<levanto-me e vou até à fogueira, falo para todos mas espero que alguns me oiçam com mais atenção>
Estou aqui graças meu irmão. Tanta vez o ouvi contar todos os pormenores hilariantes e alegres dos dias que aqui passava. Mas, apesar disso, nunca cá quis voltar, tinha demasiadas más recordações para querer tentar de novo. Até que me apercebi que seria a minha última oportunidade de vir e de matar todos os fantasmas que me perseguiam desde as únicas vezes que cá estive, quando era demasiado pequenina para saber esquecer. E, num acto de coragem (por muito exagerado que pareça, foi mesmo coragem), decidi vir.
Nas semanas que precederam o início destes dias estive muito nervosa, só pensava "o que raio vou eu lá fazer?!". Ao contrário de vós, tinha apenas más, péssimas expectativas para estes dias. Para quem se lembra de mim nos primeiros tempos, são capazes de me recordar mais calada, muito assustada, receosa. Adormecia nervosa, com medo do dia seguinte.
Tudo isto para dizer que sinto-me muito feliz por ter tido essa coragem de cá voltar. Ainda há pouco, ali sentada, pensava que não vou levar nenhuma má recordação para casa. Mal cá cheguei fui muito bem recebida por todos, não julguei que viesse encontrar um ambiente tão bom entre as pessoas. Conheci muita gente nova, gente tão diferente de mim que nunca pensei vir a conhecer, gente que me mostrou novas formas de encarar as coisas. Gente que me ensinou a ser aquilo que eu sempre quis, mas nunca tivera a força suficiente para ser. Aqui tenho a possibilidade de ser quem quiser, ninguém espera nada de mim, ninguém sabe o que fui lá fora, ninguém me conhece, nem mesmo eu. Esperam apenas a minha entrega neste espírito que me fascina.
Queria agradecer àqueles que estiveram mais junto de mim nestes dias. Foram eles que me mostraram que posso ser quem eu quiser, sem medos ou preconceitos. Cresci imenso aqui, surpreendi-me comigo própria, com o que consegui alcançar nestes poucos dias. Fez-me tão bem conhecer estas gentes, descobrir novas caras, novas formas de estar, novos sorrisos, novas brincadeiras, novas emoções. Só tenho de agradecer a todos por tudo o que me deram sem sequer terem a noção disso. Garanto-vos que saio daqui uma pessoa diferente, feliz por ter superado todos os fantasmas que me perseguiam, por ter criado novos laços de amizade e por ter alcançado um novo patamar na minha vida (o patamar).
Não me sinto no direito de fazer um grande discurso, ainda não me sinto parte desta grande família que se reúne uma vez por ano aqui, por mais que queira e por muito que me tenham recebido nesse espírito. Este ano vim como se tratasse de uma visita, não me vai custar tanto não voltar cá como vos custa a vocês que cá estão desde os quatro, cinco anos. Mas admiro-vos e sinto a vossa tristeza. E, finalmente, compreendo-a. Nunca me perguntei se gostaria de cá voltar se pudesse. Mas, agora, depois de aqui estar estes dias e de pensar bem, digo-vos, sim, se pudesse, voltava.
Até sempre...
<vou-me sentar>
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