terça-feira, janeiro 18, 2005

Ela, Aquela com Aquele Nome
(...)
E foi através das palavras com que ma descreviam que percebi que ela era muito mais do que uma simples rival de atenção: era eu. Passo a explicar (o melhor que puder, não convém esquecer que ela tem muito mais jeito com as palavras do que eu). Foram-me contando, ingenuamente, os seus segredos, ou melhor, a casca dos seus segredos. E eu conhecia essa casca; era igual à minha. Descobri que debaixo da casca daquela personagem estava o mesmo que eu tinha escondido com a minha.
Compreende-se agora o meu ódio? Ela conhece-me completamente, sem nunca me ter visto ou, quem sabe, até nunca ter ouvido falar de mim (que desilusão tremenda se assim for...). Ela conseguiu roubar-me tudo o que julgava seguro. Ela tem o poder de me despir quando bem entender. Mas, ao mesmo tempo, é quem melhor me pode compreender, quem melhor me poderia ajudar em qualquer situação, ela é o conjunto de todas as minhas confissões, ela carrega esse peso de uma forma tão leve como o seu corpo. E o seu corpo, juro, tem todas as marcas que o meu tem. Como o sei? Ela conseguiu expô-lo na sua arte, eu vi-o e vi-me. E li tudo o que escreveu, num dia de ânsia, devorei-a como ela jamais poderá imaginar, arranquei toda a sua casca, também sei por onde puxar, e descobri-me, frágil, dentro dela. Cosi-a de novo e afastei-me. Não sei o que fazer agora que me descobri neste corpo.
Pode-se até acreditar que eu a pudesse amar. Seria possível? No fundo, ela é a minha gémea, ela é o ideal de cumplicidade e compreensão. É a minha total catarse. E, tal como na psicanálise, tanto posso amar o psicanalista como odiá-lo. E eu odeio-o.
Até porque, para mais, ela não é apenas eu. É tudo aquilo que eu gostaria de ser. É o meu ser em potência. Tem a força, a arte, o talento, a vida e até o estilo que eu gostava de ter. Sinto-me uma miniatura, uma amostra, um rabisco, um rascunho, um zigoto inviável. Como se tivessem pegado no meu ser e o tivessem plantado noutro corpo (semelhante ao meu) e ele tivesse germinado em força sem a minha vergonha e insuficiência. Odeio-a por ser o que sou e o que não chego a ser.
E estou neste momento como nunca estive antes. Ando de um lado para o outro, sozinha, sem saber o que achar daquela personagem. Não a posso conhecer, seria como sorrir para a nossa imagem do espelho sabendo que ela sabe que não queremos sorrir.
(Será que tenho o poder para destruir o espelho?)
Sinto-me insignificante e abandonada e, maior ironia, aquele nome nem sabe quem sou nem aquilo que me faz. Não merecia ser assim tão importante. Tem de desaparecer. Em nome da minha honra e das minhas amizades...
(São só sete anos de azar, não é?...)

1 comentário:

Anónimo disse...

Damos-lhe a importância que queremos. :)
Belas palavras. Gostei deste texto. Deveras agradável.

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Love_is_Suicide

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