sábado, dezembro 20, 2003

Deixei para trás o barulho, as gargalhadas, os jogos... Deixei para trás aquela festa onde está tanta gente junta mas sozinha. E eu não quero continuar sozinha a fingir que sorrio. Saí e deixei para trás os cínicos.
Sinto a maresia presa dentro de mim. De olhos fechados, sinto o mundo à minha volta, indiferente. Mas é tão agradável, puder viver este momento.
Oiço os teus silenciosos passos desenhando-se na minha direcção. Seguiste-me. Então, também te sentiste só naquela multidão de festa? Ou simplesmente me olhavas à espera de me veres? Deixa, não me respondas. O importante é que neste momento caminhas na minha direcção e eu não preciso de olhar para trás para saber que és tu e que não me magoarás.
A praia está vazia... O sol está a pôr-se, já ninguém quer apreciar o mar a estas horas... Frio, dizem. Fools... Quando a praia é mais bela é ao fim do dia... O sol tinge as nuvens de um vermelho doce, uns laranjas, uns amarelos e, no topo das nuvens, um branco intenso e belo... Tenho tanta pena que já tão pouca gente levante o queixo e admire o céu. Ele chove sorrisos, se ao menos alguém olhar para ele...
Estás perto, já sinto o teu calor. Páras atrás de mim. E como eu, admiras o horizonte. As tuas mãos, vagarosamente, pousam nos meus ombros e escorregam pelos braços. A brisa da tua respiração dança com alguns dos meus cabelos. Encostas os teus labios à minha cabeça e beijas-me aí. O teu sorriso transmite-se e sorrio eu também.
Lentamente, sentamo-nos na areia que afaga os nossos pés já descalsos. Encosto-me a ti, ao teu corpo que me protege. Aconchegas o teu queixo ao meu ombro, ligas os teus lábios ao meu ouvido caso me queiras sussurar algo (não precisas, percebo o teu silêncio, mas sabe sempre bem umas palavras a acariciar-nos a orelha pequena...). Os nossos braços estão unidos, ombro com ombro, cotovelo com cotovelo, antebraço com antebraço, pulso com pulso, mão com mão, dedos com dedos. Abraçados. Somos um só. Olhando o horizonte, apreciando o espectáculo que tanto é o mais belo como o mais barato, basta viveres para o poderes ver. O pôr-do-sol sauda-nos. Benvindos à noite. A Noite. A Nossa Noite.

(to be continued)

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