Adormecemos ontem com a decisão tomada. Pela manhã, fizemos as malas, mudámos, limpámos, arrumámos. Como o dia não pode ser só feito de angústias domésticas, seguimos para um passeio pela cidade.
A pé, repetimos, em sentido inverso, a caminhada imensa dos dias prévios. Passeig da Grácia, Plaça de Catalunya, Les Rambles. Virámos à esquerda, para a Plaça Reial e decidimos embrenhar-nos no Bairro Gótico, que ainda não conheceramos. Pela Carrer de Ferran, chegámos à Plaça de Sant Jaume, onde, em frente à Câmara Municipal um grupo se manifestava em prol dos refugiados. Assim o julgamos, visto que a língua catalã não nos é tão transparente como gostaríamos. Enquanto fotografava um edifício cuja cor alegre e textura distinta das paredes sobressaía do resto da praça, reparei que, ao canto da imagem, na ruela que torneava este edifício, uma ponte refinada introduz o Gótico do bairro a que pertence. Seguimos, então pela Carrer del Bisbe, em direção à música erudita que ouvimos. Encontramos então, a Catedral, enfeitada com uma orquestra de sopro que nos convida a aproximar-nos. E aproximamo-nos até entendermos que a música serve um propósito maior. À frente da orquestra, vários circulos se formaram. As malas amontoam-se no centro do círculo, as pessoas dão as mãos e os pés dão o ritmo à união. Saltitando, fletindo, cruzando o pé delicadamente sobre o outro, calcanhar no chão, calcanhar no ar, braços em cima e em baixo, assim dançam ao ritmo dos sopros. São pessoas de todas as idades, mas sobressaem as personas mayores, os que carregam história e tradição e, provavelmente, um sangue catalão convicto. É, pois, o que imagino que carregam estes movimentos coordenados, surpreendentes, uníssonos. Uma cultura.
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