terça-feira, agosto 19, 2003

Gosto muito de Filosofia. Nota-se... Gosto de pensar em questões que jamais poderei saber a resposta e que, muitas vezes, também preferia não saber. Gosto desses pensamentos que vão para lá do óbvio. Perguntas sobre o infinito, a razão, o sentido da vida, a morte. Mas, às vezes invejo quem não pensa nisso.
Tenho alturas que preferia viver como todos vivem, com as preocupações do costume. Pensar apenas no meu estudo para que o meu futuro possa ser de sucesso e sem problemas maiores. Vou apenas estar com os meus amigos sem pensar no fim, sem pensar na morte e sem sequer acreditar que vou morrer um dia e que tudo acabará. Vou viver sem preocupações idiotas.
Pois bem, tentarei. Mas as perguntas, os pensamentos perseguem-me. E, de certeza, não é só a mim. Tenho medo das respostas, não sei porquê. Há quem diga que depois de morto sabemos as respostas a todas as perguntas. Não será informação a mais?!
A sabedoria é considerada um privilégio. É bom saber. É bom aprender. Mas há algo de perigoso na sabedoria. Fica gravada na nossa memória, não podemos simplesmente apagá-la. Somos um computador incompleto, falta-nos a tecla "Delete". Vou fazer uma referência ao Matrix (peço desculpa a quem não viu ... ). O Neo tem a hipótese de escolher se quer saber a verdade ou permanecer na sua vida pacata. Ele não faz ideia o que é efectivamente o Matrix. E arrisca pela verdade. Depois de a conhecer, não quer acreditar, não a quer enfrentar. A sua vida sem esse conhecimento era muito melhor. Mas ele escolheu saber. E, por muito medo que tenha de viver neste novo mundo, já não poderá voltar atrás. Poderia ligar-se ao Matrix e viver lá, mas saberia agora que tudo aquilo não passava de uma ilusão. É por isso compreensível o acto de Cypher ao negociar com os agentes o seu esquecimento da verdade. Ele não aguentou a verdade e preferiu voltar a viver no Matrix e nunca mais ouvir falar disso.
Vou dar outro exemplo no mundo do cinema. O filme "Memento". Um homem com uma doença rara. Não tem memória, esquece-se de tudo passado uns minutos de isso acontecer. Cada vez que ele acorda não se lembra de nada. Por isso, escreve em fotografias ou em tatuagens o que ele tem de saber. Tem um objectivo: matar o assassino da sua mulher. Tem isso tatuado no seu peito, é por isso que ele sabe. Mas no fim, percebemos que ele mente a si próprio para ter uma razão de vida, um objectivo. Podem dar-lhe informações vitais e que ele anseia saber mas que, se ele não anotar, nunca mais se irá lembrar e viverá sempre à procura dessa informação. E vai vivendo com um objectivo que, se calhar até já foi concretizado. Não tem memória. Apaga as informações indesejaveis. Não se lembra de nada. Tem cinco minutos de memória. Seria tão bom poder apagar algumas recordações...
Mas no nosso mundo isso não é possível. Não podemos apagar memórias. Nem conhecimento. É por isso que ele é perigoso. Podemos ter sede de conhecimento mas, a partir do momento que nos dão as respostas às nossas perguntas, por mais indesejadas(agora que já se sabe a verdade) que sejam, não poderão ser esquecidas. Não podemos voltar atrás.
E isso assusta-me. É compreensível, não será? Existem questões de vida que nos serão respondidas pelo tempo. E, se calhar, eu não vou querer saber. Não quero essas questões, não me quero preocupar com elas! Não quero as respostas! Quando morrer,não quero saber tudo... É uma grande responsabilidade, e uma grande dor de cabeça.
É uma das razões para eu às vezes preferir não existir. Mas eu existirei sempre... E as respostas perseguem-me. E, mesmo que eu me faça desaparecer, essas respostas serão dadas nesse ultimo instante. Porquê? É um castigo ... Pela curiosidade humana. Ah, maldita razão, quero o meu instinto e apenas o meu instinto de volta!!...
Sou tão complicada...

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