terça-feira, abril 25, 2006

Ele gosta de ti. Cheiras bem.

Apesar de ter vindo a escrever cada vez menos, estou com o pensamento sempre presente na escrita. Há tanta coisa que vejo, que sinto, que quero transmitir e tornar eterno, mostrar ao mundo para tentar saber se serei a única. The bliss.
Por vezes são cores. O céu ao anoitecer, as nuvens em fogo. Mas faltam-me os termos para as cores. Só conheço este. Vermelho. Ou laranja.
Ou então é um gesto mínimo. Um pé ou uma mão que se contorce num beijo. Um olhar perdido ou um sorriso escondido. Ou a minha mão a esconder o meu sorriso solitário quando vou sozinha na rua e a tirá-lo da cara, a puxar os cantos da boca para o seu sítio certo. Mas só conheço estes termos.
Ou o cheiro dela que me acalma e conforta. E ali fico, encostada, satisfeita, falando devagar e sem importância, porque me cheira a gente que estimo.
Ou aquela frase que me disseram, aquela lá em cima, que me soube tão bem. Ou um sorriso que me devolvem. Ou um riso solto quando não esperava.
Ou quando leio o livro da Katherine Mansfield e me descubro a rir sozinha, a sentir-me feliz por viver aquelas palavras mais belas que eu. E o inglês que me soa tão bem a ressoar na cabeça. How exquisite.
Ou quando oiço este album de Placebo que me estava mesmo a apetecer e me sento ao computador, pronta para escrever o que sinto e só me sai as líricas que oiço. E depois há estes solos de guitarra que não dá para escrever.
Ou quando vou ao blog da Mina e me sinto em casa. O fundo é tão acolhedor. Apetece ficar com a janela aberta imenso tempo, só a deixar o ambiente preencher-me.
Mas não sei.
Geralmente pergunto-me se é mesmo esta a minha arte. Talvez se me dedicasse ao cinema, por exemplo! Já me disseram, e eu até concordo, que gosto muito de descrever imagens, gestos. Talvez se escrevesse um guião (se soubesse como é) ou uma peça de teatro me sairia melhor. Mas faltam-me as histórias. Os meus pedaços são tão pequenos que não durariam cinco minutos em palco. Ou no ecrã.
Quem sabe, um dia.
Eu precisava de tempo para me sentar e não pensar em mais nada. Não consigo. Se reunisse tudo o que escrevi, analisasse tudo ao promenor, talvez encontraria um fio que seguir, talvez conseguisse juntar todos os pequenos pedacinhos, sem forçar, e saísse algo digno do que queria expor.
Como me disseram (como tu me disseste), a ficção não pode superar a realidade, não existe. Sim, é a minha realidade que me fascina e não as personagens que me surgem forçadas na cabeça. E era a minha realidade que gostava de transmitir, todos os pequenos pedacinhos, os bons, os maus, os secretos, os públicos, os podres. Mas não posso porque não vivo sozinha. Não sou eu que crio a minha realidade, são os outros que entram pelos meus sentidos adentro. E eu não tenho o direito de lhes tirar a intimidade e confiança que depositaram em mim. Complicações.
Como posso ser tão cuidadosa?!

Tenho uma pedra no coração.

3 comentários:

KaRL disse...

antes de escreveres aquilo que te dará o Nobel... ermmm hmmm PORMENOR :x mas pronto é parecido ;)

Laura Brown disse...

Thanks for the support...
É uma das palavras que tenho sempre dúvidas, por mais que me corrijam. Pode ser que seja desta...
Ainda bem que muita gente consegue ler para além dos erros ortográficos.

Mina Anguelova disse...

TRAÍDOS PELAS TUAS PALAVRAS quer dizer: têm ciúmes, não te querem partilhar com o mundo, querem te toda para eles. só eles devem ter accesso ao teu íntimo.

EXPOSTOS quer dizer: não perceberam nada de nada, ou preocupam se demasiado com o que os que não percebem nada de nada possam pensar deles.

descontrai e deixa te levar pela emoção do momento milagroso. se não o registares será tristemente esquecido por todos, inclusive por ti.