Uma das condições humanas que mais odeio é o corpo. Tantas vezes me sinto presa a esta massa que me arrasta, da qual não me consigo libertar. Quero explodir, rebentar, libertar-me mas a minha alma não pode fugir. Quando as emoções são demasiado fortes, o meu corpo corroi-me. Por vezes, fico demasiadamente grande para este objecto tão pequeno e insignificante.
E talvez esse sentimento de prisioneiro do nosso próprio corpo ainda é o menos perturbador. Quando as doenças nos contaminam sentimos ainda mais o peso brutal de um corpo que nos consome, que nos arrasta. À medida que a doença nos consome e nos corroi, apercebemos então da fragilidade da vida e da nossa dependencia do corpo. Não poder fazer nada sem um corpo... A nossa alma, por mais grandiosa que seja, não passará além do espaço que ocupamos com o nosso pequeníssimo corpo. Uns mais baixos, outros mais altos, uns fortes, uns doentes, uns exagerados, uns deficientes.
Talvez por tudo isto eu sonho com a libertação da alma do nosso corpo após a morte. Gostava tanto de poder pairar por aí. E mesmo que isso não aconteça, é sempre bom termos algo bom em que acreditar.
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