É muito ano... Tenho de pensar.
Esta idade tem de ser pensada. Pensar no que passou, no que se segue, no que terminou, no que se inicia. Pensar em quem sou e o que represento. Daí que, ao pensar em mim, ao querer falar de mim, tentar, de novo, dizer quem sou no meio de frases encobertas, apercebo-me que não posso seguir o caminho comum. Eu não sou este corpo ou estes olhos, sou quem me vê, quem me sente, quem me lê, quem me sorri. Sou aquela que me reconhece nos textos sem nunca me ver e que me emociona em tudo o que faz. Sou aquele que me vai acordando aos poucos, o que se recusa a deixar-me ir atrás de quem me quer prender. Sou aquela que mostra o que é ter realmente esta idade, a que me diverte-te tanto. Sou aquele que me faz ver a sorte que tenho em estar onde estou. Sou aquela que sempre seguiu ao meu lado, que me lembra constantemente que a amizade pode ser para sempre. Sou aquele de quem nunca ouvi a voz séria e pesada, sempre alegre e vivo. Sou aquela cujo sorriso me carrega a alma e me faz acreditar em tudo o que preciso num abraço silencioso. Sou aquele que continua a puxar por todos aqueles pensamentos que constantemente tento esconder bem fundo para não serem ouvidos. Sou aquela que me ensinou o que a vida realmente é, as suas amarguras, as suas delícias, o seu tempo. Sou aquele que me fez acreditar que um sorriso é sempre possível numa face pesada. Sou aquele que me ensina um pouco mais sobre o que me envolve, o que me estima sem me querer dizer. Sou aquela do sorriso enorme que me aquece o pedaço de mim que julguei já ter perdido. Sou aquela que me mostra o quanto a espontaneadade que ignorava pode ser libertadora. Sou aquele que me explica a loucura dos anos.
E sou aquela que me mostrou primeiramente que a inteligência se pode esconder em palavras timidas. E aquele que partilhou e partilha tantos sonhos comigo. E aquela que se torna cúmplice dos meus actos controladamente ousados. E aquele que foi o primeiro a quem reconheci simpatia. E aquele que me dançou num momento tão especial e num sítio tão longe. E aquele que não se perde em si ou no tempo. E aquela que me mostrou que uma amizade, por vezes confundida, pode levar a lutas merecedoras. E aquela que me acompanhou em situações tão bonitas e permanece e quer permanecer a meu lado. E aquela que dança comigo num sorriso mútuo e feliz, livre e sincero. E aqueles que agora me encontraram e me surpreendem com a sua entrega imediata.
E, talvez um pouco mais que tudo isto, sou aquela que nunca sairá daqui, que estará sempre por mim, que deu a vida e deu-me a vida para que possa estar aqui hoje, nesta data tão estranha a tentar deixar algo escrito para que o dia não se desvaneça tão depressa como esta hora.
Obrigada por serem-me.
2 comentários:
ena pah! surpreendente Prata, sabes, os autoretratos que tu n fazias eu os tentava imaginar, tentava prever algo, divertia-me a pensar por onde comessarias, fazia-o também nas tentativas falhadas de te desenhar...mas isto!tão subtil, ao msm tempo tão real. não esperava isto, envez de te despires que foi o q tão directamente te sugerí, tu ultrapassaste tudo isso, cuspiste-me tão deliciosamente na cara e cobriste te de faces, estas aki e não estas...esta descrição poderia prolongar-se pro infinito, poderia englobar o mundo todo e o universo e depois, é tão complexo como a unidade q és.afinal n é preciso olhar pro posso sem fundo para dentro para xegarmos a nós, ao olharmos para fora xegaremos a mesma imagem. é absolutamente lindo, falas de tudo menos de ti, no entanto aki estas a sorrir mais uma vez e a gozar c a minha cara. a mostrar-me mais uma vez q tenhu muito q aprender.
Foi mais uma forma de dar a volta ao assunto, mas tinha de o fazer ontem especialmente. Numa tentativa de há uns tempos de escrever o tal auto-retrato, dei por mim, de novo, a falar de alguém fora de mim. Mas descansa que um dia ganho coragem e me dispo.
E espero que te tenhas descoberto facilmente no meio destas faces todas...
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