terça-feira, agosto 12, 2003

Hoje estou um bocado péssimista... Também não é muito difícil...
Gostava de salvar os que estão perdidos, os desencontrados, os desesperançados, despedaçados. Ás vezes tenho a ideia que consigo. Com algumas palavras talvez posso ajudar e ser um archote na sua passagem. Ilusões...
Pois seja, acreditarei que as conseguirei salvar. Então, o que é que eu posso dizer. Que a vida vale a pena?! É uma hipótese... Mas convém justificar. Ora bem, não há-de ser assim tão difícil! Tanta coisa bonita! A natureza só por si valerá a pena. O céu, o verde, os seres vivos, o milagre da vida. Alguém viverá só para ver o nascer do sol?
E os objectivos de vida? O que podemos alcançar dela? Uma família. Amor. E sempre temos os nossos amigos com quem rir. Um emprego gratificante no qual fazemos o que gostamos. Sempre podemos lutar por isso, não?! Lutar por uma vida amena e segura.
E haverá mais que poderei dizer. Não há? E aí salvarei os que me ouvirem...
Não sei porquê mas parece que me iludo. A vida não é mais que um instante. Uma poeira no deserto do Universo (é aqui que entra o pessimismo). Ultimamente tenho pensado numa razão, num lema, num objectivo concreto e que prenderia qualquer um à vida. Mas ... não encontrei. Tudo isto que aqui disse, sim, vale a pena (acho eu... sempre me disseram que sim). Mas bastará? Por vezes, pensar que não somos nada, que não podemos mudar (quase) nada poderá abater-nos. Eu posso pensar na vida de uma pessoa em dois segundos. Nasce, anda na escola, passa pela infância e adolescência e cresce, vai para a Universidade, tira um curso, arranja um emprego, encontra a mulher/homem da sua vida, casa, tem filhos, descasa, volta a casar, envelhece, reforma-se, fica doente e no momento de dor da sua doença falece. E pronto, nunca mais ninguém se lembrará do Fulano. Talvez os filhos e os netos. Mas eu conheço pessoas (da minha família e tudo) que não se lembram sequer do nome dos avós. E pronto, desapareceu um ser. E a vida valeu a pena? Morreu feliz e concretizado?
...
Agora de repente até percebi o meu problema... Que idiota, estou a pensar em tempos muito longos. Estou a sair do meu corpo e a ver o filme de fora, como um Deus que não sente o tempo. Que triste... tenho que pensar em termos humanos. Em horas, semanas, meses, anos. E então aí, nesse tempo humano, talvez uma vida tenha significado, talvez mude alguma coisa, talvez seja importante para alguém ou para alguma coisa. Se calhar, nestes meses a minha função aqui é escrever isto e fingir que consigo salvar os que rastejam. E talvez, ao pensar aqui que não o consigo, até os esteja a salvar. ERa bom não era? Assim a minha vida já teria alguma importância. Até porque eu nasci com um propósito. Nasci porque os meus pais quiseram. Mesmo que não esteja aqui por mais nada, estou aqui para representar ,talvez, o seu amor. Não é?
E continuaria aqui a divagar ( agora até me estava a apetecer =) ). Mas por hoje chega. Que os pensamentos sucedem-se muito depressa para os conseguirmos explicar convenientemente...

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