Vais ler. Um dia ou dois depois de o escrever vais ler. E, um minuto ou dois depois vais dizer-me "és capaz de melhor". E, um instante ou dois depois, vou baixar o queixo, confirmar o que me disseste e envergonhar-me por já não ser capaz de melhor.
Disse hoje ao J. que parecia que já não era a mesma pessoa que aqui escrevia. Não sou. Perdi-me no meio das escolhas múltiplas, das paredes pesadas e da ignorância gratuita. Não me encontro lá. Não tenho casa aqui. Olho este meu filho e peço-lhe perdão. Ele é pequeno, também não será capaz de me puxar.
Há que vencer a passividade. Há que levantar cedo e tomar o banho que se impõe apesar da preguiça. Há que escrever a Hx mesmo quando a vontade é nula, quando o interesse já morreu. Há que ler. Ler muito. Lembrar as palavras, os autores, o sublime, a arte e o sonho. Há que voltar a emocionar o peito. Há que doer ouvir a Hyper Chondriac Music, há que ficar até às 2h a escrever o que os dedos quiserem jorrar. Quando chegar o seu tempo. Há que viver. Há que acreditar.
Ando há quase dois anos nisto. A desculpar-me aqui pela minha fraqueza de espírito. Preciso de voltar a mim. De me admirar. Sinto que é isso que mais falta me faz, sentir que tenho valor, que não sou vulgar. Parece que, afinal, a estima própria não era assim tão pouca...
1 comentário:
"Breve sumário: um coelho branco é retirado de uma cartola vazia. (...) Na extremidade dos pêlos finos nascem todas as crianças humanas. Por isso, podem surpreender-se com a inacreditável arte da magia. Mas à medida que envelhecem, deslizam cada vez mais para o fundo da pelagem do coelho. E permanecem ali. Lá em baixo estão tão confortáveis que nunca mais ousam trepar novamente pelos pêlos finos. (...) Alguns deles perdem-se pelo caminho, mas outros agarram-se bem ao pêlo do coelho e chamam os homens que, bem acomodados em baixo, na pele do coelho, comem e bebem tranquilamente."
O Mundo de Sofia - Jostein Gaarder
PS: Os livros de filosofia foram desarrumados.
Enviar um comentário