sexta-feira, março 04, 2005

Não sei porque se riem. Certamente não teve piada. Ninguém pode achar engraçado um triplo homicidio e um suicidio. São muitas mortes. Uma só já seria insuportável. Não, não te podes rir. Estando de fora pode parecer ridiculo, uma aldeia de cinco habitantes com tanta morte, mas não é caso para rir. Se parássemos para pensar, para imaginar o que estaria por detrás do acto desesperado daquele homem, talvez não nos atreveriamos a rir. As aldeias têm histórias fantásticas. Bem mais humanas, mais reais do que as que alguma vez poderão acontecer numa cidade como esta, onde ninguém sabe os nomes dos vizinhos que tem. As rugas dos velhos das nossas pequenas aldeias são bem mais fundas e mais sofridas que as nossas. São rugas merecidas, são troféus, vitórias sobre o tempo, sobre a própria vida. E, para esta gente, a morte não é algo tão puritano, tão imaculado como para nós, eternamente medrosos. Eles conhecem-na bem, sabem ao que cheira. Sabem perfeitamente o que é e porque existe. E não depende da sua religião, depende apenas das suas vidas. Queremos o mundo todo só para nós, enquanto eles são mais verdadeiros pois todo o mundo que pretendem, está ali. E nós rimo-nos. Idiotas, sim, não sabemos o que é a vida. Idiotas por acharmos feios aqueles velhos e velhas, desmanzelados, sem qualquer noção de moda ou estilo. Feios.
Não nos podemos rir. Não consigo imaginar o que aconteceu e porque aconteceu. Até porque li apenas esta notícia no rodapé apressado de um dos intermináveis tele-jornais que davam na televisão. Apenas isto, que, numa aldeia de cinco habitantes, tinha havido um triplo homicidio e que o homem se tinha matado no fim. Que engraçado, deve ter ficado apenas um na aldeia. Se calhar era o padre. Ah, ah! Caluda, aquele mundo não é o nosso. Não brinques com aldeões. Porque tu não os conheces mas eles sabem perfeitamente o que corre nessa tua cabecinha. Mas nunca vou conseguir saber o que se passou entre os habitantes daquela aldeia para que algo tão insólito acontecesse. Aqueles olhares, aquelas faces sem sorrisos falsos, as rugas, o cansaço, as mãos gretadas, a roupa negra... Admiro-os e gostava de os conhecer. Já os tenho visitado, certos livros apresentaram-me a este mundo fantástico, mas não se compara.
Eles conhecem a vida, a dor, a morte. Eles Vivem. E nós... rimo-nos (giggle) .

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