quinta-feira, dezembro 29, 2005

Não sei como cheguei aqui. Nunca pensei seguir este caminho, nunca julguei ser possível encontrá-lo sequer. O que é facto é que surgiu de mansinho, tocou-me na mão e eu segui, confiante. Como uma rua numa cidade deserta, uma noite sozinha, uma brisa que nos leva por ali, as luzes amareladas que nos mostram o caminho, visível e seguro, por mais desconhecido que seja.
E agora cheguei aqui. Só há uma decisão a tomar e chegou a altura de o fazer. Termino o percurso que tanto me tem agradado ou paro, submeto-me ao medo de ficar mais só do que sozinha e volto para trás. Qual é a dúvida afinal?
Recordo-me do que já percorri. Sinto os teus dedos tímidos passearem a medo ao longo dos meus cabelos, aproximando-se da minha face, provando-a, sempre na penumbra daquele momento. Mais ninguém os vê, apenas os sentimos. E seguem, entusiasmados com a minha recepção, à procura dos meus. Esperam-nos. Vês? Segui o caminho, recebi-os com ternura. E naquele dia nunca cruzámos o olhar, as mãos entrelaçadas disseram mais do que o possível.
O tempo voa. E que já percorremos desde então… As brincadeiras que se seguiram, as carícias inocentes, os gestos leves, o toque doce, sempre sempre na penumbra. Como se nem nós o soubéssemos, como se fosse um segredo das nossas partes.
Até que, um dia, os olhares cruzaram-se. E foi nos teus olhos que li a nossa história. Não era a chegada, mas sim o percurso. E pedias-me inconscientemente que me decidisse a seguir-te até ao fim ou a largar a brincadeira.
Nunca a quis deixar. Tinha apenas medo do fim do percurso, do que surgiria depois. Se fosses como eu compreenderias. Enquanto pensava no que me tinhas pedido, não fui capaz de te abandonar. O teu toque era tão quente.
E depois veio aquele momento. Mostraste-me o caminho. Caminhámos os dois de olhos cerrados e tão naturalmente os lábios encontraram-se. Nenhum de nós pensou no que significava. Simplesmente era. Era impossível evitá-lo, não podemos negar.
Claro que dessa vez foi perto demais de mim própria. Acordei assustada, o tempo tinha-se esgotado. Mostraste-me o destino do teu caminho. Sem te aperceberes, exigiste-me uma resposta urgente. E para mal dos meus pecados pensei, pensei, pensei.
Mas agora estou aqui. Estou em mim, completa. Lembras-te de como me aproximava vagarosamente de ti quando ensaiávamos a nossa dança? É assim que me chego de novo.
Leva-me para casa. Mostra-me o caminho como me mostraste antes. Não sei porque parei, porque duvidei de ti, sempre soube que tu eras o meu caminho e o meu destino. Nunca ninguém me levou pela mão com tanta ternura e sinceridade. Cuidaste tão bem de mim. Chegou a altura de caminhar a teu lado, mostrar-te o quanto quero aqui estar e o quanto feliz estou por isso.
Vem depressa. Leva-me. Vou seguir-te para onde fores. Vamos para casa, a nossa, a morada do fim desta estrada deserta. E vamos sentar-nos, tão confortáveis como sempre, aninhados em nós, certos do que somos e vamos rever o nosso filme, de novo de mãos abraçadas, inquietas, mas de gestos doces. Tens o coração tão aquecido como o meu. Sinto-o pulsar no meu peito. Deito a cabeça no teu ombro, espreitas-me e, de olhos escondidos, eu sorrio. Estou em casa.

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