21 Gramas
"They say we all lose 21 grams
at the exact moment of our death...
everyone.
The weight of a stack of nickels.
The weight of a chocolate bar.
The weight of a hummingbird..."
Ontem foi ver o filme "21 Gramas". Não foi dos filmes que mais me tocou e que mais me marcou mas, sem dúvida, fez-me pensar muito. Especialmente, na fragilidade da vida. Jovem como sou, tenho tendência natural para pensar que sou imortal. Sou nova, ainda tenho muito que viver, nem sinto o cheiro da morte passar por mim. Não perdi ainda pessoas muito chegadas. Provavelmente ainda não compreendi o conceito de morte muito bem.
Há uns dias atrás, estava deitada já, à espera de adormecer, quando o meu coração decidiu assustar-me. Acelarou muito, durante meio segundo e quando parou ficou uma sensação esquisita no coração como se preparasse para o fazer outra vez. E, provavelmente pela primeira vez na minha vida, senti que ia morrer. Senti que me iria acontecer alguma coisa durante a noite e que só me encontrariam no dia seguinte já morta. Mas não foi o facto de só me encontrarem de manhã que me perturbou. Foi o facto de não viver o dia seguinte. O facto de deixar tanta coisa por fazer. De a minha vida acabar ainda antes de eu ter feito alguma coisa com ela. Foi uma sensação terrível. A morte olhava para mim, sorria, e perguntava-me sarcasticamente se me sentia invencível. E mostrou-me como iria recordar o dia seguinte. O dia que já não iria viver. Era negro, era vazio. Era nada. Não o conseguia imaginar. Eu não o viveria. Mas o tempo não iria parar e todos os outros vivos continuariam a enfrentar as horas.
Sou muito nova e ninguém espera que eu morra durante a noite. Assim como ninguém espera morrer aos 20, ou aos 30, ou aos 40, durante uma conversa animada, durante o sono, durante um jogo de futebol, durante um sorriso. Só esperam morrer quem se sente doente. Só os doentes parecem ter direito a sonhar com a morte. Só os doentes é k têm o direito de a imaginar.
Neste filme o que mais me marcou foi a viúva (peço desculpa a quem não viu o filme). Como é que uma mulher jovem como ela poderia resistir à perda de um marido querido e amado e de duas filhas ainda tão pequenas por atropelamento? Quem é que pode compreender? É ela que diz que a vida não continua. Como seria possível continuar? A vida é tão fragil, pode-se perder num segundo apenas. E esta mulher, momentos antes de saber que o seu marido e as suas filhas estão mortas, ouve no seu telemóvel, com um sorriso carinhoso, uma mensagem do seu marido a dizer que está a caminho de casa, para lhe telefonar se for preciso, ouve-o até repreender uma de suas filhas por se estar a meter com um pombo. E ela sorri. Adora a sua família. Vive para ela. Ama-os tanto. E, descansada, desliga o telemovel e espera pelo regresso deles. Mas o telefone toca. E a sua vida parou.
Tudo isto para dizer como me doeu saber que aquela mulher que era tão feliz, que se estava a reconstruir, perdeu de um momento para outro as três pessoas mais queridas, sem qualquer razão, sem qualquer aviso. Tão frágil a vida, tanto dos que foram como a dos que ficaram.
21 gramas... É isso que valemos?
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