Deve ser isto, só pode. Entrámos por gostarmos de mergulhar nestas bancas de fruta fresca e queijo forte, sem saber ao certo que era ali. Rapidamente percebemos que estavamos na Boqueria, pela inundação de pessoas de câmara em punho, selfies a serem tiradas, presunto a ser provado e dinheiro a sobrevoar as bancas. Cheira a especiarias de um lado, impressionam os legumes e frutas do outro. Mais à frente, torna-se difícil sair da frente da montra sem levar um (ou mais) dos queijos expostos. Perdemo-nos deliberadamente nas ruelas do mercado. Andamos às voltas tentando absorver todos os sabores com recurso à empatia pelo deleite dos outros. Observamos atentamente para descobrir o único e excecional. E vemos então a montra que mais ficará na memória, pela crueza dos produtos. A cabeça da cabra, de língua de fora e os olhos espantados, ao lado de miolos embalados numa caixinha de plástico. Reconhecemos ainda testículos, um focinho de porco, estômagos, corações e outros que tais que as nossas aulas de anatomia nos permitiram reconhecer. Bem sei que em terras lusas não faltam destinos para estes repastos, mas vê-los assim, crus, limpos e inteiros, surpreende.
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