domingo, julho 02, 2006
Surgiste de novo. Já te julgava enterrado, mas o inconsciente prega-nos partidas. Estavamos duas, segurava-lhe a mão para que não tombasse, protegia-a. Mas deixou de precisar de mim no momento em que ele chegou. Viu-o, deixou de me ver, deixou-me de mãos no ar, suspensas pela súbita falta da mão que cuidavam. Senti-me triste pelo seu abandono indiferente. Mas antes que tombassem agora as minhas mãos, que cairiam, de novo afastadas, junto ao resto do meu corpo seco, tu surgiste-me, sorridente, e a tua mão larga preencheu o espaço deixado pela outra. Seguravamo-nos os dois. Não disseste nada, olhavas-me, sorrias e voltavas a ser que um dia foste para mim. Não mais que um amigo, não menos que um encanto. O eterno mistério do teu olhar. As mãos eram as mesmas. Tão grandes e tão doces, escondendo as minhas que gostam de as explorar. Uma dança de mimos inocentes e sem futuro. Estavas comigo naquele instante e não estarias no seguinte. Eras aquele momento, eu sabia disso. Trouxe-te pelo novelo de mãos que tinhamos criado até um sítio mais recatado onde pudessemos terminar o instante. E como a solidão é densa e a inocência frágil, quis mais que mãos. Quis braços, quis peito, quis calor, quis esconder-me em ti, no ninho que criarias à minha volta. Joguei-me no teu abraço sem medir profundidades. Quis-te perto, fechei os olhos, segui-me pelo teu odor que não esqueço. Quis demais, não tomei cuidado, fui bruta e não te cheguei a sentir. Antes das minhas mãos te rasgarem as costas de medo, já tu tinhas desaparecido. O instante tinha terminado. Assim como tu e eu.
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