domingo, setembro 18, 2005

Finalmente saíste. TEnho ainda a mão pousada na porta que te fechei e o olhar na fechadura que me isola. Devagar, trago a saia até ao sofá onde me aninho. Descalso-me, respiro fundo, fecho os olhos, escondo-os atrás do pulso. Não era assim, mas já não posso deixar de o ser. Não tenho pena de ti, não sinto nada. Ainda vejo os teus olhos tristes e pequeninos fitando os meus, procurando algo mais do que te dei. Quando chega a altura, todos parecem trazer sinceridade no olhar. Seria?
Deixei de acreditar. Oiço os teus passos lentos na rua, o arrastar dos teus pés na água que chovia. Afastas-te como devido. Não acredito em ti, não acredito nos teus olhos. Tudo o que me disseste não significa nada para mim por muito importante que seja para ti. Como poderias...? É tão humilhante ver-te assim, cuidadoso nas palavras, ansioso no coração, imprudente na escolha.
Querias mesmo a minha companhia? Isso sei que sim, apenas a razão não me convence. Que olhos tão penosos, que palavras tão melosas. Que enjoo, que mentira. Costumava ceder com pouca força, um sorriso indiscreto bastava para me derrubar. Todos merecemos ser felizes, pensava, até eu. E seguia, confiante, cega, domada. Mas a magia nunca chegou. Nunca quis proteger ninguém, nunca quis parar para ver alguém adormecer, nunca me senti reflectida, sempre estive só, com medo de falhar, de não ser o esperado, de não servir. Deixei então de acreditar. Eram apenas forças que depressa se esgotam, desejos que se concretizam.
Como podias então querer que acreditasse em ti quando dizes que cedeste por mim? Que não é brincadeira, que nunca sentiste nada assim, tens a certeza, só me queres a mim, não consegues pensar em mais nada? Não. Esquece-me depressa antes que a oportunidade de seres cegamente feliz com outra te passe ao lado. Não, eu não sirvo para ti. Não, nem te vou dizer que te quero como amigo como aparentemente se faz nestas ocasiões - como um penso rápido sobre um membro decepado - , se te arder mais agora pode ser que o engano te passe mais depressa. Ficas mudo, perdido, e eu, amigavelmente, digo-te num sorriso que se faz tarde, preciso de descansar e é melhor aproveitares agora que parou de chover. Recuas, sais em silêncio. e agora oiço-te afastares pela rua.
Enfim, só. Ele não compreenderia, ainda não percebeu que... isso não existe. Eu tinha tanto para dar mas perdi-o todo. Não me consigo imaginar a dar novamente. Não agora, não com ele, não com ninguém e tempo algum. Ninguém poderia estar comigo, apenas comigo. Sou insuficiente, diriam. Ele diria. Daqui a dias exigir-me-ia gestos doces, palavras mimosas, carícias pesadas. Seria tudo forçado. E olhar-me-ia julgando-me fria, morta por dentro, não me amas, nunca me amaste. E eu, assustada, seria incapaz de lhe explicar. E ele fugiria de mim, curado finalmente, sem nunca saber que o amava realmente...
Já não oiço passos. Mais ninguém em casa. Não o amo, claro. Nem acredito nisso. Mas se tivesse cedido teria acreditado novamente que tinha descoberto o verdadeiro significado de amor e teria martirizado muito mais a minha pobre alma. Assim permaneço sossegada, sem dores, sem martírios. Eles têm maior capacidade para lidar com este tipo de respostas, mais cedo ou mais tarde aqueles olhos penosos estão depostos noutra pessoa. Tenho a certeza...
Já começou. O aperto no peito sempre veio. Deixo-o ir, é como as marés, pode aumentar muito, tira-me o fôlego, dificulta-me a respiração, mas acaba por abrandar e fica tudo como dantes. Calculei que viesse. Ainda não percebeu que isto é o melhor para mim.
Antes de vir para cá revi tudo na minha cabeça. Vi tudo isto acontecer e fiz tudo o que tinha combinado. Não julguei que fosse capaz, mas fui. Tenho orgulho em mim, venci-me, venci este estúpido aperto que me sufoca agora que tudo já passou. Não haveriam mais ilusões nunca mais. Especialmente agora quando a cabeça não distingue a alma do corpo (há distinção?!...). Ninguém me quer, não podem querer. Quem realmente me conhece não me pode querer. Ele não me conhece. Não o mereço, não me merece.
(Não sou capaz...)
Foi tudo tão bem ensaiado na minha cabeça. Correu tudo como planeado. Só há um pequeno pormenor. É que... tudo isto precisa de um propósito, um objectivo. Qual seria? Paz, sossego, solidão. Isolamento. Todos merecemos ser felizes (até eu). Tudo para nada. Querias mesmo? Só neste breve instante penso como seria se fosse ao contrário, se tivesse cedido uma vez mais. Só preciso de uma carícia de vez em quando. Mas não, páro. Não vou por aqui. Fiz bem. Solidão. Dormência. Ninguém sabe ou saberá. Deixo-me ficar, já de cara lavada, a descansar desta batalha interior. Tudo para nada...

1 comentário:

Anónimo disse...

prata... .


..estarei a desrrespeitar a tua angustia (pois isto acredito q seje arrancado te ti) se perguntar quem não amará o autor "disto"? tu estas aki esburraxada no meu ecrã, vejo o teu corpo e alma nus escorrer pelo monitor, na sua maior pureza e sinceridade perante ti e todos...quem não amará a rapariga q aki vejo? tão real e perfeita, lavada pela xuva, lavada em lagrimas, verdadeira, limpa e pura como a agua q te molhou.

eu propria. .. és linda tu e o teu mundo.