sexta-feira, outubro 19, 2007

[Como paga de tanto tempo sem escrever, digo-vos agora: acho que chegou a altura. Cá vai então. *figas*]

Anja

Não tens corpo
Não és mulher
e não és anjo.

Não te ris com elas
nem com o olhar fixo deles em ti
Eles não te fixam.
Não vês cores nem tons
em vestidos ou trapos pirosos
Não vês filmes pelo actor principal
Não te embonecas, não te enfeitas
Não te penduras neles, não os desejas
Estás só e amas
o mundo

Não compreendes o fascínio
pela tua aurea branca
pelo teu olhar claro
pela tua divina serenidade
A pele foge do toque
Mas tantas almas foram tocadas
por ti
Presente, mas à distância
Estás só e entre
nós

Mas não és luz
e não voas.
Não surges apenas em delírios
Não fazes milagres contemporâneos.
Também te atingem,
Sofres de prantos, lamúrias,
vergonhas e raivas
Vives connosco e
arriscas-te a queimar
as asas quebradas.

Não podes ser anjo
nem sequer mulher
Estás só, como
Nenhum dos mundos te quer

A. Dionísio 24/06/06

[heterónimo que criei e que na altura andava a escrever melhor que eu... Há mais uns quantos poemas, vou mostrá-los nos tempos próximos]

2 comentários:

Mina Anguelova disse...

ahhh...o admirador secreto sempre apareceu.

Curioso o seu nome.

Anónimo disse...

Não sei porquê não consigo gostar tanto do início quanto do corpo do poema. Conhecendo a tua escrita acho que conseguias melhor início do que com aquele que te satisfizeste.
A partir da segunda estrofe começas a deleitar os leitores *daquela* forma. Tens versos tão sublimes. Diria perfeitos (shhh...).
'não vês cores nem tons'
'estás só e amas / o mundo' ('estás só e amas'... *tao tao bom*)
'a pele foge do toque'
'não surges apenas em delírios'

... i ll keep on my journey*