do planeta. Podia falar da poluição das cidades que, para não referir o resto do ambiente, cria bastantes problemas de saúde a quem lá vive. Podia falar da sede de poder que cega tanta pobreza, fome e dor pelo mundo inteiro. Podia falar dos rios envenenados, das especies extintas, das energias não renováveis... Tanta coisa que está mal e que não se vê. Que se esconde num mundo de progresso, ciência e felicidade. Mas ainda há quem veja por detrás do pano.
Ouvi algures que dentro de 30 anos já não haverá água potável... Talvez aí, nessa altura, as pessoas percebam os erros que cometeram no seu modo de vida. E quando não houver mais petróleo, que também não demorará muito mais tempo a desaparecer, os poderosos entrarão em crise pois não encontraram mais nenhuma fonte de energia tão diversificada como o petróleo. E só aí darão credibilidade às energias alternativas. Porque agora, o dinheiro do estado é gasto em guerras. Por exemplo, nos EUA, o dinheiro gasto em armamento e em mesquices de guerras é muito mais que o dinheiro investido na educação.
Somos uma espécie muito ... estranha. Como é dito no filme "Matrix", somos como um vírus. Mas que, aos poucos, se destroi a si próprio, porque o significado de quantidade parece se sobrepôr ao de qualidade.
Tenho razão quando me queixo tanto deste mundo moderno?? Estarei a ser injusta para os poderosos, para os presidentes, para os despreocupados, para a população humana cujas capacidades são surpreendentemente superiores à das outras especies? Quem me dera que sim... Quem me dera que toda a minha vida viva em condições sememelhantes às que vivo agora. Quem me dera que o poder e o dinheiro não me subam à cabeça e que daqui a muito tempo, ainda me lembre do que aqui escrevi.
Mesmo que se queira mudar estas mentalidades, é muito difícil fazê-lo. Isto porque o mais prático, o mais barato, o mais comum é tudo o que mais convem ao estado e ao poder. Não quero comprar carro porque polui muito, vou andar de bicicleta. Pois... mas onde? Eu sei que em muitos países da Europa existem estradas para bicicletas, o que eu aplaudo de pé, mas aqui em Portugal é raro ver isso. Quase que nos obrigam a comprar carro. Isto é só um exemplo (talvez nem é o melhor...).
Por hoje chega porque até acho que isto são apenas palavras soltas e que se calhar nem soarão bem quando as reler. Mas enfim, aqui fica o meu testemunho.

"Depois da última árvore sem frutos, o último rio envenenado, o homem perceberá que o dinheiro não se come"

segunda-feira, julho 21, 2003

They tried to make me perfect, they tried to make me gorgeous, they tried to make me idiot. They did, they made me furious.
Their pointed fingers make my eyes blood. Their handcuffs don't let my bruises cure. My voice is covered up by their horns. And they are expecting my hapiness...
They are not as good as they think, and i'm not as obidient as those dogs. I'm not the only insignificant thing they are trying to blind with fog.
The days are drawing in and no more the sky will be blue. Lick their feet, you'll get a cookie. Don't be you...
Arrested for having a life, interned for wishing peace, silented for an inocent word, ignored for the diference.

BUT I'M STILL ME!!!

domingo, julho 20, 2003

Será que alguma vez podemos ser verdadeiramente originais, inovadores, diferentes?! Será que alguma vez poderemos criar algo sem qualquer influência do mundo e das pessoas que nos rodeiam?
Gosto de criar música. Mas tudo o que sai da minha viola é um reflexo de uma música que eu considero especial. "Gostava de tocar uma música parecida com aquela, tem aquele elemento que a difere das outras." Mas assim, se eu crio uma música tendo no pensamento outra, será que sairá original?
Não me consigo abster de tudo isso. Não é só na música ou na escrita. Também nos meus pensamentos. Certas pessoas, só por expressarem uma opinião sobre um assunto, influenciam-me na minha própria opinião. Será que eu também os influencio? Isso seria estranho... Então, quem teria dito a primeira das opiniões ou a opinião original, diferente, que, por sua vez, influenciaria tudo o resto?! Será que essa opinião original nunca existiu? Seria possí­vel, se houvessem diferentes interpretações de algo dito... E mesmo assim, não sei...
Apesar disso, acho que é possí­vel pensarmos por nós próprios. Só o facto de eu ter conseguido chegar a esta conclusão, acho que demonstra já uma certa ... independência. Talvez um dia chegue a minha altura de inovar como já muitos o fizeram.
Um exemplo de originalidade na música é Mr. Bungle. São, neste momento, uma das minhas bandas favoritas pois, reunindo sons de todo o tipo, muití­ssimo diferentes, fazem músicas que, apesar de terem sons completamente distintos no espaço de três ou quatro minutos, têm uma ligação perfeita e "audí­vel".
Pode ser que, qualquer dia, o original me influencie e me mostre uma novidade para eu poder criar... Não quero desaparecer sem deixar algo novo, sem ser tudo em vão... Mas não há-de ser só isso que eu quero fazer.

terça-feira, julho 15, 2003

Aqui fica o site do Observatório de Lisboa a que me referi no texto de dia 14 --> http://www.oal.ul.pt/

E o meu mail, para quem quiser mandar comentários ou o que quer que seja (decente) --> atprata5@hotmail.com

segunda-feira, julho 14, 2003

Por vezes costumo ir a palestras sobre Astronomia no Observatorio de Lisboa (para quem estiver interessado, todas as ultimas sextas-feiras de cada mes as 21:00). São sessões bastante interessantes, com investigadores desta area que nos falam sobre as novas descobertas e projectos futuros. É sempre bom saber mais, nao so sobre o que nos é proximo, mas tambem o que esta para alem do nosso mundo. Mas nao é daquilo que aprendo la que queria abordar. É sobre o que me assusta nessas alturas.

Somos tao insignificantes, tao pequenos e impotentes. A Terra é um planeta pequeni­ssimo, unico, é verdade, raro e precioso. Mas nao somos (quase) nada. O Universo é enorme, se nao, infinito. E a minha pequenez assusta-me. Cometas, asteroides, objectos do Espaço que frequentemente atingem e destroem outros planetas, estrelas que se juntam e que atraem outros planetas. E nós, aqui neste pequeno mundo, será que não nos acertam?! Já ouvi dizer que dentro de 30 anos um grande asteroide vai colidir com o nosso planeta e que poderá destruir um continente... Parecemos inalcansaveis, todos estes estudos parece que se aplicam apenas a espaço extra sistema solar. Já quase ninguém olha para cima, para o céu, para as estrelas... Já quase ninguém imagina o que haverá para lá da nossa atmosfera. E aí­ está outro ponto que me assusta.

As descobertas mostradas nas palestras baseam-se em leis físicas. Leis que se consideram que se mantenham em todo o Universo. Então... se o Universo é tudo, se essas leis se aplicam em todo o lado... não nos deixam espaço para muita imaginação... Todos nós (acho eu...) já imaginámos mundos extraterrestes, em que alguns dos nossos sonhos poderiam ser possí­veis. Lembro-me de uma série que dava na televisão ("The twilight zone" se não estou em erro...) em que haviam várias dimensões e em que regras e leis fí­sicas da Terra não existiam nesses planetas. E eu imaginava planetas sem gravidade em que pudessemos flutuar e voar livremente... Mas isso jamais seria possí­vel pois nas leis do Universo, todo o corpo com massa teria gravidade... Numa das palestras que presenciei falou-se de planetas fora do Sistema Solar. Já foram encontrados alguns mas nenhum com possí­bilidades de existencia de vida. São precisas demasiadas condições para nos depararmos com seres vivos fora do nosso planeta. Somos raros... Unicos, talvez.

Lá se vai o meu sonho de novos planetas, novas culturas, sem leis fí­sicas. Quando penso em todas estas matérias, novas questões aparecem em catapulta e eu não consigo transmitir tudo o que sinto para o monitor... Tanta coisa que ainda posso abordar neste tema. O tempo, por exemplo... A nossa vida não é nada... Um instante apenas. Não mudamos nada, passado o nosso tempo somos depressa esquecidos, não alteramos nada. Bem, podemos alterar o planeta, destrui-lo como muita gente o faz mas isso já é outro assunto que de certeza que abordarei mais vezes...

E já me estou a dispersar do tema. Mas o tema é o Universo, o infinito, o nada que nós somos, o nada que fazemos, o nada que podemos fazer, o nada que nos envolve. O tudo... confuso, não?! Sinto que escrevi muito mas que não consegui dizer nada. Mas aqui vai um esboço do que assusta.

Só³ mais uma referência. Todos os dias, todos os minutos, dezenas de pequenos meteoritos entram na nossa atmosfera e apenas alguns deles chegam à superfi­cie terrestre. Uma vez, um meteorito cai­u em cima de um carro de um senhor, na America (pois... só podia ser na America, já se vai ver porquê). O carro ficou desfeito e o seguro do carro não quis pagar o arranjo. Não estava no contracto, seguro contra quedas de meteoritos no carro... O dono do carro vendeu o meteorito (no fim de contas, caiu em cima do seu carro!), ganhou imenso dinheiro e comprou outros carros, ficou rico. É sempre bom saber destas histórias, sempre deu para nos rirmos um bocado no Observatório.

Aconselho a qualquer um a aparecer no Observatório, mesmo que não perceba muito do assunto. Ou então assista às palestras pela net, peço desculpa mas não sei o site do Observatório mas assim que souber, digo. Eu também não percebo muito da teoria e dos termos que são empregados nas palestras, mas tento perceber, aprender, aplicar conhecimentos adquiridos... Às vezes... Quando não me assusto muito...

sábado, julho 12, 2003

Sou tão ingénua... Se calhar nem o sou, talvez só o queira ser. Pensar que não preciso de me preocupar porque não há-de ser nada de mal, más interpretações do real. "São só vincos, não é?!"... Todos aqueles histórias de problemas de jovens como eu que nos entram pelos filmes da grande pequena America, problemas psicológicos e sociais que resultam em actos desesperados, fazem a nossa pura ingenuidade dizer que são apenas filmes, que só naquele país é que poderão acontecer coisas daquelas e muito raramente acontecem, impossível aquele sofrimento todo sem qualquer suposta razão... Aqui, ao meu lado, no meu pequeno grande mundo, tudo é rosa (desbotado...), claro que todos temos problemas mas nada que não se resolva, a felicidade é facilmente alcansada. Será? Até que um dia a realidade bate-me à porta e cala a minha ingénua pessoa. "Tu sabes perfeitamente o que é". Pois sei. Mas por vezes, preferia nem ter que saber. Era tão bom aquele cantinho alegre que me presentiavam. Aqueles sorrisos premanentes. Seriam apenas mascaras? Ou será que tudo se abateu naquele momento em que me abriram os olhos, no momento em que me disseram que se cerrasse com tanta força os meus olhos, poderiam começar a arder. Agora abertos, também doem. Mas assim já consigo ver, talvez não muito nitido, mas já posso estar preparada para a realidade. A ingenuidade continua lá, de vez em quando lá fecho os olhos. Volto ao cor-de-rosa à procura de antídutos para o sofrimento, por vezes, não para o meu, algo do sonho, doce e puro, que ainda se poderá transpôr para a vida. E muitas vezes não encontro, invento. Como agora. Eu sei o que é, mas aquilo que eu dava para serem apenas vincos...

quinta-feira, julho 10, 2003

Vazio

Sinto-me oca,
Sinto-me vazia,
Sinto-me sem inspiração
Para criar poesia

Sinto-me fraca,
Sinto-me cruel,
Sinto-me inutil
Como folha de papel

Sinto-me estranha,
Sinto-me louca,
Sinto-me com medo
Da minha própria boca

Sinto-me livre,
Sinto-me leve,
Sinto-me a pairar
Muito em breve