quinta-feira, dezembro 25, 2008

Quero escrever-nos. Quero escrever os nossos pés enrolados nas meias quentes, o teu sorriso a nascer na minha pele, o teu brilho quando as persianas se espreguiçam. Não me esqueço do teu braço tão bem encaminhado para o meu pescoço quando o sono se surpreende com a minha presença. Agradeces-me, entre o sonho e novo velho dia, este começo de luz. Sorrio e sou feliz apenas porque ...

És feliz.

sábado, dezembro 13, 2008

Saudades minhas. Será que a minha mãe também já desistiu de me vir visitar por aqui?

Ela tinha razão. Eu tinha 16 anos na altura e aconcheguei muito bem as suas palavras em mim e nos meus sonhos. Ela empurrou-me mais um pouco para o meu brinquedo favorito, a minha paixão verdadeira. Tu tens algo mais.
E tenho, tenho a vontade e as palavras cá dentro. Não posso deixar que a desistência vença, que a preguiça e o conformismo me roubem aquilo que sempre me deu alento nos dias negros. E os dias têm escurecido este Inverno, faz-me bem voltar a quem sou. Eu sou isto. Agora um pouco despenteada, mas isto.
Escreve, Laura, escreve. Não te percas. Não és uma qualquer. És mais do que o que vês agora. Tens algo atrás da bata branca de bolso recheado com o caderno da AE e a caneta que já se cansa de escrever o mesmo. A caneta merece escrever outras coisas. Escreve-te.
Mas ela tinha razão. Tinha 16 anos e ainda era pouco. Escreve-se a vida e a minha era curta. Não sei mentir, infelizmente, não sei ser quem não sou, não sei escrever o que não conheço. Não quero ser falsa, não sei ser (FML-PVT: como é que vou desenrascar o trabalho de campo?...) . Não escreverei as palavras de um coreógrafo, de um polícia ou um velho agricultor. Não sei distinguir as carnes nem os vegetais. Não tenho vocabulário fora do meu pequeno mundo. Vou acabar por me repetir.
Tenho coisas apenas minhas que não posso escrever. Não as vou partilhar. Queria, mas não posso. Infelizmente é o que me tem ocupado a cabeça nestes tempos e, por isso, recuso-me a escrever nestes dias. Mas eu vou dar-lhe a volta, arranjar forma de escrever de outra maneira, de me libertar da inibição e voltar a mim.
E ao blog.
Que tanta gente já deixou de visitar regularmente para ver se tem novidades.
E de me pedir para escrever.
Acorda.

Já tinha saudades de ler. Parece-me que foi essa ausência que me afastou das minhas próprias palavras. Estou de regresso, portanto. Veremos.

sábado, outubro 18, 2008

Como se escreve?
Tenta.
Liberta-te e compromete-te.
Vive e não morras.
Não comentes.
Passa por mim e olha para os teus sapatos. Os meus não condizem.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Há algo que nos une que não se explica. Há uma paz em mim que não se entende.

Eu era poetisa. Escrevia poemas e prosa que, por vezes, me satisfaziam. Acreditava num futuro honesto na escrita. Agora sinto-me oca. Sempre que tento escrever, que já é raro, sinto a minha cabeça cheia. Como num elevador cheio de gente, onde tentamos chegar ao botão mas não dá, é impossível mover-nos. Eu tento, mas já sei que não vale a pena. Fico cansada antes de o estar.
Desiludo-me por desiludir os outros.

E parabéns ao blog, 5 anos e um mês...

quarta-feira, julho 30, 2008

Chegou Julho e ela acordou. Espera não voltar a adormecer tão cedo, tinha saudades dos olhos abertos e das possibilidades da consciência.
Adormecera por altura do Outono. Uma metáfora complexa e incompreensível serviria para explicar o que acontecera, mas era uma pessoa simples e incapaz de a construir. Ficaria pelas palavras reais esculpidas em si. Mais ninguém as veria e não importava. Adormecera embalada nelas.
O tempo correu e tornou-se denso e arrastado. Não lhe sobrara tempo para despertar, para olhar de novo para fora e vê-los, os outros, os seus, rascunhos. Não tinha tempo para se recordar sequer da sua liberdade criativa e espontânea. Adormecera de si.
Chegou Julho e cansou-se de dormir. O peso tornara-se já demasiado incomodativo para não o querer deixar e recordara-se, vagamente, do que fora e do que perdera. Não iria deixar que isso se prolongasse. Acordou em Julho.

Sim, eu sei que ainda se encontra um pouco atordoada e longe do que fora antes do longo sono, mas ela vai espreguiçar-se, lavar a cara com água e dançar ao som da música alegre que a aparelhagem lhe ceder e vai voltar em condições. Ela quer, ela luta. Ela conseguirá. Acreditem.

Energias positivas para o Universo. Simples e eficaz.

sexta-feira, junho 27, 2008

Estás quase a chegar e eu ainda não me arrumei. Quero a pressa que não me consigo impor, mesmo quando ma pedes, quando me torces os lábios e repreendes a minha passividade. Tento moldar-me a ti, a cada palavra que me dás, como um gesto de dedos no barro escorregadio, para o qual é preciso paciência, dedicação e sempre muito carinho. E eu aconchego-me onde dizes que fico melhor, repito e volto a tentar sempre que me fixas dessa forma.






[Queria tanto voltar a escrever...]

quinta-feira, maio 01, 2008

"Não me olhes com esses olhos", pediste-me de novo, desta vez pela voz de outra pessoa. Sorris com o mesmo jeito de sempre nestas alturas e deixas-me na dúvida. Não sei que olhos tenho e o que te perturba tanto neles. Sinto-os transparentes para ti, como os quis, a segredarem-te tudo o que não te sei dizer em palavras porque não as há suficientes. Não que seja muito, é apenas um momento, um instante, é este detalhe suave que demoraste a descortinar no meio de tudo o resto, do rio, do riso, das constelações, do chocolate quente e da frescura da noite alentejana. Fui mais prespicaz que tu na altura e observei-te, esperei pela reacção. Veio devagar, sem êxtase antes da confirmação, mas veio. Sorriste, sorri-te, bebeste, bebi-te. "Não me olhes com esses olhos", disseste enquanto gravava a tua expressão. Fugiste deles, como sempre fizeste nestas ocasiões, e deixaste-me sem saber que olhos pôr. Sou feliz contigo, os meus olhos são os teus olhos. Estão assim porque te estão a guardar para si, a recortar o infímo movimento da tua cara, transformada por aquele instante único. Ficas a saber que estou ali e que podes partilhar comigo esse artefacto que encontraste porque eu compreendo-o. Sei guardá-lo no devido lugar, no pedacinho de coração que tenho teu, que me deste ao longo do tempo. É só isso.
Talvez não o esperasses partilhar, talvez o sorriso espontâneo e sincero se sinta demasiado exposto. Não temas que sei guardá-lo para mim. Mais ninguém nos vê. Mas tenho respeito, é teu. Sorrio agora só para mim, olho para a mesa, olho para o céu, faço o que pedes e não te olho com os mesmos olhos. Pronto. Tu já sabes. Já leste. Apesar de tudo, não me parece que deixe de te olhar assim noutras ocasiões. Afinal de contas, até gosto quando me dizes "não me olhes com esses olhos." Já tinha saudades...


[para quem julga que é para si este texto, que saiba que não é a única]

domingo, abril 20, 2008

Quero vivê-lo e não escrevê-lo.

É por isso.

domingo, março 16, 2008

A mão. Aqui, sobre a minha que tem saudades da tua. Agora os olhos no meus. Lê-me de novo.

Continua, sem pensar. Estavas a ir bem, não tenhas medo da música. Isso, deixa o braço viver por si e encontrar o seu caminho no ritmo que quiser. E depois é o outro braço e os pés que, vês?, já batem por si mesmos. Tira essa expressão de medo, não há problema, ninguém te vê nem te julga, só aqui estou eu e só te quero ajudar. Vá, deixa-te levar.
Isso! Assim gosto mais de te ver, a rires-te, com cócegas da música, é bom sinal, estás a deixá-la entrar. Silly walk, para brincarmos um pouco, eu junto-me a ti. Vamos aos passos ridículos, às coreografias de anos passados e videos berrantes que não conseguimos esquecer. O robot, o que quiseres e te lembrares! Vamos passar para as imitações e personificações. Finge o alcoól e o à-vontade consequente, o andar desequilibrado e a liberdade de movimentos e pensamentos. Óptimo! Já te estás a divertir.
E enquanto te libertas, afasto-me devagar, sem me veres porque fechaste os olhos, e vou aplaudir-te em silêncio por teres conseguido. Estou orgulhosa. Dançaste.

sábado, fevereiro 16, 2008

Desafio - 7 Maravilhas

Estava aqui a pensar no tempo que fico sem escrever, na pena que tenho disso e da saudade, quando me lembrei do desafio proposto desde o final de Agosto pelo atlas. É inadmissível o tempo que demoro a responder a este desafio. Algures em Setembro, lembro-me de escrever num papel as 7 maravilhas que queria referenciar, mas não o tenho aqui e não vou esperar mais para o encontrar. Vou recomeçar. Cá vão, então.

1-Conforto Encosto-me ao peito de alguém, sentados algures junto a uma parede e a gente Amiga, de céu azul por cima, de braços cruzados entre nós e um sossego que nos conforta.

2-Êxtase Passa a música na rádio e apanha-me distraída. Sobe-me o amor ao peito, ferve e implode porque o corpo não consegue explodir a emoção que o momento transporta.

3-Acaso E, no momento que te sentes viva e feliz por estares ali, começa a chover delicadamente sobre todos. Levantas o olhar para o céu negro, fechas os olhos e sentes-te deslumbrada com o quão oportuno pode ser o acaso.

4-Futuro De cabeça pendida sobre os termos técnicos e datas temerosas, a capacidade de ver para além desses dias, de planear dias leves e felizes, de sorrir com o que vem, com as possibilidades, permitem que o queixo se eleve ligeiramente e se prossiga mais confiante.

5-Imaginação Um ecrã, uma janela, um dia desfalecido e duas pessoas virtualmente juntas. As palavras criam-lhes um novo espaço, um novo tempo, onde há vestidos brancos, pés descalços, corpos voadores ou árvores para se subirem. Surge um novo dia.

6-Memória Nos tempos mortos de espera, fecham-se os olhos e sorri-se ao recordar os detalhes de algumas tampas de iogurte, de um carrossel improvisado à capella à entrada de casa, de um abraço oportuno à despedida, de uma mensagem espontânea ou apenas de uma nuvem.

7-Eu Tenho uma data de nascimento, uns olhos e mãos e nariz e ouvidos e língua e uma vontade imensa de aprender. Nasci e vivo. Sou Alguém que vou descobrindo e construindo com tudo o que tive direito há vinte anos atrás. Eu Existo. E agora... Carpe Diem.

Segue-se, como mandam as regras, a eleição de dois novos bloggistas para elegerem as suas 7 Maravilhas e escolherem outros 2 maravilhados para manterem a cadeia. Proponho, então, ao Bernardo e a ... que se juntem à iniciativa.


(I'll be back... I must.)

quinta-feira, janeiro 03, 2008

[escrito em Dezembro, desculpem a demora]

(quase uma da manhã, não posso escrever muito… mas cá vai)

Debaixo do pessegueiro. Cá estou, entre os laranjas e amarelos do ar de campo e entre o pólen e dentes de leão que vagueiam neste fim de noite. Estou à espera sem pressa, as cores não vão mudar por agora. Há tempo e há paz e há conforto neste tronco de pessegueiro. Estou só à espera, mas sem ansiedade. Pode não vir, o que quer que seja que eu espero, que não me vou aperceber. É um sítio bonito para estar e eu sorrio porque cheguei aqui e me sentei por baixo do pessegueiro.
E é isto. É um passeio pela madrugada das ruas que já bocejam. É arriscar pela rua da esquerda porque nos lançou o desafio. É sentar no banco do jardim e ver o céu limpo de farrapos. O amor verdadeiro surge assim, numa guitarra amadora e no gato que te espreita no estacionamento do hospital. E eu avanço sorridente porque o vi quando mais ninguém estava a olhar.
E vou esperar junto do pessegueiro porque é lá que vai ter o que espero. Não há mais restaurantes ou pequenas salinhas preenchidas com páginas de letras coloridas e imagens produzidas para esperarmos sós. Não há este amor nos locais intermediários, no intervalo do que se julga viver. Terminaram os tempos mortos. Eu espero aqui num tempo vivo, num sorriso dinâmico. Não evitaram sucumbir as músicas de elevador para nos distrair do fundo oco onde nos arriscamos. Ficaram estes sons, os autênticos, os que nos fazem companhia na espera porque esperamos no sítio certo, onde já existiam e se alastravam. Não há cá fingimentos.
Podes vir que eu posso estar à tua espera para me vires buscar. Sabes onde te esperam? A sombra do pessegueiro é isto. Gostava que estivesses ao meu lado para me confirmares isto. Debaixo do pessegueiro escrevo o amor verdadeiro. O baloiçar com uma musica sussurrada. O olhar seguro e cruzado por entre a luz quente que as cortinas novas trouxeram. O rebolar na areia até à agua e parar para ver uma gaivota cruzar o teu azul favorito. A mão cúmplice que se junta à tua. O olho emocionado e a surpresa completamente inesperada que te obriga a encostares-te à mesa por estares a tremer. A voz que, por alguma razão misteriosa, ressoa em ti e te suaviza. O amor verdadeiro, enfim, este laranja à minha volta que parece feliz por fazer parte desta conversa enquanto espero.
E eu espero aqui por ti. Ia daqui para uma sala de cadeiras fundas e ecrã cinzento ver a projecção correr no pó sobre a minha cabeça, e ouvir a máquina tossir, receber de braços abertos o que me oferece com trabalho e satisfação. Queres vir, certo? Vai saber bem.
Fico por aqui neste escrito que a espera pode ser longa ou curta e há que aproveitá-la. O amor verdadeiro é isto, sabes?, é Ser. E eu sou debaixo deste pessegueiro.
Ai… true love is a trip to Chinatown. Who knows?
Estou aqui a sorrir-me.