Tocou. Depressa a turma arruma às escondidas do professor todo o material e, mal há licença para sair, corre tudo para a porta. De passo apressado, roubando uns minutos ao tempo, os alunos escorrem para o pátio. Vou lá no meio, arrastada mas ansiosa também por sair da sala e daqueles corredores. Ah, já só falta mais um bocadinho para sair deste aperto e de estar lá fora, ao sol, livre. Chego, por fim, cá fora, ao pátio, onde já se distinguem grupos de amigos/colegas. Finalmente, estaciono junto à parede, num local discreto, rodeada dos meus amigos. Cheguei, estou acomodada. Agora é só esperar que o intervalo passe...
Olho em volta, num momento em que os que me rodeiam conversam sem notar a minha presença. Vejo os alunos, estudantes, amigos, em grupos, conversando com um sorriso na cara. Mas... sinto-os tão superficiais. Não percebo. Também tenho os meus amigos e sei bem o valor que lhes dou. Mas todos aqueles grupos, todos aqueles sorrisos parecem ser tão efémeros, tão desinteressantes, tão falsos. Não os conheço. Não sei do que estão a falar. Mas mesmo assim sinto a futilidade em cada rosto dos jovens que vejo à minha volta. Estou a ser injusta para com eles, para quem não conheço? Provavelmente estou, mas é o que eu sinto. Aqueles sorrisos que se dão pela frente, aquelas facadas que se dão por trás. Se calhar, até os meus sorrisos parecem superfluos quando os solto. Se calhar sou igual à ideia de tenho de todos os outros que me rodeiam e que não conheço. É daquelas alegrias que não duram muito. Amizades que acabam e que se transformam. Sorrisos que passam a ranger de dentes, a murmurios...
E, mal esta visão de falsidade me entra pelos olhos, não me apetece estar mais naquele local. Conheço os meus amigos, os meus colegas e não vejo sorrisos cínicos ou efémeros nas suas faces. Mas mesmo assim... neste momento não quero estar a sorrir com eles. Apetece-me apenas estar sozinha no meio da minha multidão. Não me quero isolar, poderiam descobrir-me e perguntar o que se passava para estar sozinha. E eu não saberia responder. Assim, se me refugiar no meio das conversas que cruzam à minha volta, talvez não reparem em mim e eu possa implodir para dentro de mim, deixar o tempo passar.
Cada vez gosto menos dos intervalos. Um quarto de hora sem fazer nada. Ali, em pé, no pátio, muitas vezes encostada à parede. Falando de tudo e de nada. Refrescar as ideias para ir novamente hora e meia para dentro de uma sala ouvir até à exaustão um professor que apenas pretende cumprir a sua função. Não acho graça aos intervalos. Fico pronta para outra aula mal chego cá fora, ao pátio, e estaciono junto à coluna. Mal me encosto, as minhas pilhas gastas da aula anterior ficam novamente prontas para mais uma dose de atenção. Mas o quarto de hora de intervalo ainda agora começou. Espero então, junto do meu grupo, que o ponteiro rode um bocadinho e logo me dirijo para a sala.
Estou naqueles dias em que não estou bem em lado nenhum. Nem em casa, nem na escola, nem na rua, nem em mim. É daqueles dias que mais valem passar sem que nós os vejamos. Neste dias não me apetece viver. Apetece-me ser uma sombra que não precisa de cumprimentar ninguém ... Apetece-me pairar por ali como se o tempo não existisse...
E não digo mais nada... porque vou deixar que o tempo passe sem que eu o queira parar..........
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