domingo, setembro 21, 2003

- Na realidade, estamos todos sozinhos. Alguns apercebem-se disso mais cedo, outros mais tarde, mas todos, em alguma altura da vida, se sentem sozinhos e se dão conta que isso não poderá mudar muito. Todos juntos na multidão, mas sozinhos. E porquê? Porque ninguém pensa como nós. Ninguém sabe precisamente o que sentimos, ninguém consegue entender as nossas frases, os nossos textos, as nossas expressões da maneira como queriamos, da maneira como estamos a pensar para as dizer, escrever ou fazer. Vivemos à base de relações com outras pessoas, relações de amizade, companheirismo, amor. Mas essas pessoas vão-se afastando, o tempo não pára, as pessoas mudam, viajam, envelhecem, esquecem, fazem escolhas e no fim morrem. Durante todos estes processos, muitas das relações que tinhamos vão perdendo o contacto e fazem-nos sofrer, fazem-nos sentir de novo sozinhos.
- Que pensamentos tão pessimistas! Claro que vamos acabar com certas relações e amizades que temos neste momento mas da mesma maneira com que vamos criar mais relações, novas ligações ao mundo e nunca estaremos sozinhos! Há sempre alguém, mesmo que não o queremos ver, que está por trás de nós e que estará lá se pedirmos ajuda. Há sempre alguém que nos ama, que se importa connosco, que quer estar presente. Mesmo que, por momentos, não o conseguimos ver...
- Isso é verdade, mas não deixamos de estar sozinhos. A nossa mente está sozinha. Todos sabemos que cada um pensa de sua maneira, não há duas pessoas com personalidades identicas, talvez parecidas, mas nunca iguais. Os nossos pensamentos estão sozinhos. As pessoas que estão de fora interpretam-os à sua maneira e nunca perceberão exactamente o que queremos dizer. Estamos sozinhos com os nossos pensamentos. E, quem não percebe ou aceita isso, desiste de pensar e diz tudo aquilo que os outros estão à espera de ouvir. Mas, por outro lado, os que tomam consciência disso mas acreditam nos seus pensamentos e no seu valor, hão-de estar sempre sozinhos na luta pela afirmação das suas opiniões e ideais.
- Somos únicos entre os diferentes exemplares da nossa espécie. Mas estamos todos interligados. Podem não compreender da maneira que tu queres a tua opinião mas hão-de lá estar por ti. Mesmo se não te entenderem na perfeição, não deixam de te amar e de te querer abraçar. Aos poucos vão percebendo melhor o que tu és interiormente e a tua solidão não será tão grande. E há certas expressões, certos actos que são universais.
- Como é que se abraça uma alma? Não é com os braços. Esses, o mais fundo que vão é à superfície da tua pele. Consegues fundir duas pessoas por um só momento? Consegues fazer com que essas pessoas consigam tocar na alma uma da outra? A tua alma, o teu pensamento, está tudo prisioneiro na tua massa cinzenta do teu cerebro e as sensações físicas que te conseguem transmitir, dificilmente chegam à tua alma. Sentes por fora, queres sentir por dentro. E só para fazer ainda mais intriga, não poderás ter a certeza das intensões daquela pessoa ao abraçar-te.
- A tua conversa leva-me a crer que nuca ninguém te abraçou. Tu é que disseste, todos temos consciência que os nossos pensamentos são unicos e ninguém poderá compreendê-los perfeitamente e talvez, nem nós próprios. E quem te abraça sabe disso, e também sabe que o que a poderá ligar mais a ti é por um abraço, pelo toque, porque uma coisa têm em comum: um corpo. E se essa pessoa também aceitar os seus pensamentos e o seu valor, usará o seu corpo em função desses pensamentos, usá-lo-á para te abraçar a alma, pois é isso que pretende, apesar de só atingir a superfície da tua pele. Se não quiseres usar o teu corpo para mais nada, ao menos usa-o para transmitir os teus sentimentos pois é a unica coisa material que possuis e que podes manipular à tua vontade. Ele está lá para te servir.
- Por favor, não vamos começar de novo a discutir a função do corpo! Ele está lá para me servir?! Ele está cá para me pedir, me implorar, me arrastar e me limitar.
- O teu corpo condiciona-te muito, é verdade, mas se acreditas que a mente está sobre o corpo, poderás viver em paz com ele, dando-lhe o que ele necessita para se manter vivo em troca de alguns favores que ele te poderá dar para te libertar um pouco dos teus pensamentos. Mas tu nunca vais perceber o que eu quis dizer com isto porque os nossos pensamentos estão separados e sozinhos nos neurónios do nosso cerebro. Mas levas um abraço, pode ser que eles se aproximem e que, por momentos, se fundam e se compreendam...

(São estas as conversas que tenho comigo própria. Estou muito confusa, não? É a minha alma pessismista contra a minha alma optimista. Ainda não alcansei o entremedio. Talvez não exista, o mundo é todo constituido por opostos. E terei de viver com eles os dois, o pessimista e o optimista, e com todos os pensamentos opostos que tenho. Assim pode ser que agrade a todos... E termino por agora)

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