Desde que aqui cheguei que está internado, já lá vai mais de um mês. Vemo-nos todos os dias, conversamos todos os dias. Comigo já chorou, já riu, já se zangou, já pediu perdão. Hoje está particularmente agitado. Apesar de já ter sido observado por outro médico e já ser o final da jornada, entendo que não deveria prescindir da conversa diária. Chama-me, inquieto, entusiasmado. Vamos para junto da janela, propõe. Não faz parte do protocolo da observação clínica, mas pouco importa neste momento. Aceito. Prepara ambas as cadeiras, viradas para a imensa janela que abre a vista para a imensidão da cidade de Barcelona. Está um dia bonito, solarengo, céu limpo, o mar azul ao fundo. Sentámo-nos. Relembra o tempo todo que passou desde que está internado, já lá vão muitos meses. E está um dia tão bonito lá fora e eu aqui, diz. Não minimizo. Bem sabemos que tanto tempo aqui também faz estragos ao humor de qualquer pessoa. Mas, enfim, há que entender o porquê de tanto tempo, ninguém tem especial prazer em mantê-lo internado, mas a gravidade da situação assim o exige. E pelo menos daqui temos uma vista impossível de apreciar ali de baixo, junto aos carros, escondidos entre os edifícios altos que nos limitam a vista. Por hoje, então, apreciaremos a vista e aguardaremos por dias melhores.
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