sexta-feira, dezembro 30, 2005

New Year's Eve Prayer - Jeff Buckley

you my love are allowed to forget about the christmas you just spent stressed out in your parents house

you my love are allowed to shed the weight of all the years before like bad disco clothes, save them for a night of dancing, stoned with you lover

you my love are allowed to let yourself drown every night in bottomless wild and naked symbolic dreams

you my love in sleep can unlock your youth and your most terrifying magic and dreaming is for the courageous

you my love are allowed to grab my guitar and sing me idiot love songs if you lost your ability to speak, keep it down to two minutes

you my love are allowed to rot and to die and to live again more alive and incandescent than before

you my love are allowed to beat the shit out of your television, choke it's thoughts and corrupt its mind kill kill kill kill the motherfucker before the song of zombiefied pain and panic and malaise and its narrow right winged vision and its cheap commercial gang rate becomes the white noise of the world (turn about is fair play)

you my love are allowed to forgive and love your television

you my love are allowed to speak in kisses to those around you and those up in heaven

you my love are allowed to show your babies how to dance full bodied, starry eyed, audacious, supernatural and glorified

you my love are allowed to suck in every single endeavor

you my love are allowed to be soaked like a lovers blanket in the New York summertime with the wonder of your own special gift

you my love are allowed to receive praise

you my love are allowed to have time

you my love are allowed to understand

you my love are allowed to love

woman disobey little man believe

you my love are a rebellion

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Ponham todos uma velinha para que 2006 seja melhor que 2005. Tem de ser melhor...

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Não sei como cheguei aqui. Nunca pensei seguir este caminho, nunca julguei ser possível encontrá-lo sequer. O que é facto é que surgiu de mansinho, tocou-me na mão e eu segui, confiante. Como uma rua numa cidade deserta, uma noite sozinha, uma brisa que nos leva por ali, as luzes amareladas que nos mostram o caminho, visível e seguro, por mais desconhecido que seja.
E agora cheguei aqui. Só há uma decisão a tomar e chegou a altura de o fazer. Termino o percurso que tanto me tem agradado ou paro, submeto-me ao medo de ficar mais só do que sozinha e volto para trás. Qual é a dúvida afinal?
Recordo-me do que já percorri. Sinto os teus dedos tímidos passearem a medo ao longo dos meus cabelos, aproximando-se da minha face, provando-a, sempre na penumbra daquele momento. Mais ninguém os vê, apenas os sentimos. E seguem, entusiasmados com a minha recepção, à procura dos meus. Esperam-nos. Vês? Segui o caminho, recebi-os com ternura. E naquele dia nunca cruzámos o olhar, as mãos entrelaçadas disseram mais do que o possível.
O tempo voa. E que já percorremos desde então… As brincadeiras que se seguiram, as carícias inocentes, os gestos leves, o toque doce, sempre sempre na penumbra. Como se nem nós o soubéssemos, como se fosse um segredo das nossas partes.
Até que, um dia, os olhares cruzaram-se. E foi nos teus olhos que li a nossa história. Não era a chegada, mas sim o percurso. E pedias-me inconscientemente que me decidisse a seguir-te até ao fim ou a largar a brincadeira.
Nunca a quis deixar. Tinha apenas medo do fim do percurso, do que surgiria depois. Se fosses como eu compreenderias. Enquanto pensava no que me tinhas pedido, não fui capaz de te abandonar. O teu toque era tão quente.
E depois veio aquele momento. Mostraste-me o caminho. Caminhámos os dois de olhos cerrados e tão naturalmente os lábios encontraram-se. Nenhum de nós pensou no que significava. Simplesmente era. Era impossível evitá-lo, não podemos negar.
Claro que dessa vez foi perto demais de mim própria. Acordei assustada, o tempo tinha-se esgotado. Mostraste-me o destino do teu caminho. Sem te aperceberes, exigiste-me uma resposta urgente. E para mal dos meus pecados pensei, pensei, pensei.
Mas agora estou aqui. Estou em mim, completa. Lembras-te de como me aproximava vagarosamente de ti quando ensaiávamos a nossa dança? É assim que me chego de novo.
Leva-me para casa. Mostra-me o caminho como me mostraste antes. Não sei porque parei, porque duvidei de ti, sempre soube que tu eras o meu caminho e o meu destino. Nunca ninguém me levou pela mão com tanta ternura e sinceridade. Cuidaste tão bem de mim. Chegou a altura de caminhar a teu lado, mostrar-te o quanto quero aqui estar e o quanto feliz estou por isso.
Vem depressa. Leva-me. Vou seguir-te para onde fores. Vamos para casa, a nossa, a morada do fim desta estrada deserta. E vamos sentar-nos, tão confortáveis como sempre, aninhados em nós, certos do que somos e vamos rever o nosso filme, de novo de mãos abraçadas, inquietas, mas de gestos doces. Tens o coração tão aquecido como o meu. Sinto-o pulsar no meu peito. Deito a cabeça no teu ombro, espreitas-me e, de olhos escondidos, eu sorrio. Estou em casa.

sábado, dezembro 03, 2005

Ainda hei-de escrever algo que não me soe mal lido em voz alta
Algo que não me embarace
Que eu não me importe que toda a minha família leia
Ou que repitam à minha frente
Vocês sabem como não me sinto à vontade com isso
Talvez precise de fazer as pazes comigo antes de conseguir
Atingir a certeza do que quero dizer
De modo a defendê-lo perante qualquer pessoa
Aí sim, é possível que aceite o que escreva
E, depois, que me leiam à minha frente
Que me comentem, que me critiquem, que me elogiem
Porque agora, sinceramente...
Tenho vergonha

sábado, novembro 05, 2005

É muito ano... Tenho de pensar.

Esta idade tem de ser pensada. Pensar no que passou, no que se segue, no que terminou, no que se inicia. Pensar em quem sou e o que represento. Daí que, ao pensar em mim, ao querer falar de mim, tentar, de novo, dizer quem sou no meio de frases encobertas, apercebo-me que não posso seguir o caminho comum. Eu não sou este corpo ou estes olhos, sou quem me vê, quem me sente, quem me lê, quem me sorri. Sou aquela que me reconhece nos textos sem nunca me ver e que me emociona em tudo o que faz. Sou aquele que me vai acordando aos poucos, o que se recusa a deixar-me ir atrás de quem me quer prender. Sou aquela que mostra o que é ter realmente esta idade, a que me diverte-te tanto. Sou aquele que me faz ver a sorte que tenho em estar onde estou. Sou aquela que sempre seguiu ao meu lado, que me lembra constantemente que a amizade pode ser para sempre. Sou aquele de quem nunca ouvi a voz séria e pesada, sempre alegre e vivo. Sou aquela cujo sorriso me carrega a alma e me faz acreditar em tudo o que preciso num abraço silencioso. Sou aquele que continua a puxar por todos aqueles pensamentos que constantemente tento esconder bem fundo para não serem ouvidos. Sou aquela que me ensinou o que a vida realmente é, as suas amarguras, as suas delícias, o seu tempo. Sou aquele que me fez acreditar que um sorriso é sempre possível numa face pesada. Sou aquele que me ensina um pouco mais sobre o que me envolve, o que me estima sem me querer dizer. Sou aquela do sorriso enorme que me aquece o pedaço de mim que julguei já ter perdido. Sou aquela que me mostra o quanto a espontaneadade que ignorava pode ser libertadora. Sou aquele que me explica a loucura dos anos.
E sou aquela que me mostrou primeiramente que a inteligência se pode esconder em palavras timidas. E aquele que partilhou e partilha tantos sonhos comigo. E aquela que se torna cúmplice dos meus actos controladamente ousados. E aquele que foi o primeiro a quem reconheci simpatia. E aquele que me dançou num momento tão especial e num sítio tão longe. E aquele que não se perde em si ou no tempo. E aquela que me mostrou que uma amizade, por vezes confundida, pode levar a lutas merecedoras. E aquela que me acompanhou em situações tão bonitas e permanece e quer permanecer a meu lado. E aquela que dança comigo num sorriso mútuo e feliz, livre e sincero. E aqueles que agora me encontraram e me surpreendem com a sua entrega imediata.
E, talvez um pouco mais que tudo isto, sou aquela que nunca sairá daqui, que estará sempre por mim, que deu a vida e deu-me a vida para que possa estar aqui hoje, nesta data tão estranha a tentar deixar algo escrito para que o dia não se desvaneça tão depressa como esta hora.

Obrigada por serem-me.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Chamaste-me morta. Já não é a primeira vez que me tratas por viva ou morta. Mas sempre desviaste o assunto, dizes e logo a seguir, sem me deixares reagir ou responder, "Pronto, não digo mais". E fico sem perceber porque me olhas dessa forma. Não me ofendes, sabes que percebo o que dizes nessas frases, mas gostava de perceber porque o repetes tanta vez, porque são os dois adjectivos que mais gostas de utilizar comigo.
E estou morta agora.
Compreendo-te. Tens razão. Morri por dentro, vê-se pelos meus olhos. Falas-me e não te oiço com o mesmo entusiasmo com que fazia. E és a única pessoa capaz de me entusiasmar. Fugiu-me. Sigo atrás de todas estes indivíduos que nos rodeiam, também eles seguindo-se uns aos outros, vamos todos dar ao mesmo sitio. Já não sei o meu percurso, sigo aquele que me traçaram. Morri e deixo-me levar, as águas carregam-me o corpo. Não estou feliz, não estou triste. Sou um sorriso falso, uma amizade fingida, não gosto de vocês, não vos conheço, não me conhecem, não sabem quem fui uma vez nem aquilo que sonhei ser, não quero que tentem animar-me, não quero que reparem no meu olhar sério, não quero a vossa amizade. Está suja. É falsa. Não quero prendas, não vou conseguir fingir o sorriso. Porque será que deixei de me conseguir esconder? Porque será que agora todos veêm quando estou em baixo, quando me perco nos meus pensamentos, porque não posso ter duas vidas, uma interior e outra exterior sem que me olhem daquela forma? Não quero que se preocupem, sinto-me idiota por estar assim, não quero que nas suas cabeças pensem o quanto idiota sou por estar assim. Por isso queria esconder. Mas eles conseguem ver. Não queria...
Porque são felizes? Não consigo caber na sua felicidade, não a vou perturbar, não quero... Mas preciso de alguém...

segunda-feira, outubro 17, 2005


Não consigo...

Não consigo mesmo...

Por muito que tente...

Não dá...

Não consigo, não consigo...



Não consigo deixar o blog...


Até breve.

terça-feira, setembro 20, 2005

Vou encerrar o blog.
Cheguei hoje à conclusão que vou deixar de ter vida própria, fora de fertagus, FML, livros, apontamentos, anatomia, prácticas, exames, professores, almoço , estudo estudo estudo... acabou. PUFF tudo aquilo que nunca chegou a existir. Ah sim, a esperança existiu (e com tanta força).
Não vejo tempo para escrever. E para quê? certo? não me ajuda a decorar os ossos do crânio. Se já durante este ano lectivo (passado...) tive dificuldades para vir cá deixar umas palavras poucas, este ano parece-me impossível. Acabou.
(já oiço atrás de mim... "O que estás a fazer? Isso não é estudo, pois não?!")
Espero que percebam todas as ironias que escrevi aqui.
Desculpem-me, estou deprimida.
Um brinde à esperança, à liberdade, à 1ª escolha, a oito centésimas, a Coimbra e a tudo aquilo a que eu nunca terei direito. Txim txim!
Até sempre, não me esquecerei de quem me leu, de quem comentou, de quem não precisou de comentar. E de quem me inspirou.
Deixem as vossas condolências. Ou não. Pode ser que ressuscite. Ou não.

domingo, setembro 18, 2005

Finalmente saíste. TEnho ainda a mão pousada na porta que te fechei e o olhar na fechadura que me isola. Devagar, trago a saia até ao sofá onde me aninho. Descalso-me, respiro fundo, fecho os olhos, escondo-os atrás do pulso. Não era assim, mas já não posso deixar de o ser. Não tenho pena de ti, não sinto nada. Ainda vejo os teus olhos tristes e pequeninos fitando os meus, procurando algo mais do que te dei. Quando chega a altura, todos parecem trazer sinceridade no olhar. Seria?
Deixei de acreditar. Oiço os teus passos lentos na rua, o arrastar dos teus pés na água que chovia. Afastas-te como devido. Não acredito em ti, não acredito nos teus olhos. Tudo o que me disseste não significa nada para mim por muito importante que seja para ti. Como poderias...? É tão humilhante ver-te assim, cuidadoso nas palavras, ansioso no coração, imprudente na escolha.
Querias mesmo a minha companhia? Isso sei que sim, apenas a razão não me convence. Que olhos tão penosos, que palavras tão melosas. Que enjoo, que mentira. Costumava ceder com pouca força, um sorriso indiscreto bastava para me derrubar. Todos merecemos ser felizes, pensava, até eu. E seguia, confiante, cega, domada. Mas a magia nunca chegou. Nunca quis proteger ninguém, nunca quis parar para ver alguém adormecer, nunca me senti reflectida, sempre estive só, com medo de falhar, de não ser o esperado, de não servir. Deixei então de acreditar. Eram apenas forças que depressa se esgotam, desejos que se concretizam.
Como podias então querer que acreditasse em ti quando dizes que cedeste por mim? Que não é brincadeira, que nunca sentiste nada assim, tens a certeza, só me queres a mim, não consegues pensar em mais nada? Não. Esquece-me depressa antes que a oportunidade de seres cegamente feliz com outra te passe ao lado. Não, eu não sirvo para ti. Não, nem te vou dizer que te quero como amigo como aparentemente se faz nestas ocasiões - como um penso rápido sobre um membro decepado - , se te arder mais agora pode ser que o engano te passe mais depressa. Ficas mudo, perdido, e eu, amigavelmente, digo-te num sorriso que se faz tarde, preciso de descansar e é melhor aproveitares agora que parou de chover. Recuas, sais em silêncio. e agora oiço-te afastares pela rua.
Enfim, só. Ele não compreenderia, ainda não percebeu que... isso não existe. Eu tinha tanto para dar mas perdi-o todo. Não me consigo imaginar a dar novamente. Não agora, não com ele, não com ninguém e tempo algum. Ninguém poderia estar comigo, apenas comigo. Sou insuficiente, diriam. Ele diria. Daqui a dias exigir-me-ia gestos doces, palavras mimosas, carícias pesadas. Seria tudo forçado. E olhar-me-ia julgando-me fria, morta por dentro, não me amas, nunca me amaste. E eu, assustada, seria incapaz de lhe explicar. E ele fugiria de mim, curado finalmente, sem nunca saber que o amava realmente...
Já não oiço passos. Mais ninguém em casa. Não o amo, claro. Nem acredito nisso. Mas se tivesse cedido teria acreditado novamente que tinha descoberto o verdadeiro significado de amor e teria martirizado muito mais a minha pobre alma. Assim permaneço sossegada, sem dores, sem martírios. Eles têm maior capacidade para lidar com este tipo de respostas, mais cedo ou mais tarde aqueles olhos penosos estão depostos noutra pessoa. Tenho a certeza...
Já começou. O aperto no peito sempre veio. Deixo-o ir, é como as marés, pode aumentar muito, tira-me o fôlego, dificulta-me a respiração, mas acaba por abrandar e fica tudo como dantes. Calculei que viesse. Ainda não percebeu que isto é o melhor para mim.
Antes de vir para cá revi tudo na minha cabeça. Vi tudo isto acontecer e fiz tudo o que tinha combinado. Não julguei que fosse capaz, mas fui. Tenho orgulho em mim, venci-me, venci este estúpido aperto que me sufoca agora que tudo já passou. Não haveriam mais ilusões nunca mais. Especialmente agora quando a cabeça não distingue a alma do corpo (há distinção?!...). Ninguém me quer, não podem querer. Quem realmente me conhece não me pode querer. Ele não me conhece. Não o mereço, não me merece.
(Não sou capaz...)
Foi tudo tão bem ensaiado na minha cabeça. Correu tudo como planeado. Só há um pequeno pormenor. É que... tudo isto precisa de um propósito, um objectivo. Qual seria? Paz, sossego, solidão. Isolamento. Todos merecemos ser felizes (até eu). Tudo para nada. Querias mesmo? Só neste breve instante penso como seria se fosse ao contrário, se tivesse cedido uma vez mais. Só preciso de uma carícia de vez em quando. Mas não, páro. Não vou por aqui. Fiz bem. Solidão. Dormência. Ninguém sabe ou saberá. Deixo-me ficar, já de cara lavada, a descansar desta batalha interior. Tudo para nada...

terça-feira, setembro 13, 2005

<levanto-me e vou até à fogueira, falo para todos mas espero que alguns me oiçam com mais atenção>

Estou aqui graças meu irmão. Tanta vez o ouvi contar todos os pormenores hilariantes e alegres dos dias que aqui passava. Mas, apesar disso, nunca cá quis voltar, tinha demasiadas más recordações para querer tentar de novo. Até que me apercebi que seria a minha última oportunidade de vir e de matar todos os fantasmas que me perseguiam desde as únicas vezes que cá estive, quando era demasiado pequenina para saber esquecer. E, num acto de coragem (por muito exagerado que pareça, foi mesmo coragem), decidi vir.
Nas semanas que precederam o início destes dias estive muito nervosa, só pensava "o que raio vou eu lá fazer?!". Ao contrário de vós, tinha apenas más, péssimas expectativas para estes dias. Para quem se lembra de mim nos primeiros tempos, são capazes de me recordar mais calada, muito assustada, receosa. Adormecia nervosa, com medo do dia seguinte.
Tudo isto para dizer que sinto-me muito feliz por ter tido essa coragem de cá voltar. Ainda há pouco, ali sentada, pensava que não vou levar nenhuma má recordação para casa. Mal cá cheguei fui muito bem recebida por todos, não julguei que viesse encontrar um ambiente tão bom entre as pessoas. Conheci muita gente nova, gente tão diferente de mim que nunca pensei vir a conhecer, gente que me mostrou novas formas de encarar as coisas. Gente que me ensinou a ser aquilo que eu sempre quis, mas nunca tivera a força suficiente para ser. Aqui tenho a possibilidade de ser quem quiser, ninguém espera nada de mim, ninguém sabe o que fui lá fora, ninguém me conhece, nem mesmo eu. Esperam apenas a minha entrega neste espírito que me fascina.
Queria agradecer àqueles que estiveram mais junto de mim nestes dias. Foram eles que me mostraram que posso ser quem eu quiser, sem medos ou preconceitos. Cresci imenso aqui, surpreendi-me comigo própria, com o que consegui alcançar nestes poucos dias. Fez-me tão bem conhecer estas gentes, descobrir novas caras, novas formas de estar, novos sorrisos, novas brincadeiras, novas emoções. Só tenho de agradecer a todos por tudo o que me deram sem sequer terem a noção disso. Garanto-vos que saio daqui uma pessoa diferente, feliz por ter superado todos os fantasmas que me perseguiam, por ter criado novos laços de amizade e por ter alcançado um novo patamar na minha vida (o patamar).
Não me sinto no direito de fazer um grande discurso, ainda não me sinto parte desta grande família que se reúne uma vez por ano aqui, por mais que queira e por muito que me tenham recebido nesse espírito. Este ano vim como se tratasse de uma visita, não me vai custar tanto não voltar cá como vos custa a vocês que cá estão desde os quatro, cinco anos. Mas admiro-vos e sinto a vossa tristeza. E, finalmente, compreendo-a. Nunca me perguntei se gostaria de cá voltar se pudesse. Mas, agora, depois de aqui estar estes dias e de pensar bem, digo-vos, sim, se pudesse, voltava.
Até sempre...

<vou-me sentar>

sábado, agosto 27, 2005

Acordei estranha. A culpa é do sonho. Não devia ter sonhado convosco. Mas precisava de falar e fui procurar-vos à noite. Encontrei-vos. Olharam-me e deixaram-me estar. Gostei tanto da vossa companhia. Só que é apenas um sonho, nunca me dirão nada do que ouvi hoje à noite, nunca vai acontecer. E, enquanto descansava convosco, acordei e vi que estava sozinha. E lembrei-me que não vou estar convosco tão cedo. E, quem sabe, nunca mais da mesma forma. Doi-me muito o peito hoje. Sinto-me adormecida, braços dormentes, movimentos lentos e incertos. Estranha...

E faltam poucos dias para voltar lá. Mas não vou falar sobre isso.

sexta-feira, agosto 26, 2005


If you knew

If you knew how I miss you
You would not stay away
Don’t you know how I need you.
Stay here, my dear, with me.

I need you here beside me
Forever and a day
Together, never parted
Just you, just me, my love

I can’t go on without you.
Your love is all I’m living for
I love all things about you.
Your heart, your soul, my love

I can’t go on without you
Forever and a day
I need you here beside me
Forever and a day
and no-one else besides me
I love you, I love you.

[Please insert Jeff Buckley's voice...]

domingo, agosto 21, 2005

Há certas coisas que se perdem
Outras que nos fogem
E há dias que o nosso bem
É fugirmos das palavras
Que se escondem nos suburbios
Da imaginação

Não sei que palavras tenho
Lá guardadas bem fundo
Apenas sinto o fresco da manhã
Que me arranca um suspiro
lento
e
fundo
Do fundo do ser

Fundo

Finda

teste teste experiencia...
(I have no idea of what I'm doing)

Não posso cantar o que sinto
Porque não se canta, sente-se

Mas não sinto nada... a sério
Dormência há dias
E não consigo adormecer à noite
Será do escuro ou do fumo

Meu coração arde contigo, Arrábida

----------blanck---------

BUM! CATRAPUM! E Álvaro Campos invade-nos
E tenho de lhe escrever, Ricardo Reis, não o deixo enquanto não perceber o Carpe Diem que apregoa...

(E no outro dia vi em minha cama
repousar, hipócrita,
um gráfico de uma função par
e simetria com o eixo xx,
injectiva, se não estou em erro...)

(E ainda, enquanto escrevia, voltou
Escrevi isolamento e lá veio ele
isolamentoreprodutorespeciaçãoevoluçãovariebilidadegenéticaisolamentogeográficodarwindarwinbiologiaexamePANICO!)

Está quase...

Puff!

(soube-me bem. Lick it, lick it. Goodbye girl, it's only loooove.)

sexta-feira, agosto 12, 2005

My dear friend,
O tempo chegou. Seria muito mais fácil se te mentisse, se me mentisse como tenho feito, se nos magoassemos e sarassemos as feridas depressa. Mas está a tornar-se impossível. Começo a tomar consciência...
Como sabes, há uns dias pensei que me estavas a afastar. Senti que ias ficando cada vez mais longe, devagar, discretamente. Seria talvez pela época que merecia mais isolamento de todos nós. Mas esse tempo passou e assolou-me outra ideia. Querias-me longe. Não querias que estivesse tão perto como um dia estive. E magoei-me, acreditei nisso, tinha-te perdido, ferias-me silenciosamente, discreta mas conscientemente. Talvez assim fosse mais fácil.
Acontece que agora parei para pensar. E, obrigatóriamente longe de ti, apercebi-me do quanto enganada estava. Porque sentes tanto a minha falta como eu a tua. Foi uma defesa minha, este papel de vítima. Sabendo que não me estimavas, seria muito mais fácil afastar-me, não seria tão doloroso a nossa separação e afastamento progressivo.
Queria de alguma forma deixar-te palavras que te fizessem perceber o que sinto. Não me parece que esteja a sair como queria.

domingo, julho 31, 2005

Parabéns a mim! este blog já fez dois anos e eu nem dei conta disso. Fez dia 10, hoje vamos a 31... E, com este, serão 85 posts, de acordo com as contas do Blogger. Em dois anos.
Como vou celebrar esta data (em atraso)? Tenho de arranjar um bonito texto para pôr aqui. Vou pensar... Tem de ser algo em grande, já que vou ficar duas semanas sem escrever nada. Hei-de me lembrar de qualquer coisa...
Hurray! 2 anos! ...

quinta-feira, julho 28, 2005

Porque insistes em dizer que gostas do que escrevo? Seria tão mais fácil desistir...
Já faltou pouco. A ideia está cá, a emoção. Por vezes falta a mensagem, tenho só a energia. Sento-me, pego o que estiver à mão para escrever e... fico com a caneta no ar, a um centímetro do papel... E penso. Como vou começar? O que quero dizer? Como é a primeira palavra? Em que parte da linha vou pousar a caneta? E pronto... daí a pouco canso-me e percebo que não tenho nada para dizer, que não vou escrever nada merecedor e pouco a caneta. Desisto.
Mas, não, tu não me deixas. Fizeste-me prometer que não ia desistir. E, aqui estou eu, a desistir da ideia de desistir. Mas, olha bem para o que estou a escrever, achas mesmo que vale alguma coisa? Não vale, são apenas palavras arrumadas e aprumadas, a procurarem soar bem. Experimenta ler em voz alta, vais ver como soa tudo ridículo. É verdade. Sinto que fugiu de mim a capacidade para escrever algo realmente emocionante, isto se alguma vez o tive.
Os escritores devem ser pessoas muito frustradas. Não acredito que se sintam felizes com os livros que escrevem, é por isso que geralmente voltam a escrever. E eu novamente com a mania que sou escritora. Se me afastar desse pensamento talvez me sinta mais espontânea e volte a dizer o que quero...

bah

quarta-feira, julho 27, 2005

Nós somos tão pouco... Somos tão frágeis, tão inúteis, tão fracos. Não sei porque digo isto... Vejam os meus pulsos. Tão pequenos que quando não têm uma pequena pulseira se sentem desprotegidos, com medo. Ou serei eu?!
Se fechar os olhos, ou se estiver no escuro, e tentar tomar consciência de tudo o que sou, tudo o que é mesmo meu, não me sinto muito. Sinto a ponta dos meus pés gelados, os meus dedos finos, a ponta do meu nariz frio, os meus lábios pesados, o peso nas minhas pálpebras, a minha pele junto da roupa que não sou eu. E sinto especialmente o ar nos meus braços. E mais nada. E mesmo que me estique, nada mais será meu.
Nem um abraço... Nem um corpo junto ao meu, um toque. Nada.
Nem um sorriso, nem uma conversa, nem uma companhia, nem um riso, nem uma corrida, nem uma fotografia, nem uma flor, nem um cheiro, nem uma chuva, nem uma alegria, nem uma angústia, nem uma lágrima (que me foge), nem um olhar. Nada.
Nada mais serei eu. Sou tão pouco. Queria ser mais forte ou então ser muito, muito menos, ser dispensável. Ser uma poeira a voar por aí. Se pudesse, apenas ouvia, lia, via-vos. E escrevia... Nada mais.
Nada.

segunda-feira, julho 25, 2005

Não quero morrer:
1º - num acidente de carro
2º - numa tentativa de assalto ou violação
3º - antes de editar um livro (ficava sem nada, compreendam)
4º - após doença degenerativa prolongada
5º - devido a alguma catástrofe natural

Não me importo de morrer:
1º - durante o sono
2º - com um ataque cardíaco rápido
3º - por suicídio (mas tem de ser algo rápido e indolor)
4º - bala perdida e sem dar por ela
5º - se estiver louca e não souber distinguir realidade de ilusão, pode ser que nem saiba que morri

Pensei nisto no outro dia... Não é para levar muito a sério, obviamente.

domingo, julho 17, 2005

Dear friend,
Chegou ao fim. Não posso dizer que não, as coisas vão mudar, não temos dúvidas disso. Mas não me quero despedir, nem posso, seria incapaz de te deixar. Nos últimos tempos não tenho estado muito contigo e, das poucas vezes que estive, senti-te ausente, a afastares-te devagar de mim. Não sei se o fazes ou se o meu medo me está a criar ilusões, o que é certo é que não posso sair daqui sem te esclarecer umas coisas que não me vais pedir para te dizer.
Não vai ser fácil para mim. Tomei uma decisão muito importante, vou fazer muitos sacrifícios, mas acredito que seja para o meu bem. My dear, a única dúvida que tive foi em relação a ti. Mais do que tudo o resto, foste tu quem me fez hesitar. Olho para ti quando te dou a entender isto e vejo que não te convenço. E isso custa-me porque és realmente uma pessoa muito importante para mim, sabes disso, e tenho muito receio de te deixar.
Preciso que me compreendas e me perdoes. Que aceites a minha decisão e que não me deixes. Preciso de ti. Preciso de saber onde estás e de saber que ainda esperas por mim.
Bem... isto tudo porque estou com saudades tuas... Volta depressa.

sexta-feira, julho 08, 2005

Estou tão feliz hoje...

Vês? É isto que te dizia. Queria explicar como me sinto, ia começar a escrever quando me passa pela cabeça... "não, não escrevas isso porque eles vão ler e, obviamente, vão perceber que é sobre eles... E vão modificar tudo o que se passou, apenas porque leram a minha versão." É isto que me impede de dizer o quanto me sinto feliz hoje, o quanto acordei maravilhada. Teria de explicar tudo. E perceberias logo de onde tinha surgido a minha inspiração. Estou em paz. Mas teria de descrever aquele pormenor para que me entendessem. Talvez não te importasses que o contasse, provavelmente nem sequer te deste conta, estavas tão longe em ti, mas sinto que, ao leres, da próxima vez que o fizesses pararias para pensar e isso estraga o momento, o conforto, a felicidade. Ensinou-me isto Fernando Pessoa, já o sabia, mas ele recordou-me. Ao pensares no que sentes, deixas de o sentir, torna-o racional e a partir daí deixa de emocionar. Torna-se... ridículo (agora, Álvaro Campos). Tenho pensado demais, mas hoje não o vou fazer, vou sentir-me feliz, vou relembrá-lo, vou enamorar-me do momento e tentar provar um pouco dessa irracionalidade divina que transbordavam.
Fizeram-me acreditar de novo... E agora faz sentido.

sábado, junho 25, 2005

Que imagem! Ali estava ela, demasiado discreta para não reparar nela. Tinha entrado na livraria à procura de um livro que há muito prometia a mim próprio e deparei-me com a melhor poesia que podia esperar. Pela escolha das prateleiras no meio das quais se tinha escondido, soube logo que era uma verdadeira leitora, uma amante de literatura e não de apenas histórias de encantar. Estava entre Mário Dionisio e Florbela Espanca, lá ao fundo, sentada no parapeito baixo da janela, curvada sobre o livro. A livreira não a via certamente e, mesmo se visse, de certeza que não a incomodaria. Trazia uma saia castanha que, tal como o casaco demasiado quente para a época, parecia muito pesada. Mas toda a sua roupa que não consigo descrever em condições criavam-me um fascínio ainda maior por aquela personagem. E depois... a forma como segurava o livro, apoiado nos joelhos, a pouco mais de um palmo dos seus olhos. Devorava-o, amava-o, os seus olhos brilhavam tanto, perdidos completamente nas palavras, com um sorriso tímido de prazer. Não sei porque veio aqui parar. Se fosse poeta, diria que acordou com pensamentos perturbadores, que não se sentiu bem na sua vida, nas suas obrigações e no seu tempo e fugiu para aqui. É o que leio na sua expressão. Fugiu para a vida de outra pessoa, de outra personagem, para uma vida tão comum como a dela, mas certamente mais fascinante para si. Naquele momento esqueceu-se, saiu de si e estava bem. Parece que escolheu bem o livro, está a adorar. Tenho curiosidade em saber que livro era. Não era muito grande, mas o seu formato e as folhas que a rapariga carinhosamente passava dava para perceber que era especial. Os seus dedos passeavam deliciados pelas palavras, sentiam a tinta e a textura do papel. Penso que nunca vi ninguém tão feliz a ler. Não tive coragem de a acordar para saber que livro era aquele. Fiquei um tempo a observá-la, sorri e saí da livraria. Esqueci-me do livro, mas a poesia trouxe-a comigo.

sexta-feira, junho 10, 2005

(it's not really a goodbye, and you know it! but the lyric is really good... I think. So please ignore the chorus main verse)

Listen little child there will come a day
when you will be able, able to say,
nevermind the pain, all the aggrevation,
you know there's a better way for you and me to be
Look for the rainbow in every storm,
Fly like an angel heaven sent to me
Goodbye my friend,
I know you're gone you said you're gone but I can still feel you here
It's not the end,
You gotta keep it strong before the pain turn into fear
So glad we've made it, time will never change it
Just a little girl, Big imagination,
Never letting no one take it away,
Went into the world, What a revelation,
She found there's a better way for you and me to be
Look for the rainbow in every storm,
Find out for certain love is gonna be there for you,
You'll always be someone's baby
The times when we would play about,
The way we used to scream and shout,
We never dreamt you'd go your own sweet way
You know it's to say goodbye,
And don't forget on me you can rely
I will help you help you on your way
I will be you everyday

terça-feira, junho 07, 2005

Eu tenho dois deuses. A Natureza e o Tempo. Tenho muito respeito por ambos porque sei que são as únicas entidades a quem não consigo vencer. Tudo o resto, há sempre esperança.
A Natureza deu-me vida e é Ela que a mantém e governa. É Ela que decide o que acontece comigo, aquilo que vejo, aquilo que cheiro, aquilo que sinto. É a Natureza que me dá razões para viver, foi Ela que me ensinou esta religião e toda a filosofia de vida inerente.
Depois existe o Tempo. O Tempo é o mais poderoso. Ele tem consciência do seu poder e brinca connosco. Respeito-O porque, se não o fizesse, ainda mais doloroso seria vivê-Lo. As Horas, quantas vezes falei delas? Porque o Tempo não pára, nunca o fará e nós parecemos incapazes de compreender que assim tem de ser porque, se parásse, todos nós também o fariamos, acabar-se-ia a vida. E Ele anda sempre à mesma velocidade e ri-se de nós cada vez que O acusamos de ser muito rápido e, no instante a seguir, pedimos para se apressar. Mas não O julguem tanto, Ele não é tão mau como O fazem parecer. Ensina-nos constantemente a religião mas ninguém parece querer ouvir.
Depois logo falo um pouco mais dos meus deuses. O Tempo anda a meter-se muito comigo ultimamente. Tenho de vos contar... mais tarde.

segunda-feira, maio 30, 2005

Porque é que nunca estás aqui? Tenho saudades tuas. Sei que estás aí, que continuas com o teu sorriso suspeito de sempre, mas não me vês, não me falas, não me procuras. Eu percebo, a época é complicada, precisamos de paz e concentração. Por isso não me vou lamentar muito a situação. Mas só queria ter a certeza que esperas por mim, que, quando tudo isto passar, vais continuar aí, vais continuar a querer estar comigo, a partilhar aqueles pedaços de sonho que por vezes descobrimos, segredos só nossos e que, por isso, são tão especiais. Eu estou muito desinteressante neste momento, eu sei, mas... por favor, não percas a esperança, não desistas de mim porque eu vou voltar em breve, já falta pouco, e voltarei a ser a pessoa que tu uma vez estimaste. Espera só por mim...

quinta-feira, maio 19, 2005

Peço desculpa a quem aqui vem e tem visto nos ultimos tempos sempre o mesmo texto. Não é que não tenha inspiração, só que falta-me tempo e motes. E começo com receio de escrever porque sinto que o que poderá sair serão coisas que mais tarde (um dia, uma hora) me arrependerei de ter mostrado a alguém. Já não tenho muitas forças para dar a volta a um assunto e é difícil expor algo assim a quem mais estimo. Tenho de ter cuidado com as minhas palavras que se recusam a ficar presas em mim. É por isto que não tenho escrito, porque tenho pensado em vocês e em como um texto meu poderia mudar alguma coisa. Vou ver se recupero, mas não prometo escrever muito nos próximos tempos. Isto anda complicado.
Até sempre
Teria de desenhar para mostrar o que sinto. Mas não o sei fazer, só tenho estas palavras sempre iguais com que posso escrever. Talvez consiga dizer o que iria desenhar se soubesse como.
Desenhava o vermelho sujo, o vermelho de dor, de força, de loucura. Misturava-lhe uns traços de azul-escuro, azul-pânico, azul-fuga, um risco apenas, em cima, discreto e hesitante. Em baixo cairiam umas gotas de preto, mas um preto de calma, de fim, tranquilidade, paz. Só não sei o que desenhe por cima deste fundo... Deixa-me pensar...
Aqueles corpos. Sim, gostava de desenhar o suor, o cansaço, o aperto, o sufoco libertador. Seria perfeito desenhá-los por cima deste fundo. Rodeava-os de preto, apenas para os definir. Os dois corpos rasgando-se, roendo-se, mastigando-se como se não estivesse ninguém a desenhá-los, como se não houvesse mais nada. Corpos apenas, sem almas, loucos de ansiedade, mortos pela satisfação. E desenharia com mais cuidado os seus sorrisos, os seus lábios finos, atirados para o lado, sem cuidado de tapar o orgulho em ser cruel. E os olhos... não desenharia olhos, apenas o local para eles, vazios, vazados. As mãos enterradas na carne do outro, puxando algo invisivel para nós. Os cabelos molhados sobre a face. Os contornos simples, os corpos esguios e livres no papel. Não sei... não sei mesmo.
Mas como eu não desenho e tenho dificuldade em descrever um quadro assim... não o farei.

(não é (r) mas foi o que saiu... veremos se ajuda)
Aqui fica uma interpretação do quadro descrito em cima... Obrigada, Mina *


Inside Ana
by Mina

terça-feira, abril 26, 2005

"Mas o pior ainda estava para vir. Porque quando a doença da leitura toma conta do organismo, a tal ponto o debilita que o torna presa fácil desse outro flagelo que mora no tinteiro e supura na pena. O infeliz dedica-se à escrita."

"Quem esteja minimamente familiarizado com as agruras da composição não precisará que lhe contem a história em todos os seus promenores; como ele escrevia e achava bom o que escrevera; relia e achava execrável; corrigia e rasgava; cortava; acrescentava; ficava em êxtase; sucumbia ao desespero; passava noites excelentes e péssimas manhãs; agarrava uma ideia e deixava-a fugir; tinha uma nítida visão do seu livro, e a visão desvanecia-se; representava os papéis dos seus personagens enquanto comia; declamava-os enquanto passeava; ora vociferava, ora ria; hesitava entre este e aquele estilo; hoje preferia o heróico e o pomposo, amanhã o raso e simples; agora os vales de Tempe, mais logo os campos do Kent ou da Cornualha; e não conseguia decidir se era o mais divino dos génios se o maior tolo do mundo."

Orlando - Virginia Woolf

quinta-feira, abril 14, 2005

Ela aqui não me ouve. Mesmo assim, nunca me ouviria. Perdeu-se. Quando ela chegar (já não deve faltar muito) vou falar com ela. Vou dizer-lhe, sinceramente, "não acredito que aquela pessoa te seja uma boa companhia. Tornaste-te mais ausente, mais fechada. E, vê lá que eu nunca reparo nisto, mas tens os olhos de louca." Não sei como é que vai reagir. Não me interessa, também. Já estou preparada para desistir dela, esta será a minha última oportunidade. Custa-me vê-la assim. Estimo-a muito, temo por ela. Fica tão diferente depois de estar com aquela personagem. Vejo-as daqui. Sorrisos, olhares cumplices. O que terão escondido? Há qualquer coisa que não bate bem, sinto isso. Vem para aqui, minha amiga, eu protejo-te, dou-te tudo o que precisares para te afastares disso... Não consigo confiar.
Deu-lhe a mão e trá-la assim. "Quero mostrar-te uma coisa", parece dizer-lhe. Minha amiga, porque não me mostras antes a mim? Eu tentaria compreender a tua loucura. Lá vêm, na minha direcção. Da maneira como ela está de certeza que não repara em mim, vai passar e nem um sorriso de reconhecimento me vai deixar. Perdida. Traz um grande sorriso nos lábios. E a loucura da noite no olhar. Não a vi beber mas todo aquele brilho e aquele andar indeferenciado não é costume dela, bebeu, a sua companhia deu-lhe um copo, ou dois, ou mais. Mais próximas, ela à frente, olhando carinhosamente o chão e trazendo a outra pela mão, de sorriso pendurado. A outra sorri discretamente como guardando a verdadeira emoção para o lugar para onde ela a leva.
Minha amiga levantou o olhar. Viu-me. Continuou a sorrir, abrandou, aproximou-se de mim e parou. Não deixou de me fitar. Seria agora que lhe diria para largar a mão e dar antes a minha. A outra ali está, olha para mim, sorri, "Olá". Mas eu conheço-te e não consigo confiar em ti. Sabes o que é isto? Ela vai humilhar-me, é? Foste tu que a incentivaste? Deixa-a, não a posso perder, ela não se pode perder contigo. Não sabes o quanto me preocupo com ela quando está contigo. Não lês isto tudo nos meus olhos? É o que te quero dizer agora. Mas digo-o em silêncio.
Sinto-a a dar-me a mão. Olho, surpresa, para as nossas mãos. Minha amiga, o que se passa? Nunca me deste a mão...Olho-te nos olhos. Continuam brilhantes, mas felizes, e sorris-me. Devolvo o olhar para a outra. Só agora reparo que também ela está surpreendida, não sabe o que fazes. Devolvo-te o olhar e com ele te peço algo mais.
"Estou tão feliz... Vocês não sabem, mas eu amo-vos. Não é algo que consiga explicar convenientemente, apenas é. Porque eu não sou nada, não sou este corpo que aqui está, não sou estas palavras que ouvem, não sou nada disso. Isto, esta pessoa que aqui vêm que gosta de se afirmar como individualidade, não existe sem vocês. Vocês, minhas grandes amigas, vocês são eu. Porque, vou-vos confessar, quando estou sozinha não sei quem sou, não sei o que quero, não sei nada. Mas quando vos vejo, quando me sorriem, quando se riem das piadas infelizes que digo, quando não percebem o que vos digo e me pedem para repetir, quando me respondem, quando me olham, sei que existo. São vocês o espelho de mim. É através dos vossos olhos que me vejo. Dão-me vida, percebem? Amo-vos tanto... E todas estas pessoas aqui à nossa volta que dizem que me conhecem, sabem?, não são um décimo do que vocês as duas representam para mim. São vocês as duas, só vocês. Não dá para explicar porquê. Apenas amo os vossos defeitos, aquelas frases que não deviam ter dito, aquelas formas desajeitadas como comem ou espirram, aquela voz estridente que insistem em cantar, aqueles amúos cansativos, tudo o que me poderia irritar, cansar ou afastar milagrosamente fascina-me. Não sabem, nem vão saber, o quanto fico feliz por me deixarem conhecer-vos. Ah, porque me olham assim? Eu sei, não é fácil aceitar que isto seja assim dito. Mas é verdade. E por tudo isto queria pedir-vos uma coisa... Não me deixem fugir. Tenho medo de mim. Não sei como vai ser amanhã, como vou ser amanhã, ou depois, daqui a um mês, daqui a um ano... Tenho medo de me afastar de vocês. O tempo condena-nos a todos, somos diferentes a todos os momentos. Percebem? Amanhã posso acordar e arrepender-me de vos ter dito isto tudo, mas o que realmente importa, e eu preciso que compreendam isto bem, é que hoje, aqui, nesta hora, neste momento, eu, dentro deste corpo que vocês conhecem e para o qual olham dessa forma, eu sinto-me tão feliz por vos ter comigo e por ser quem sou, de tal forma que quero, hoje, aqui, agora, ser para sempre assim. E como vocês são eu, preciso muito que não me deixem. Preciso que daqui a um dia, um mês, um ano, uma década, se lembrem de mim aqui, hoje, agora, que se lembrem de todas as palavras que vos digo agora e que voltem para mim, mesmo que eu tenha fugido. Porque é o meu desejo. É isto que eu quero ser. E só tenho a certeza que o serei se vocês estiverem comigo. Não quero que me prometam, as palavras deixam-se de ouvir, quero que prometam a vocês, sim? Dentro de vocês, uma promessa não sai... É isto."
Sorriu-nos uma última vez. Olhou ternamente para mim, olhou ternamente para ela. Fechou os olhos e beijou-nos as mãos que não tinhamos solto durante um tempo suficiente para lhe distinguir uma lágrima no canto do olho. E, antes de podermos dizer alguma coisa, libertou as nossas mãos e fugiu a dançar para o meio da sala como louca. Muito louca. Como se estivesse só. Gritando com tanta força a letra da música que tocava, de olhos fechados, rodopiando sobre si própria, deixando-se invadir pela música. As mãos não pareciam dela, dançavam sozinhas junto àquele corpo. Uma visão estonteante.
Lentamente, procurei recuperar daquele momento. A amiga dela deveria estar ali também ainda. Sim, vi-a a meu lado, de braços estendidos, como eu, admirando-a. Percebeu que eu a olhava e olhou-me de volta. Cúmplices de algo que nunca julguei ser possível, nós, ligadas. Abraçámo-nos... Não sei explicar, não consigo pensar... Estava simplesmente certo. Abraçámo-nos... E, assim, chorei no ombro dela. Não sei porquê... E ela no meu...
Tenho de ir ter com a minha grande amiga. Caiu no chão, está sozinha, aninhada em si, choramingando de sono.

domingo, abril 03, 2005

Não estou bem. Sei que preciso de escrever, sei que posso escrever algo bonito neste momento, sinto-o a rebolar dentro de mim. Mas, novamente, não sei onde pegar, não sei como organizar as palavras. Pode até não ser credível, mas sinto mesmo como um riacho que se vai estreitando e termina aqui neste papel. Sinto-o a percorrer o meu braço, sinto mesmo, sinto-o escorrer com a agressividade que este lápis tem para este papel, sinto-o a caminhar, arranhando-se, desde o cotovelo até à minha mão. Sinto-o especialmente no pulso que, desde que deixou de usar as pulseiras, está muito mais frágil e sensível - quem mais acredita que pulseiras tão finas e simples podem moldar-se tanto a um pulso, protegendo-o, quem mais sem ser eu?!- .
Mas não sei onde nasce este riacho. Quero esgotá-lo porque, por dentro, afoga-me. Não consigo respirar em condições, o peito está muito pesado e o sentimento de afogamento não se alivia com esta escrita. Odeio quando isto me acontece, não sei mais o que fazer para relaxar. Posso ficar assim dias e até semanas. Esperemos que não seja o caso.
É que... de que serve querer ser poeta, de que vale ter as palavras se não encontro nada de novo para dizer? Não digo nada, não, não mudo nada. Só queria ser feliz. Só queria significar alguma coisa e acreditar nisso. De que me vale este texto se não para me voltarem a acusar de dispersão de objectivos realmente significativos? Vão fazê-lo, bem sei. Mas, senti-o no peito enquanto escrevi esta ultima pergunta, nada para mim faz mais sentido do que escrever. Entristece-me imenso o facto de ficar meses sem escrever nada para ninguém (escrevo para mim, mas é outro afluente que corre com menos força). Queria tanto escrever-vos para que sentissem tudo o que sinto.

Uma página e continua vazia...

É agoniante ver a lapiseira pousada, imóvel, sobre a folha...

terça-feira, março 29, 2005

Porquê dizer o quanto amo o teu abraço se não o podes perceber? Não, não é o amor que todos julgam que conhecem, não é nada disso. É conforto. É segurança. É um abraço doce de quem me estima e que me fascina tanto. Nunca encontrarás em ti metade do interesse que eu encontro, admiro-te tanto, mas tu nunca conseguirás perceber porquê. Não passas de mais um rosto, mais uma vida simples e igual a tantas outras, dizes tu. Mas nunca conheci ninguém como tu. Tens um brilho nos teus olhos que me faz acreditar em ti, é através do teu olhar que sei que brilhas por dentro, que tens tanto para me ensinar. Vou descobrindo aos poucos esses reflexos de alma e fico tão contente quando me deixas vê-los. E quando, por vezes, fechas os olhos e apoias-te no meu ombro, no meu colo, em mim. Aí sei que confias em mim, que também eu te sou confortável e que não te incomoda o facto de te descobrir porque no fundo, talvez até gostes de te sentir explorado (no melhor sentido, claro). Obrigada por essa confiança.

segunda-feira, março 28, 2005

Tenho de te denunciar. Desculpa mas preciso de tirar isto de mim. Porque eu descobri-te, evitaste-o, mas também tu não me conheces e não sabias o quanto perspicaz posso ser.
Tu simplesmente não sentes. Estás ausente. Suponho que vivas apenas à espera, mas nem tu sabes de quê. Estás ali apenas porque esperas pelo momento em que te vais embora para outro sitio. Para casa, talvez. Talvez seja ali que tu és preciso, que a tua atenção e vida são necessárias. Penso que esperam muito de ti em casa. E vens para o pé de mim descansar. Mas não sentes nada. Tens de estar preparado para voltar para casa, é aí que podes sentir. Mas, mesmo assim, não sei. Talvez nem sintas em casa. Talvez estejas só presente como te pedem. Andas cansado disso, não é verdade? Deixa, talvez no próximo ano já não seja assim.
E então, como posso eu explicar-te perante o que aconteceu? Foi esta a única forma que encontrei. E eu podia ter desconfiado antes. Sozinho, longe, quantas vezes te vi assim pelo canto do olho. Talvez tenha sido isso que mais me cativou, o olhar distante. Mas depois, se alguém se aproximava sorrias logo, sempre da mesma forma alegre e reagias como se fosse o dia mais alegre da tua vida. E, novamente, quando esse alguém se afastava, caías para longe, como te encontravas antes. Vi isso, reparei, até mesmo comigo eras assim.
É por isto que digo que não sentes nada por nós. Simplesmente reages. Se alguém te sorri, tu sorris de volta. Devolves aquilo que esperam de ti. Como geralmente os rapazes apenas te pedem boa-disposição, é o que lhes dás. Mas não a sentes porque estás apenas à espera de voltar para casa (até porque várias vezes vais a casa num pulo, enquanto ninguém te vê). E como não queres que ninguém te pergunte porque não sorris, não saberias explicar, tu sorris e ninguém te incomoda. Será que reparam em ti? Será que vêm algo atrás do sorriso?
Eu falei contigo uma vez sobre isso, lembras-te?, uma única vez e correu-me tão mal. Nem me respondeste, não disseste nada. Só baixaste o olhar e, sim, estavas com o teu sorriso do costume. Mas havia algo mais e tu sabias que tinhas sido descoberto. Disseste-me algo do tipo "tens razão, não está tudo bem, mas não há nada que possamos fazer". E eu não soube responder a esse gesto. Atrapalhei-me, ao contrário de ti, não sou perita em fazer e dizer o que esperam que faça. Mas fiz com que soubesses, ali, que eu estava contigo e que te tinha visto. Agora, pergunto-me, será que tomaste atenção, será que foste de alguma forma tocado por este gesto? Não, não foste, provavelmente, mal chegaste a tua casa, esqueceste imediatamente o que se tinha passado.
Agora que penso... Sempre tive medo que chegasses a casa e te esquecesses de tudo. Talvez sempre tivesse dentro de mim uma suspeita do que agora tento afirmar. Sempre pensei que em casa não pensasses em nada do que se tivesse passado durante a manhã. Também não sei no que pensarias, isso ainda não descobri, tens de ser tu a dizer-me. E, a única vez que te esqueceste, foi provavelmente a mais importante. Mas chegaste com aquele ar tão miserável, tão envergonhado, que não pude culpar-te. Já passou, o meu coração estava prestes a rebentar, mas tu chegaste, enfim, e já passou.
E como consegues olhar tu daquela forma tão intensa? Olhas para todos como se estivesses fascinado com o que te dizem, como se te fosse um grande prazer estar ali, diante daquela pessoa, conhecendo-a. Cheio de um sentimento que não tens. Mas como é que poderia adivinhar se mo mostravas com tanta força? E não era só para mim, eu perdia-me no teu olhar, era demasiado intenso para mim, mas via-o pousado em todas as outras pessoas. Não sabia distingui-lo. E, novamente, não ouvi esta pista, não escutei aquilo que me dizia, que não era para ti mais nada.E há algo que ainda não se consegue justificar com tudo isto: aqueles gestos que tiveste comigo, aqueles que guardei só para mim. Não foram reacções a algo que eu te tenha feito ou dito porque eu não queria ter chegado onde cheguei, não sabes disso, talvez neste momento julgues que desde o início te quis como naquele momento te fiz parecer. É mentira. Não te queria. Eras apenas uma cara bonita que me entretinha a vista e um rapaz interessante para descobrir. Daí nunca ter querido aproximar-me demais. Mas houve certas coisas que me empurraram. E, algumas delas, foram as tuas atitudes. Não as pedia, mas tu, sempre com o sorriso pendurado, brincavas comigo e eu fiquei sem saber o que pensar. E, ingénua, ouvi o que me diziam. Era praticamente o mesmo que eu já me começara a dizer, mas dito por fora, por outros, parece ser mais credível. O que mais podia eu pensar? Depois de todos os aqueles pedaços de momentos e de todas as bocas (que incomodavam a minha paz e decisão interior), não podia ter dúvidas.
E chegou o dia a que me tinha comprometido. Olhava para ti, umas horas antes, e sabia, não esperava, sabia que seria naquele dia. E, ao longo das horas, fui-te dando a entender. Que parva, detesto ser tão óbvia. Podias ter-te afastado, ter recusado as minhas aproximações. Mas não, nunca o fizeste. Por isso, ainda mais confiante fiquei. E no fim... Tu sabes o que aconteceu não preciso de voltar a dizer. E senti-me tão mal. Não foi culpa tua. Talvez se tivesse evitado, se me tivesses dito mais cedo. Ninguém nos compreende. Todos esperavam que acontecesse. E, provavelmente, muitos deles ainda pensam que aconteceu mesmo. E sorriem, "tão bonitos juntos". Foi isso que me magoou mais no momento. Odiei-me com muita força. Nunca quis passar por aquilo, nunca quis dar motivos a ninguém para dizerem uma coisa daquelas. Tinha acordado comigo isso. Mas não é sobre mim que quero falar, é a ti que quero denunciar.
Muito bem, reagias como te pedia. Não me impedias de me aproximar, fazias-me acreditar que estava tudo bem. Fiz-te, uns momentos antes, uma pergunta que podias ter aproveitado para me mostrares de forma subtil que não era aquilo que querias. Não o fizeste, fizeste-te de desentendido. E depois sorrias enquanto aqueles outros sorrisos embevecidos e amorosos que nos pediam algo que não poderíamos dar me arruinavam a noite. Como explicar-te sem ser pelo facto de não sentires nada por ninguém?!
Mas sabes, algo me leva a crer que tu até sentes. No fundo, és humano e os humanos têm de sentir. Só que, ao contrário de nós, aprendeste a ignorar os teus sentimentos. Não sei como o fazes, mas fá-lo muito bem. Grande auto-controlo. Mas tu já nem sabes que o fazes. Quero acreditar que tu até sentiste alguma coisa por mim (desculpa mas não acredito que aquele olhar fosse apenas fingido, ninguém consegue fingir assim...). Talvez houve algo mais, mas tu, sem saberes, ignoraste completamente isso, não ligaste nenhuma e não deixaste que isso crescesse. Respondeste-me na altura automaticamente, como tinhas previsto responder sempre que alguém te perguntasse isso. Não digo que, se te dissesse isto tudo (sim, porque não tenciono mostrar-te este texto, seria um vexame para mim), tu começasses a tomar atenção a isso que ignoras sem saber. Não, tu não o farias porque faz parte de ti, tu és assim e não vais querer mudar. E, quem sabe, nem sequer tens um décimo do interesse que eu te dei com esta história toda. Provavelmente achar-me-ias histérica e desesperada por arranjar uma maneira de te convencer a gostar de mim. Nada disso, meu caro. Tudo isto é apenas uma forma de me expressar, de dizer as conclusões a que cheguei que podem ser muito falsas. Só precisava de uma justificação. E eu não me importo de inventar uma como esta. No mínimo, fica interessante. E eu, espero, fico mais leve.

Quem diria, hoje estou mais perto de João que de Sofia...

terça-feira, março 08, 2005

"Depois de dois copos de vinho, despedi-me do candeeiro invejando a sua sorte, estaria para sempre só. Excepto os ocasionais bêbados, nunca ninguém lhe faria juras de amor, nunca ninguém o abraçaria,... Ficaria para sempre sozinho na noite com a sua luz."

SILVA, Sofia. Auto-retrato de um aborto, romance. Lisboa: Escritor, 2002.

...hoje não consigo dizer nada sobre o livro...

sexta-feira, março 04, 2005

Não sei porque se riem. Certamente não teve piada. Ninguém pode achar engraçado um triplo homicidio e um suicidio. São muitas mortes. Uma só já seria insuportável. Não, não te podes rir. Estando de fora pode parecer ridiculo, uma aldeia de cinco habitantes com tanta morte, mas não é caso para rir. Se parássemos para pensar, para imaginar o que estaria por detrás do acto desesperado daquele homem, talvez não nos atreveriamos a rir. As aldeias têm histórias fantásticas. Bem mais humanas, mais reais do que as que alguma vez poderão acontecer numa cidade como esta, onde ninguém sabe os nomes dos vizinhos que tem. As rugas dos velhos das nossas pequenas aldeias são bem mais fundas e mais sofridas que as nossas. São rugas merecidas, são troféus, vitórias sobre o tempo, sobre a própria vida. E, para esta gente, a morte não é algo tão puritano, tão imaculado como para nós, eternamente medrosos. Eles conhecem-na bem, sabem ao que cheira. Sabem perfeitamente o que é e porque existe. E não depende da sua religião, depende apenas das suas vidas. Queremos o mundo todo só para nós, enquanto eles são mais verdadeiros pois todo o mundo que pretendem, está ali. E nós rimo-nos. Idiotas, sim, não sabemos o que é a vida. Idiotas por acharmos feios aqueles velhos e velhas, desmanzelados, sem qualquer noção de moda ou estilo. Feios.
Não nos podemos rir. Não consigo imaginar o que aconteceu e porque aconteceu. Até porque li apenas esta notícia no rodapé apressado de um dos intermináveis tele-jornais que davam na televisão. Apenas isto, que, numa aldeia de cinco habitantes, tinha havido um triplo homicidio e que o homem se tinha matado no fim. Que engraçado, deve ter ficado apenas um na aldeia. Se calhar era o padre. Ah, ah! Caluda, aquele mundo não é o nosso. Não brinques com aldeões. Porque tu não os conheces mas eles sabem perfeitamente o que corre nessa tua cabecinha. Mas nunca vou conseguir saber o que se passou entre os habitantes daquela aldeia para que algo tão insólito acontecesse. Aqueles olhares, aquelas faces sem sorrisos falsos, as rugas, o cansaço, as mãos gretadas, a roupa negra... Admiro-os e gostava de os conhecer. Já os tenho visitado, certos livros apresentaram-me a este mundo fantástico, mas não se compara.
Eles conhecem a vida, a dor, a morte. Eles Vivem. E nós... rimo-nos (giggle) .

sábado, fevereiro 26, 2005

Nota: Só para dizer, para quem estiver interessado, que aquela prenda adiada de Natal que eu tinha referido no texto de 1 de Janeiro deste ano, já foi entregue e que valeu a pena, sem qualquer dúvida.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

Os poemas não deviam ser lidos em voz alta nas aulas de português. Detesto ouvir alguém sem o minimo de sensibilidade e interesse a ler um poema ou um texto lindíssimo. Até o próprio professor por vezes não consegue ler em condições. São raras as pessoas que conseguem ler um poema de maneira a se interiorizar a mensagem e o sentimento que o poeta quis transmitir quando o escreveu. Não respeitam as pausas, não dão enfase nas passagens mais intensas, não se consegue distinguir pela entoação uma conversa banal de um texto literário respeitável. Faz-me comichão, o que querem que diga?, não quero perder a magia de um texto por causa de uns meninos e professores que não conseguem compreender toda a sua beleza e que não se importam de a arruinar. Eu também não sei ler poemas, daí ficar calada, apesar de, por vezes, acreditar que leio muito melhor do que eles... insensíveis.

Sim, já estou mais aliviada, obrigada.

sábado, fevereiro 05, 2005

Ring ring ... ring ring ... [atende] ring ring ... ring ring ...
- Estou sim?
- ...
- Laura, és tu?
- ... Já me reconheces a respiração?
- Não. Mais ninguém me telefona a estas horas e se contenta em ficar em silêncio.
- Pois, acredito. Desculpa lá, mas ... precisava de ouvir alguém.
- E o que se passou agora?
- Nada. Estou sozinha, é só isso.
- E... vais dizer mais alguma coisa? Ou o queres que te diga?
- Podias contar-me uma história...
- Laura... São duas da manhã, acordaste-me com o telefonema e agora queres que te conte uma história?!
- Deixa estar, então.
- Vai-te deitar. Até amanhã.
[click] piiiiiiiiiiiiiiiiiii
- Só precisava de ouvir a voz de alguém, saber que há alguém acordado sem ser eu, que não me deixaram sozinha a ouvir estes sons da noite. Pensava que estavam todos a dormir e que só acordariam depois destes zumbidos que me aterrorizam se calarem - como não os ouvem, dormem perfeitamente -, mas eu deixei-me ficar tempo demais acordada. E agora, não consigo adormecer. Mas agora que te acordei, sei que não vou ser a única a ouvi-los e que não estou sozinha na noite. Talvez agora percebas. Mas... já me deixaste de ouvir.
Eu vou buscar-te. Não, deixa estar, eu quero. Tenho estado ausente, tenho consciência disso, mas quero que saibas que, apesar disso, continuo aqui e continuas permanentemente em mim. Estive longe mas levei-te comigo, desculpa-me se não te deixei um pedaço meu. E agora que voltei, vejo-te de olhos caídos, de esperança adormecida, de forças adiadas. E sinto-me em parte culpada por isso, não interessa o que digas. Se não me tivesse ausentado por coisas tão desinteressantes e cansativas decerto não te tinha deixado descer tanto, teria dado o braço muito mais cedo. Por isso, hoje, vou buscar-te e vou levar-te para longe do teu quarto. Vamos sair, apanhar ar, ouvir a água da noite e a aurora da manhã. Vais esquecer a minha ausência e a tua ilusão, pode ser? Então vamos antes que se faça tarde e te arrependas de sair comigo.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Ela, Aquela com Aquele Nome
(...)
E foi através das palavras com que ma descreviam que percebi que ela era muito mais do que uma simples rival de atenção: era eu. Passo a explicar (o melhor que puder, não convém esquecer que ela tem muito mais jeito com as palavras do que eu). Foram-me contando, ingenuamente, os seus segredos, ou melhor, a casca dos seus segredos. E eu conhecia essa casca; era igual à minha. Descobri que debaixo da casca daquela personagem estava o mesmo que eu tinha escondido com a minha.
Compreende-se agora o meu ódio? Ela conhece-me completamente, sem nunca me ter visto ou, quem sabe, até nunca ter ouvido falar de mim (que desilusão tremenda se assim for...). Ela conseguiu roubar-me tudo o que julgava seguro. Ela tem o poder de me despir quando bem entender. Mas, ao mesmo tempo, é quem melhor me pode compreender, quem melhor me poderia ajudar em qualquer situação, ela é o conjunto de todas as minhas confissões, ela carrega esse peso de uma forma tão leve como o seu corpo. E o seu corpo, juro, tem todas as marcas que o meu tem. Como o sei? Ela conseguiu expô-lo na sua arte, eu vi-o e vi-me. E li tudo o que escreveu, num dia de ânsia, devorei-a como ela jamais poderá imaginar, arranquei toda a sua casca, também sei por onde puxar, e descobri-me, frágil, dentro dela. Cosi-a de novo e afastei-me. Não sei o que fazer agora que me descobri neste corpo.
Pode-se até acreditar que eu a pudesse amar. Seria possível? No fundo, ela é a minha gémea, ela é o ideal de cumplicidade e compreensão. É a minha total catarse. E, tal como na psicanálise, tanto posso amar o psicanalista como odiá-lo. E eu odeio-o.
Até porque, para mais, ela não é apenas eu. É tudo aquilo que eu gostaria de ser. É o meu ser em potência. Tem a força, a arte, o talento, a vida e até o estilo que eu gostava de ter. Sinto-me uma miniatura, uma amostra, um rabisco, um rascunho, um zigoto inviável. Como se tivessem pegado no meu ser e o tivessem plantado noutro corpo (semelhante ao meu) e ele tivesse germinado em força sem a minha vergonha e insuficiência. Odeio-a por ser o que sou e o que não chego a ser.
E estou neste momento como nunca estive antes. Ando de um lado para o outro, sozinha, sem saber o que achar daquela personagem. Não a posso conhecer, seria como sorrir para a nossa imagem do espelho sabendo que ela sabe que não queremos sorrir.
(Será que tenho o poder para destruir o espelho?)
Sinto-me insignificante e abandonada e, maior ironia, aquele nome nem sabe quem sou nem aquilo que me faz. Não merecia ser assim tão importante. Tem de desaparecer. Em nome da minha honra e das minhas amizades...
(São só sete anos de azar, não é?...)

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Olhou-me como se fosse meu
Como se me pedisse para o deixar ir
E sorria, como sempre,
Como prometendo não me fugir

Cúmplices de algo que sabemos,
Algo que nunca vai existir
Criámos algo que nos acusa
Algo que nos leva a sorrir

E com este sorriso o deixo ir
Este garoto obediente
Que me prometeu não fugir
Neste olhar consciente

E, desprevenida, sorri-me no instante
- Não sei bem o que me deu -
Em que aquele menino
Me olhou como se fosse meu

sábado, janeiro 01, 2005

Eu gostava de poder deixar uma mensagem de apoio e de tristeza em relação ao desastre natural que aconteceu recentemente na Ásia, mas não encontro palavras dignas para o fazer. Deixo apenas esta nota para mostrar que foi algo que não me passou ao lado.
[ um forte abraço para a Ásia ]
Antes de mais, peço desculpas por ter passado um mês inteiro sem que eu deixasse uma linha no blog. Não há justificação, talvez esquecimento, talvez falta de inspiração, mas nada de razoável. Espero que compreendam. Agora ao que interessa.

Deveria ter falado um pouco do Natal. Quis escrever sobre prendas. Agora compreendo como pode ser ridículo oferecer uma prenda no Natal. Acredito (ou espero que seja verdade) que as prendas são entregues com carinho, com amor, e com um desejo de demonstrar todos esses sentimentos bonitos que temos à pessoa amiga que recebe o presente. Mas sinto que se perde muitíssimo desse sentimento, do desejo de partilha de sentimentos, quando se compra uma coisa só para oferecer. Quero com isto dizer que não creio que seja uma boa opção comprar uns chocolates, um cheque-disco, uma agenda, uma caneta, para alguém especial quando essas prendas não vão significar muito para essa pessoa. Antes de comprar algo deste género deve-se parar por uns momentos, uns largos momentos se for preciso, e pensar seriamente naquilo que surpreenderia positivamente esse alguém. O presente deverá ter algo que ligue as duas pessoas, que mostre o quanto são próximas,o quanto gostam e se preocupam uma com a outra, e essencialmente, o quanto se conhecem. Não se deviam oferecer prendas que se esperam que todos gostem de receber. Tem de ter algo especial e privado. Se não quisermos fazer o próprio presente, se o vamos comprar, esse presente deveria lembrar-nos imediatamente da pessoa para quem se destina assim que o vemos. Seria o ideal. Daí que ache um pouco ridículo que, quando não encontramos nenhuma prenda especial, e não comum, para uma pessoa, se ofereça algo só para demonstrar a amizade que tem. Vai soar meio falso. Não quero com isto dizer que se deixe de oferecer algo só por não ter encontrado a tal prenda especial, mas talvez se se parasse mais tempo para pensar no que se gostaria de oferecer não haveriam tantos chocolates e agendas a serem distribuidos, até porque normalmente os chocolates são oferecidos àqueles que nos estão mais distantes, mas de quem não nos podemos esquecer.
No meu caso, estive muitíssimo próxima de oferecer algo do género, mas ia-me custar imenso. Todas as prendas que dei foram escolhidas depois de muito pensar. Todas. Aquela que tive mais dificuldade complicou-me muito a vida, mas, felizmente, consegui encontrar a tempo aquela surpresa especial, algo que tinha um significado que só nós compreendemos. E foi bem recebida. Assim como todas as outras. Mas também há uma prenda que quero oferecer, mas que não a vou dar no Natal. Não a dei. É algo muito especial e tem de ser muito bem escolhido. Não pode ser tratado à pressa e esta altura do ano talvez não seja a melhor para a entregar. É algo diferente, mas é uma coisa muito especial e que acredito que será muito do agrado da pessoa a quem quero oferecer. Isto tudo para mostrar e explicar que não é preciso oferecer exactamente no dia 25 de Dezembro a nossa lembrança, mas que, sim, o Natal é quando o Homem quiser, e que, se não encontrarmos até ao Natal a prenda especial podemos sempre encontrá-la quando menos esperamos ao longo do resto do ano e, aí sim, deveremos oferecê-la para mostrar o quanto nos lembramos daquela pessoa. É o que pretendo fazer. (Caso estejam interessados, posso avisar quando entregar aquela prenda de que vos falei que hei-de entregar na altura certa. Só para terem a certeza de que não ando a querer desculpar-me por não ter oferecido nada no Natal a essa pessoa. Ela compreende de certeza.)
Deixo também só uma palavra sobre a questão de quando abrir as prendas. Tem sido um assunto de discussão que tenho abordado com alguns amigos. Foram feitas algumas trocas de prendas entre amigos e pôs-se essa questão de quando se deveriam abrir essas prendas: no dia de Natal, juntamente com as prendas dos familiares, ou no momento em que foram entregues? Na minha opinião, deveriam ser abertas no momento em que são distribuidas. Isto porque acredito que é muito interessante ver as reacções verdadeiras das pessoas às prendas. Ver-lhes os sorrisos, verdadeiros ou amarelos. Quando nos dizem, depois do Natal, o quando gostaram da prenda, podem não estar a ser sinceros, podem ter tido uma grande desilusão quando rasgaram o papel. E isso é muito mais difícil de disfarçar quando se abre o presente em frente a quem ofereceu. Eu gosto de ver as reacções e, felizmente, vi todas as reacções às prendas que ofereci. Foram boas. Algumas neutras por não perceberem à primeira do que se tratava. Já o esperava, fazia parte da surpresa. Mas foram muito bem recebidas e estou muito contente com isso. Talvez convém também referir que as prendas dos familiares deverão ser guardadas para o dia de Natal porque, vendo bem, é uma festa da família e certamente, quase todos os familiares deverão estar presentes na cerimónia da abertura das prendas. Por isso, também verão as reacções de que estou a falar.
Chega por agora que já escrevi muito. Aproveito então para desejar um bom ano 2005 e agradecer todos os votos de bom Natal e bom ano que me desejaram e agradecer igualmente todas as prendas que me ofereceram com muito amor. Obrigada!