segunda-feira, agosto 23, 2004

Coffee and Cigarettes



Fui ontem ao cinema ver o filme "Coffee and Cigarettes". Sinceramente, esperava mais. Esperava conversas mais interessantes, mais movimento, mais interacção entre as supostas personagens.
É um filme diferente, sim, e eu até gosto de filmes diferentes. Vários sketches com diferentes personalidades como Iggy Pop, os White Stripes ou Bill Murray (só para citar alguns, que, por acaso, eram quase os únicos que eu conhecia...), sentadas a uma mesa de café, fumando cigarros, bebendo o seu café, e, por vezes, conversando. Filme a preto e branco. Alguns desses sketches podem fazer alguém adormecer. Mas, para os mais atentos e menos sonolentos, são capazes de reflectir coisas bem comuns em encontros de cafés.
Até dois grandes amigos podem estar juntos num café e perderem a conversa. Aí, ou se refugiam na chávena de café, bebendo e justificando o seu silêncio assim, ou procuram com o olhar algo bem longe da direcção onde se encontra a sua companhia. Podem também fumar, olhar para baixo ou mesmo comentar algo completamente desinteressante. Como o café que estão a beber. E, se o caso for mesmo grave, olham para o relógio, sem repararem nas horas, e dizem que têm de ir embora. O curioso, nesta situação, é a resposta "Tão cedo?!" da parte do outro. Ele bem sabe que não estão a fazer nada, estão simplesmente sentados num café sem terem nada para dizer um ao outro. E estes silêncios podem ser tortuosos. Mas um "Já?!" fica sempre bem.
Houve uma vez que estava num café com uma amiga. E, por momentos, ficámos as duas caladas. Mas não fomos só nós. O café todo estava em silêncio. Não havia música, não havia conversas, não havia qualquer ruído. E este silêncio tão intenso perturbou-me tanto, deu-me uma tontura tal, que tive de falar, qualquer coisa tinha de dizer (se bem me lembro, foi até uma coisa que já tinha dito na conversa anterior) para não sentir a minha cabeça às voltas. Foi muito estranho.
Li algures que uma amizade é quando duas pessoas estam juntas em silêncio e não se sentem constrangidas. Gostava de conseguir partilhar silêncios. Mas é dificil para mim.
O filme tem várias situações em cafés. Agora, que penso melhor no filme, até começo a gostar mais dele. Apesar de se basear sempre em encontros em cafés, tem sempre algo diferente entre eles. É curioso como nos apercebemos da insignificância das conversas de café deste filme e, no intervalo, até as nossas conversas nos parecem futeis. Como se estivessemos no filme, mas compreendessemos de outra forma aquele momento. Como se soubessemos que estamos a conversar para não nos sentirmos constragidos num silêncio quebrável.
Penso que já me estou a confundir neste texto. Chega por agora. Se forem ver o filme, tenham atenção a esses promenores, às reacções das personagens (que representam elas próprias) ao longo do tempo. Talvez da próxima vez que formos a um café, o momento nos saiba um pouco diferente.

"Tudo bem?...A sério?... Tens a certeza que está tudo bem contigo?... Não se passa nada?...então,hmm...não tens mesmo nada para desabafar?..."

1 comentário:

LeeJaxsam disse...

Fizeste-me reformular as teorias que tinha acerca do filme e da conversa de café em geral.

Cheers =)