terça-feira, março 30, 2004

Preciso que alguém dance comigo. Estou sozinha no meio de todo este grande grupo. Engraçado como, apesar de estarmos todos em círculo virados para o centro, ninguém olha para ninguém, cada um esconde o seu olhar naquela individualidade que nunca tinha visto antes e que entra neste momento na sala. Parece que procuram algo fora deste círculo para poderem sair dali. Ou não, talvez não queiram sair, talvez procurem não desperdiçar tanto tempo em silêncio, ao menos assim estão entretidos a olhar alguém desconhecido, enquanto o assunto de conversa não chega.
Estou cansada de estar aqui feita normal a olhar para fora do nosso círculo. Não estou aqui a fazer nada. Vou sair. Mas não tenho para onde. Tenho ali outro círculo de gente conhecida. Estão um pouco mais alegres, sorriem, olham-se, divertem-se. Mas cheguei tarde e não caibo mais nesta circunferência apertada. Vou sair novamente, vou procurar um refúgio. Ali está um... Alguém, uma, duas pessoas que conversam e que eu conheço. Aproximo-me. Conversamos um pouco. Mas algo chama essas duas pessoas e eu fico isolada. Mas não, agora não vou sair daqui.
Enquanto espero - e não espero... - pela sua atenção de volta, aproveito para estar sozinha. Vejo mais uns quantos conhecidos por ali, não em círculo, conversando efectivamente, poderia aproximar-me e deixar de estar aqui sozinha. Mas não o faço, eles pediriam-me um sorriso e eu já esgotei os meus. E sabe bem estar aqui sozinha. Sabe bem estar isolada, perdida em mim mesma, enquanto, talvez, quem passa, me julgue acompanhada por aquelas pessoas que desviaram a sua atenção, que nem fazem ideia que continuo aqui. E ainda bem... Por momentos posso estar sozinha sem me sentir demasiado estranha. Talvez não olhem para mim e pensem "Tadita, tá mesmo à nora!". Duvido, mas enfim. Já não me importo. hoje não me importo com o que os outros poderão pensar de mim. Engraçado, logo hoje em que todos se julgam e avaliam uns aos outros. Mas ninguém me vê por dentro, ninguém me poderá julgar. Não me preocupo. Acabou-se.
"Ah, não sabia que ainda estavas aqui". Pois, eu sei que não sabiam, por isso é que me deixei ficar por aqui. Ninguém sabia onde estava e, vê lá, estava tão próximo. Mas agora já voltaram a vossa atenção para mim e sei que não me vão largar agora. Porque eu estive aqui, à vossa espera, e vocês ficaram espantados com isso. Pois é, mas eu não poderia esperar por mais ninguém. Porque mais ninguém me deixaria estar sem sorrir. Realmente, não há melhor lugar para estar agora senão ao pé de vocês.
Preciso que alguém dance comigo. Preciso de alguém que me abrace sem ter razões para isso. Preciso que alguém me sorria, que me diga aquelas frases entre o sonho e o acordar que nunca mais sairão de mim, preciso de alguém que esteja só para eu poder sentir. Preciso que alguém dance comigo, só para poder estar junto a alguém. Preciso mesmo de dançar. Mas hoje parece que todos têm o olhar fora do círculo. Ninguém me abraçará hoje. Nem amanhã. Nem depois. Porque não descobrem razões para isso.
Talvez se lessem um texto como este, talvez aí já encontrariam razões, mas agora já não preciso, agora já vos disse, agora já não servia de nada. Porque assim, já havia razões. E eu só quero abraços sem razões... Não sabem ler nos meus olhos presos ao chão o abraço que eu pedia... E não há abraços desses...

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