quarta-feira, outubro 28, 2015

BCN #26

Aqui, és quem tu quiseres.
No metro, um rapaz de vinte e poucos anos salienta-se dos restantes passageiros. Sobressai o seu cabelo comprido, branco pela descoloração agressiva sobre um cabelo negro ainda nas pontas, que cai como uma cortina sobre o caderno apoiado sobre o joelho rasgado na indumentária escura. Concentrado no seu desenho, levanta intermitentemente o olhar para confirmar as linhas da carruagem. Observa a carruagem, não quem a habita.
Na estação seguinte entre um grupo de jovens, com roupas tão duras como as deste que nem os vê. Elas arriscam um pouco de cor, mas o rapaz que as acompanha mantém a monocromia. Alto, curvado para caber no círculo de amizade ali criado, mostra o seu sorriso desalinhado. De dentro da sweat escura saem umas mãos compridas, brancas, magras, como a sua face. Contrasta-se. A fragilidade do corpo protege-se com a afirmação da roupa que o veste.

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